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Artigos

  • O bolso e a Bolsa

    HELMUT SCHMIDT, talvez o homem mais brilhante que eu conheci, em uma reunião em Salzburgo do InterAction Council, conselho mundial de ex-presidentes e chefes de governo, do qual eu participo, fez uma exposição sobre o mercado financeiro, o primeiro setor da economia a globalizar-se. Falou sobre o gigantesco volume de capital que gira nas Bolsas de Valores, dia e noite, comandadas mais pelos computadores com seus programas inteligentes do que pela vontade dos homens e investidores, concluindo que suas ações representam dez vezes mais que a economia real.

  • Carnaval e Vieira

    LUÍS VIANA Filho, o grande biógrafo de Rui, Rio Branco, Eça e Nabuco, disse-me que, ao encontrar-se com o ex-embaixador dos Estados Unidos no Brasil Lincoln Gordon -que se tornou célebre porque seu período coincidiu com a queda do Jango em 1964-, quando já não ocupava mais o posto, este lhe observou que uma coisa o impressionara muito na sua passagem aqui: as escolas de samba. Uma maravilha sem igual no mundo. Não sabia como era possível seu funcionamento. Era a alegria, a beleza, a diversidade de pessoas, uma Torre de Babel que oferecia uma impressão do caos, na chamada concentração. De repente, tudo se transformava. Tocava o apito com a ordem de entrar na avenida e, num movimento perfeito, o conjunto dava um banho em qualquer planejamento, e desfilavam como se tudo fosse milimetricamente orquestrado. A bendita improvisação brasileira, que do caos faz nascer a harmonia e o desfile. Isso explicava o Brasil.

  • Carnaval e Vieira

    Luís Viana Filho, o grande biógrafo de Rui, Rio Branco, Eça e Nabuco, disse-me que, ao encontrar-se com o ex-embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Lincoln Gordon - que se tornou célebre porque seu período coincidiu com a queda do Jango em 1964 -, quando já não ocupava mais o posto, este lhe observou que uma coisa o impressionara muito, na sua passagem aqui: as escolas de samba. Uma maravilha sem igual no mundo. Não sabia como era possível seu funcionamento. Era a alegria, a beleza, a diversidade de pessoas, uma Torre de Babel que oferecia uma impressão do caos, na chamada concentração. De repente, tudo se transformava. Tocava o apito com a ordem de entrar na avenida e, num movimento perfeito, o conjunto dava um banho em qualquer planejamento, e desfilavam como se tudo fosse milimetricamente orquestrado. A bendita improvisação brasileira que do caos faz nascer a harmonia e o desfile. Isso explicava o Brasil.

  • O dilema americano

    Passa o Carnaval e temos de sair do sonho da alegria para a realidade que nos cerca. Com um mundo globalizado, tudo que se passa em qualquer lugar e em qualquer hora está dentro de nossa casa. Já longe estão os tempos das Cartas de Inglaterra do Eça de Queiroz, em que o importante é o que ocorre na esquina.

  • Guga e Obama

    TINHA ME programado para escrever nesta minha "Sexta-feira, Folha" sobre as eleições americanas. Os surpreendentes Estados Unidos, onde, quando as flores murcham, como ocorre com a imagem do governo Bush, nascem, em meio a uma visão sombria, novas fronteiras de idéias, onde se fala em esperança e mudança, um novo tempo Kennedy. Surge um furacão: um candidato negro, filho de muçulmano, de sobrenome Obama e, como se não bastasse, ajunta o nome hebraico de Barack, do profeta Baruc. Para fortalecer a imagem de um país de oportunidades, tem o contraponto de uma mulher brilhante que é Hillary Clinton e de um velho simpático, McCain, que esconde no gingado do falar o conservadorismo republicano. Isso faz anestesiar um pouco o debate sobre o desastre da Guerra do Iraque e a recessão que se aproxima.

