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Artigos

  • A grande tarefa dos democratas será refazer o Brasil

    O Globo, em 06/02/2022

    Antonioni já era um grande mito do cinema, quando o conheci em Roma. Depois de alguns encontros casuais acabei convidado a ir à sua casa, jogar conversa fora. Lá, achei que conheceria Monica Vitti, já pelo fim de um casamento que produzira, além de felicidade conjugal, um dos mais extraordinários ciclos do cinema moderno europeu: “Aventura”, “A noite” e “O eclipse”. Depois, Antonioni apareceu pelo Brasil no início dos anos 2000 com uma nova e jovem mulher, e jantou uma noite em minha casa, quando lhe apresentei a Caetano Veloso e mostramos suas canções a ele.

  • A utopia é aqui

    O Globo, em 30/01/2022

    Existem várias maneiras de se falar de um país. Mas são poucos aqueles dos quais podemos falar falando de uma civilização especial, uma civilização original que eles por acaso representam. Nosso país começou a ser assim tratado com o Modernismo, um movimento antes de tudo literário e artístico que marcou o jeito de pensarmos sobre nós mesmos.

  • A suprema felicidade

    O Globo, em 23/01/2022

    Meu amigo ainda está no comando. Pode até estar perdendo o poder, incapaz de trocar seu grito costumeiro de baixo profundo por um tapa na geringonça, de assolar seu adversário com juras desmedidas, falar de amor quando está com raiva e de raiva quando ainda cultiva um certo bem pelo adversário. Pode até gostar de moribundo, como sempre gostou. Sobretudo se está na porta da União enterrando o sonho impossível, a rima impossível com ação, piração ou quem sabe comunhão.

  • O livre canto

    O Globo, em 16/01/2022

    O assunto da semana foi a série documental, realizada por Renato Terra para a televisão, sobre Nara Leão. Conforme nossa disposição, o título do programa já nos provoca uma reflexão indispensável sobre o que fazer de nosso eventual silêncio: “O canto livre de Nara Leão”.

  • O canto livre de Nara Leão

    O Globo, em 09/01/2022

    Renato Terra acaba de lançar, pelo Globoplay, “O canto livre de Nara Leão”, uma série em cinco episódios. É um rico material audiovisual sobre a grande cantora, sem tentar reproduzir seu jeito nos outros personagens. Isabel Diegues, sua filha mais velha, escreveu o texto abaixo sobre o que viu. Acho que a opinião de Isabel é mais importante do que tudo que se puder dizer sobre o canto livre de Nara.

  • Feliz Ano Novo

    O Globo, em 02/01/2022

    Quem acabou de completar mais um ciclo de muito trabalho, resultado de cálculos rigorosos e precisos que não podem falhar, foi a dupla de sempre – nosso planeta, a Terra, e sobretudo nossa linda estrela, o Sol, sem a qual não seríamos ninguém. Se não tivessem feito esse trabalho, por 365 dias ou quase, sem refresco algum, seria um desastre que poderia nos eliminar do cosmos. E, no entanto, somos nós que nos abraçamos (já pode?) e comemoramos com festa o feito, como se fôssemos os únicos responsáveis por ele.

  • O jardim dos homens

    O Globo, em 26/12/2021

    Nos jardins de Deus nascem e cabem todas as flores. Menos as que Jair Bolsonaro e seus cupinchas não querem. E como eles ainda não sabem com certeza o que não querem, tentam nos fazer prisioneiros de seus delírios, como esse agora das vacinas pediátricas. Meninos e meninas de 5 a 11 anos não poderão se proteger do vírus, devem se tornar suas vítimas compulsórias. Porque, ninguém sabe.

  • Rio banhando praia

    O Globo, em 19/12/2021

    Entre tantas lições que nos deixou, Glauber Rocha nos ensinou que o cinema, em nenhum momento ou lugar do mundo, se fez ou se fará em paz. Ele também podia nos ter dito o mesmo a propósito da criação artística de um modo geral. A arte é um mundo em que se cria para além do concreto, como uma reação contra o que se passa no mundo real. Quando o futuro lhe dá razão, o artista se torna um deus criador de um mundo que nunca existiu antes dele. Embora não seja, entre nós o único, Glauber é um destes, no pensamento e na ação criadora.

  • Glauber Rocha, bárbaro e barroco - parte 2

    O Globo, em 12/12/2021

    Nos dois livros sobre os quais escrevi aqui na semana passada, “Crítica Esparsa” e “O Nascimento dos Deuses”, publicados pela Fundação Clóvis Salgado, do governo de Minas Gerais, com edição organizada por Mateus Araújo, Glauber Rocha, nosso grande cineasta, nos fala sobre o mistério da dor na criação artística. Podemos ouvi-lo como numa montagem de cinema, com as citações do que diz.

