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Artigos

  • O neopopulismo

    Em 1988, eu era presidente da República e Michel Rocard, primeiro-ministro de Mitterrand. Dele recebi com generosa dedicatória um livro, 'Le Cur à l'Ouvrage', que podemos traduzir como 'amor a uma causa'. Tratava justamente de um tema que já àquele tempo aflorava: a morte da democracia representativa, com o enfraquecimento das instituições intermediárias entre o povo e a constituição do governo democrático. Sustentava ele que a tecnologia transformara a mídia em espaço público e passara a exercer o poder que tinha sido do Parlamento. A mídia, pouco a pouco, ocupara o lugar dos partidos políticos, definidos como grupos de pressão que não desejam influenciar o governo, e sim exercê-lo.

  • Pesquisas que falam

    É de autor maldito, o ditador Franco, a afirmação de que, como fazia pesquisa, sabia que o povo estava a seu lado e não ia gastar dinheiro em fazer eleição. Ele identificou prematuramente, mas de modo equivocado e maléfico, um dos instrumentos que mais marcam as democracias modernas: as pesquisas eleitorais. Quem está no governo e lê os resultados -aprova, desaprova, bom, ruim e péssimo - sente calafrios.

  • A agonia do JB

    O Jornal do Brasil nasceu em 1891, fundado por Rodolfo Dantas, filho do Conselheiro Dantas, lendária figura do Império, para combater a República. Eram os viúvos da Monarquia, como dizia Nabuco, que formavam sua equipe de enfrentamento.

  • Que cargo...

    Depois que a evolução política da humanidade criou o presidencialismo como uma das mais altas conquistas da democracia, a eleição presidencial passou a ser o mais importante evento do exercício democrático. O voto é a síntese de toda construção que se processa no sistema político. Uma eleição presidencial é uma soma de ambições, que vão das mais legítimas até à do poder partidário, que se resume no direito de proporcionar mandos menores.

  • Guerra e sigilo

    Clausewitz, o maior filósofo da guerra, afirmou ser ela uma continuação da política por outros meios. No Brasil Colônia (séc. 16 e 17), no enfrentamento com os índios, até os padres falavam em guerra justa, destinada a salvar as almas dos indígenas do diabo. Anchieta foi um encabulado adepto dessa linha.

  • Um livrão no Planalto

    Há três dias a Fundação Joaquim Nabuco lançou, no Palácio do Planalto, um livro que se destina a ser raro e fazer escola: dois volumes de entrevistas com os chefes de comunicação da Presidência da República, desde JK a Lula. É, no fundo, a primeira publicação sobre os segredos do poder presidencial, como se tomam decisões, e os bastidores de como elas chegam ao público. Foi uma inovadora iniciativa do ex-porta-voz André Singer com fotos de Orlando Brito. As entrevistas são excelentes e revelam a tensão permanente entre o governo e os comunicadores, jornalistas em síntese. 

  • Prato frio

    O Prêmio Nobel de Literatura sempre foi mais polêmico pelos autores que não o receberam do que pelos que o receberam -fora os casos dos que o recusaram, Pasternak, por imposição dos soviéticos, e Sartre, para marcar uma posição anticapitalista. Assim, ficam de fora de sua fileira muitos grandes nomes: Kafka, Proust, Joyce, Valéry, Ibsen, mais perto de nós, Onetti e Cortázar, e, em nossa casa, Drummond e Jorge Amado.

  • Tempo presente

    Estou, ultimamente, certo de que um fenômeno está surgindo no mundo atual: a compressão do tempo. Ele está cada vez mais chato e achatado. Parece que a cada dia fica mais curto.

  • O bicho do Oriente

    Não sei por que associação de ideias, ao olhar e meditar sobre o imbróglio em que se meteram os Estados Unidos nas guerras do Oriente Médio, me veio à cabeça o "Manual de Zoologia Fantástica", de Jorge Luis Borges, livro em que repassa uma visão poética na construção dos animais imaginados, mistura de todos os que vivem com os que foram criados pela mitologia. Ele os compara ao que pensa um menino quando pela primeira vez freqüenta um zoológico e vê águias, girafas, bisões. Tudo aquilo tem uma aparência de fantástico e de misterioso.

  • Um poeta esquecido

    As editoras brasileiras estão todas cooptadas pela força da globalização. Nossos escritores estão esquecidos e os enlatados ocuparam seus lugares. Nas listas de livros mais vendidos é raro encontrar um autor brasileiro. Eu sempre dizia que a juventude não conhecia José Lins do Rego. Há muitos anos não era editado. Felizmente, aproveitando seu centenário, a José Olympio acaba de editar sua obra.

  • Língua e ferrovia

    Quando, em 1988, visitei Angola e conversei bastante com o presidente José Eduardo dos Santos, a guerra civil estava num dos seus piores momentos. Falamos, sobretudo, sobre o modelo atrasado e retrógrado da administração portuguesa. O presidente angolano pensava em fortificar e desenvolver as línguas tribais com o objetivo de extirpar o português. Fi-lo ver que a nossa experiência fora diferente. Aqui o português matou os dialetos, sobrepôs-se ao nheengatu, a língua geral, e serviu para consolidar a unidade nacional. Assim, dizia eu ao presidente angolano, se os portugueses pouco deixaram em Angola, deixaram a língua, que a nova nação deveria utilizar para tirar todos os proveitos políticos, a unidade nacional e como instrumento para a educação e inserção no mundo com seus 400 milhões de falantes de português.

  • A visita de Obama

    Os oito anos de governo do presidente Lula marcaram um novo tempo na História do Brasil. Ao feito de um operário ter atingido a Presidência da República, finalizando um processo em que todas as classes tiveram a oportunidade de dirigir o país. Lula somou o grande sucesso econômico e social de seu governo. Este sucesso, por sua vez, impulsionado por sua capacidade de diálogo e habilidade de negociação, levou o Brasil a mn novo protagonismo no cenário político internacional.

  • A vez da África

    Com o término da 2ª Guerra Mundial, o mundo passou por uma fase de grandes transformações, das maiores da História, com a descolonização da África. Começou com a Líbia e o Egito e foi até à década de 70, com as colônias portuguesas. Mas os grupos de libertação viraram ditaduras. De democracia, nem falar. Agora as coisas começam a mudar.

  • A África 2

    Na semana passada dividi com meus leitores uma mediação sobre a África, esse coninente tão sofredor, onde o homem nasceu e transformou-se, na expressão de Hobbes, no seu próprio lobo.