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Opinião: China, Kourou e as amazonas

 

Vamos imaginar o que foi na idade da pedra lascada o domínio do fogo, ou a descoberta de novas terras, a aventura de navegar contra o vento, entender o funcionamento da natureza, com a terra a girar a uma fantástica velocidade em torno de seu luzeiro maior - como diz a Bíblia - o sol.


E, hoje, avaliemos as conseqüências destes tempos transformados da sociedade de comunicação que entrou instantaneamente, possibilitando a era da globalização em que todos somos atingidos por tudo.


A Revolução Industrial teve maior impacto naqueles anos do fim do século 18 e começo do 19 do que a que assistimos agora, na área de tecnologia. A máquina a vapor, concorrente do homem, na substituição do trabalho braçal, surpreendeu mais do que a TV, o celular, os bancos de dados, a internet. Quando estes chegaram já havia a desconfiança de que nunca pararia a aventura do homem e nos preparamos para isso. Acreditamos que chegaríamos aos limites da natureza. E o seu fim só vai esbarrar no próprio homem. "O homem é o lobo do homem" (Hobbes, De Civi, Plautus, Asinaria - homo homini lupus).


Imagino a cabeça dos 600 frades franciscanos que levaram à Catedral de Notre-Dame os índios do Brasil para serem batizados por Luís XIII. Aqueles seres nus, pobres, ingênuos. Os espanhóis levaram da América ouro e prata. Os franceses somente aquelas pobres almas entregues ao Diabo, para serem convertidas ao cristianismo e salvas para Deus.


Falo estas coisas para avaliar o espanto que ainda nos causam as descobertas. Não as desconhecidas, mas as renovadas, como as da China. A Xangai envolvida na penumbra do ópio e a de hoje, das bolsas derrubando a economia no mundo inteiro.

O Ano Novo chinês é lunar, já o país com 460 milhões de celulares registrou 14 bilhões de mensagens de felicitações, no sistema de torpedos. O mundo fica estreito para tanto afeto.


Tudo caminha. Mudando de um pólo a outro, a base de Kourou vai lançar naves espaciais tripuladas e os russos fazem um acordo com os franceses para operar o Soyuz renovado - o famoso foguete que leva os astronautas russos desde 1967 e o nosso astronauta Marcos Pontes - aqui em nossas barbas.


E Alcântara, melhor localizada do que Kourou, dorme o sono da satisfação de nossa burrice. Recusamos os acordos internacionais e ficamos no reme-reme da xenofobia.


O Brasil tem que entrar nas tecnologias do futuro, senão seremos uma colônia cultural. Ou então, mostrar nossos índios em Notre-Dame e ainda pensar nas lendárias amazonas de um seio só, mulheres guerreiras que só recebiam machos nas noites de lua, banhando-se num lago de ouro.


Jornal do Brasil (RJ) 2/3/2007