Não sei por que tanta celeuma sobre a espontaneidade do nosso presidente em revelar que "todos gostam de sexo" e que as relações com os Estados Unidos esperam o Ponto G. Os que censuram estas franquezas lembrem-se da história do Brasil começando no texto de Pero Vaz de Caminha, a famosa Carta, onde ele descreve as índias nuas e vai logo dizendo que elas "nem fazem caso de encobrir suas vergonhas (…) tão altas e cerradinhas". Nem esconde que todo mundo não queria outra coisa senão ver as maravilhas, que "nós muito bem olhávamos", como confessa.
E a coisa não fica aí só entre os leigos. Eduardo Bueno, ao falar dos primórdios da Bahia de 1500, sustenta o quanto "o estímulo sexual era grande: As nativas circulavam pela cidade peladas e depiladas". E nosso candidato a santo, padre José de Anchieta, notava que "não sabem negar-se a ninguém, mas até elas mesmas cometem e importunam os homens, jogando-se nas redes, porque têm por honra dormir com os cristãos". E o padre Nóbrega - que segundo o poeta cantador paraibano José Limeira, é "Nobréga" - pedia que as mulheres usassem ao menos uma camisa "porque não era honesto entrarem na igreja nuas, quando as ensinamos", isto é, na missa.
Por que, então, essa controvérsia de estranhar que todos gostam de sexo?
E nem se diga que essa linguagem sensual, usada na política, é moda da semana em que Bush aqui esteve. Na China, na mesma semana passada, a revista popular Esquire liberou geral, rompendo a proibição de levar ao público estas coisas, e publicou uma matéria com o título de A perigosa jornada sexual QiQi. Deve ser o ponto asiático milenar que denominam no Ocidente de G.
Eu, pelo menos, desatualizado, procurei saber realmente o que era essa jornada e lembrei-me, não de um chinês, mas de um japonês, um homem extraordinário, grande estadista: Takeo Fukuda, ex-primeiro-ministro do Japão. Estávamos em Xangai em 1993 numa conferência sobre Controle Demográfico e todos os conferencistas falavam na importância da distribuição de condom (camisinha, em inglês). Ele, nos seus 88 anos, perguntou: "O que é isso que resolve a superpopulação, esse tal condom?". Foi uma risada geral.
O mundo é outro. Calculem que, na referida China, uma farmácia foi fechada porque estava, no desejo de reunir o entusiasmo patriota ao preservativo, vendendo camisinhas numa embalagem com o retrato de Mao Tse-tung.
Mas, como tudo tem dois lados, a semana fechou com o papa Bento XVI proibindo: "Nada de camisinha, de divórcio, de amor proibido", nem qualquer ponto. Ponto final.
Jornal do Brasil (RJ) 16/3/2007