Leio num jornal europeu que a crise econômica que varre o mundo, provocando a queda da atividade industrial, gerando desemprego e afetando todos os setores do cotidiano dos cidadãos, também está invadindo outras áreas, impensáveis num mundo que não fosse dominado pela sociedade da comunicação.
O jornal publica uma especulação acadêmica que examina o tema "Sexo em tempos de crise". Discute se há alterações no comportamento sexual das pessoas que perderam o emprego, ou estão para perdê-lo, das que viram suas ações na Bolsa caírem e das que tiveram diminuição de vendas ou do poder de compra.
Esses acadêmicos concluem que o ambiente psicológico de insegurança que passou a atacar as pessoas, em meio a dúvidas se chegamos ao fundo do poço, se estamos ainda em queda, quando virá a recuperação e de que modo, prejudica a libido, baixa o nível de testosterona nos homens, provoca ansiedade e frigidez nas mulheres, de tal modo que a redução da frequência sexual passa a ser um dos componentes da crise.
Não será surpresa se em breve lançarem um novo índice de sexo como indicador da saúde econômica, no lugar do PIB.
Mas outros vão menos para motivos psicológicos e metem a obesidade entre os vilões da baixa em que se encontra a atração entre homens e mulheres.
Na China, a coisa é mais preta: só se pode casar depois dos 27 anos, e a limitação de uma criança por casal fez com que o único filho fosse o alvo de todos os afetos paternos e maternos. A primeira providência é enchê-lo de comida, levando-o a engordar. Em breve, antes de chegar à puberdade, o filho já estará pilãozinho.
Nas sociedades ocidentais, os hambúrgueres, as massas e o diabo que se come de gordura e guloseimas fazem com que todos consigam logo uma boa barriga e uma parte posterior avantajada. Não é sem motivo que todo dia saem métodos e mais métodos de emagrecimento e que o efeito sanfona domina a quase totalidade da população.
O estudo mostra que, em momentos de crise, isso também é um somatório que atinge os indicadores de frequência sexual. Assim, quando a crise passar, voltarão os índices da felicidade humana na arte do cortejar e juntar-se.
Aqui, no Brasil, não vejo como um estudo desses seja sério. Afinal, os brasileiros resistem pelo sangue tropical a esses efeitos, e não nos atemorizam crises, tudo marolinha, ainda mais com a nossa melhor situação econômica.
O que pode nos levar a essa hipótese é a lei do assédio sexual, que inibe a turma mais afoita, no medo da cana.
Folha de S. Paulo, 22/5/2009