  • Cuba sem Fidel

    Fidel Castro, depois de 50 anos no comando de Cuba, anuncia que seu corpo não mais suporta a sua vontade, que seria de ficar no poder até "o desenlace adverso" de que ele fala em sua carta de renúncia. Invocou o nosso glorificado Oscar Niemeyer para dizer que devemos perseverar até o fim.

  • Ingrid e Gloria

    POBRES MULHERES estas -Gloria, Ingrid, Consuelo e Clara-, cujos destinos foram atravessados pela crueldade do terrorismo. Passaram anos na selva, presas entre seus algozes, deixando um rastro de saudades e de amarguras que vão desde a viuvez no exílio aos maridos assassinados, filhos seqüestrados e famílias com o cotidiano das incertezas sobre a vida, o estado de saúde e o tratamento dos guerrilheiros com os seqüestrados. Inserir esses fatos como parte de um estilo normal do jogo político é atribuir valores a um simples exercício do terrorismo. É, no mínimo, uma velada solidariedade com esse modo de tortura.

  • As nuvens se afastam

    O CONFLITO entre guerrilheiros das Farc e forças colombianas em território do Equador volta ao leito sensato da diplomacia, com rescaldos de retórica.

  • Crescer e multiplicar

    DEPOIS de um longo período de jejum, afinal os dados e fatos nos apontam para um outro patamar do desenvolvimento nacional: uma nova fase de crescimento. O anúncio de que a taxa de crescimento no ano de 2007 foi de 5,4% bate com os outros números macroeconômicos, que vão dos níveis de emprego, com milhões de novos trabalhadores, até os altos saldos da balança comercial, os mais altos de nosso calvário econômico.

  • O dia da Paixão

    Neste ano, meu artigo da Semana Santa corresponde aos 400 anos do nascimento do Padre Antonio Vieira, a quem Fernando Pessoa chamou de imperador da língua portuguesa. Vieira sobreviveu quatro séculos e continuará vivo porque não foi somente o pregador, o divulgador da fé, o evangelizador dos índios e o inconformado com todos os tipos de escravidão humana. Foi um humanista e um grande escritor. E, como escritor, vive na eternidade de grande pensador.

  • Avião, tráfego e garoa

    TIVE UM COMPROMISSO de almoço com meu editor em São Paulo para tratar do lançamento de meu próximo livro. Depois, à noite, eu teria que comparecer à formatura das primeiras turmas de administração e direito da Universidade Zumbi dos Palmares, obra do professor José Vicente, a quem a comunidade negra deve um extraordinário serviço.

  • Doutor Subdeó

    Ia escrever sobre esse Aedes aegypti que há séculos persegue o Rio de Janeiro, transmitindo febre amarela e dengue, espalhando o medo e o pânico. Teve um inimigo mortal, Oswaldo Cruz, que trouxe da experiência cubana o método para tornar a capital do Brasil um modelo internacional de saneamento. Depois, olhei o retrato dilacerante de Ingrid Betancourt e, comovido com a sua tragédia, ia juntar-me à indignação mundial contra a crueldade com que está sendo tratada.

  • Saudades do mata-mosquito

    O RIO ERA, no século 19, uma cidade insalubre, sujeita a epidemias que se repetiam com freqüência. Para piorar a situação, o porto recebia marinheiros contaminados, que traziam pestes.

  • Fronteiras sangrentas

    MUITO SE tem censurado o Supremo Tribunal Federal por estar legislando. Na nossa democracia, cabe ao Judiciário ser não somente o fiscalizador dos outros Poderes mas harmonizar os conflitos que possam romper o equilíbrio institucional.

  • Discursos dos nós

    A POSSE DO ministro Gilmar Mendes -um dos maiores, mais respeitados e mais cultos juristas do país- na presidência do STF deu oportunidade para que, através dos discursos tradicionais do presidente da OAB, do procurador da República, de saudação do empossado, fosse oferecido um painel de preocupações institucionais da Justiça e do país.