Velhos coronéis, raposas repaginadas e algumas poucas novidades no universo partidário.
Ao contrário do falecido ACM, o presidente do Senado guarda sua truculência para o Maranhão natal.
Pode ser adquirido em duas versões. Em Brasília, é homem cordial. Seus discursos no Congresso roçam uma modernidade digna dos homens públicos mais ciosos. Seus escritos o levaram à Academia Brasileira de Letras. Com elevado senso de oportunidade, pulou da ditadura à abertura sem apear da garupa do poder. O acaso lhe sorriu (ou tripudiou do Brasil). Um dos mais ferrenhos opositores da campanha das Diretas Já tornou-se o primeiro presidente civil após a ditadura. Eleitoralmente rejeitado no Maranhão natal, foi obrigado a candidatar-se senador pelo Amapá. Desde a década de 90, ocupou por três vezes a presidência do Congresso. Está lá de novo, sob as bênçãos de Lula, é uma das estrelas do remake do velho Centrão (é dando que se recebe). O Parlamento dirigido por Sarney é um ente microscópico, afundado nos próprios escândalos, subjulgados ao Executivo e acossado pelo Judiciário. Mas Sarney diz não ter culpa. Como não é de sua responsabilidade o atraso medieval do Maranhão. A família Sarney domina aquele pedaço de terra abandonado por Deus ao estilo faroeste: controla a mídia, intermedeia os negócios, amedronta os adversários. É o mais longevo coronel da política brasileira.
Revista Carta Capital, 24/5/2009