    Glauber diz que “Machado de Assis é decadente”, porque “Dom Casmurro, Bentinho e Rubião sofrem e se acabam desesperados”. Fala de uma paixão desbundada desde que viu, em Paris, “Une femme est une femme” e escreveu um artigo com o título de “A mulher de Godard é uma mulher”. No Pasquim, protesta contra filmes “que debocham do povo”. Depois, escreve uma carta para Celso Amorim em que rompe com todos os cineastas brasileiros. Mas diz que o Cinema Novo não vai acabar nunca, porque é a favor do povo. E anuncia um filme que pretende fazer, sobre a viagem que não aconteceu de Kennedy à América do Sul.

  • Glauber Rocha, bárbaro e barroco

    O Globo, em 05/12/2021

    Glauber Rocha não foi apenas um de nossos maiores artistas, pensadores e cineastas nos anos 1960 e 1970, como também um dos mais competentes revolucionários do cinema mundial. Se seus filmes e textos começaram por surpreender e encantar os brasileiros, sobretudo os mais jovens, terminaram por contribuir de maneira decisiva na grande transformação que o cinema conheceu em seu tempo.

    Glauber foi uma fonte de energia indispensável naquela revolução cultural. Documentos e declarações, assim como os próprios filmes, por exemplo, de Martin Scorsese, Bernardo Bertolucci ou Jean-Marie Straub, cineastas tão diferentes entre si, trabalhando como tantos outros em tão diferentes níveis, dão testemunho do significado generoso do que Glauber filmou e disse. Todos eles se tornaram devedores do que leram, ouviram e viram desse gênio brasileiro.

  • Glauber Rocha, bárbaro e barroco

    O Globo, em 05/12/2021

    Glauber Rocha não foi apenas um de nossos maiores artistas, pensadores e cineastas nos anos 1960 e 1970, como também um dos mais competentes revolucionários do cinema mundial. Se seus filmes e textos começaram por surpreender e encantar os brasileiros, sobretudo os mais jovens, terminaram por contribuir de maneira decisiva na grande transformação que o cinema conheceu em seu tempo.

    Glauber foi uma fonte de energia indispensável naquela revolução cultural. Documentos e declarações, assim como os próprios filmes, por exemplo, de Martin Scorsese, Bernardo Bertolucci ou Jean-Marie Straub, cineastas tão diferentes entre si, trabalhando como tantos outros em tão diferentes níveis, dão testemunho do significado generoso do que Glauber filmou e disse. Todos eles se tornaram devedores do que leram, ouviram e viram desse gênio brasileiro.

  • Respeito à democracia

    O Globo, em 14/11/2021

    Me encantei com a oradora indígena que representou o Brasil extraoficialmente na reunião de Glasgow sobre o meio ambiente. Os jornais informaram que ela é bissexual, fã de funk e estudante de advocacia. Mas o que mais me interessou em Alice Pataxó foi o que ela disse diante dos espertos participantes da COP26: as pessoas de poder no Brasil, inclusive o presidente da República, não se interessam pela luta contra o coronavírus, não podemos contar com nossas autoridades, elas estão em outra. Num inglês de aluna recente do IBEU, Alice fez questão de afirmar, com a força de sua juventude, que veio a Glasgow para desmentir as mentiras de Bolsonaro.

  • Nunca fomos uma nação

    O Globo, em 07/11/2021

    O severo Gilberto Braga morreu no mesmo dia em que comemorávamos o aniversário de Milton Nascimento, essa flor da canção e da esperança. Assim como nos deixava, na mesma semana, o doce e preciso Nelson Freire, “o segredo mais bem guardado do piano”, como diziam dele os críticos franceses. Gilberto e Nelson se foram quando recebíamos encantados o novo disco de Caetano Veloso, “Meu coco”; e o livro novo, agora de contos, de Chico Buarque, “Anos de chumbo”.

  • Pátria amada

    O Globo, em 24/10/2021

    Quem quiser que não se importe, ninguém é obrigado. Mas já estamos a menos de um ano das eleições de 2022, a campanha já começou em uma porção de sentidos. E quem a inaugurou, desde que assumiu, foi o próprio presidente, que não pensa e nunca pensou em outra coisa. O que você acha que ele anda fazendo, às custas de dinheiro público, a semana inteira a visitar cidadezinhas do interior, sobretudo no Nordeste? Há sempre o pretexto de uma inauguração qualquer, mas no fundo o discurso é sobre o que ele já fez e quer continuar a fazer pelo Brasil. Como esse Auxílio aos que necessitam, cruel mentira na economia do país. E nós, fazemos o quê?

  • O cinema como espelho do povo de uma nação

    O Globo, em 17/10/2021

    Redes sociais: Paulo Offshore Guedes mandou pros destinos competentes um plano do governo de acabar com todo e qualquer tipo de investimento do Estado no cinema. Acabou-se Lei do Audiovisual, Lei Rouanet, Fundo Setorial do Audiovisual (FSA) e mesmo a Ancine, que já não funciona pro cinema brasileiro, vai acabar sendo fechada.