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O fantasma da desigualdade

 

A IGUALDADE sempre foi o grande sonho do homem, desde que teve consciência de sua condição humana. Fizeram-se revoluções, escreveram-se tratados, pensadores, poetas e políticos construíram fórmulas e meios de chegarmos a ela. A grande Revolução Francesa de 1789, considerada um marco na história da humanidade, resumiu seus ideais em três palavras chaves e divinas: liberdade, igualdade e fraternidade. Na Declaração da Independência americana, Thomas Jefferson ampliava essas aspirações, dizendo que todos os homens têm direito à "busca da felicidade". Associava-se a felicidade aos anseios do homem.


Chegou-se mesmo a considerar que o século 18 fosse o da liberdade, o 19 da igualdade e o 20 da fraternidade. E qual seria o século da felicidade? Os poetas divagaram muito sobre ela e até mesmo se existe. Hoje, os estudiosos da alma humana buscam em Jung a visão de que todos morremos frustrados, com a mágoa de não termos vivido a vida que devíamos ter vivido. E aí entra a angústia dos erros, dos pecados e até mesmo de ter pecado. Borges falava mesmo que se tivesse que viver de novo não seria tão prudente quanto foi, sempre "usando pára-quedas".


Divagações à parte, leio que estamos num período em que a desigualdade diminui no país e 7 milhões de brasileiros rompem a linha da pobreza. Mas me pre ocupam, não só a desigualdade de pessoas, como as desigualdades espaciais. Estas são as que marcarão o futuro dos países e do mundo. Já 17 países, no balanço alimentar e de modos de sobrevivência, não têm condições de existir e vivem da caridade.


Surge o problema da água como o mais dramático dos tempos que virão. Todos somos água e faltará água para que a vida continue. Onde ela existe não se pode mudar, pois a geografia é a única coisa imexível, como diria certo ministro dos anos 90, embora no mistério que Deus utilizou para fazer o mundo até hoje não nos permite saber o que acontecerá com as mudanças climáticas.


Continuo pensando que, no Brasil, o grande problema ainda é e será o das desigualdades regionais. O Centro-Sul transformou-se num buraco negro, que é um lugar em que a gravidade é tanta que nem a luz escapa de sua atração. e o que acontece com as regiões pobres do Brasil, sugadas pelo Centro-Sul. O único período em que as desigualdades regionais inverteram suas setas foram nos anos 85-90.


Continua a concentração irresistível. Essa semana uma pessoa falou-me das saudades e da beleza de sua cidade em Goiás, mas terminou dizendo-me: "Me corta o coração porque a população está diminuindo, só ficam os velhos". Os novos são atraídos pelo Centro-Sul. O interior vira fantasma e no Norte e no Nordeste é pior.


Jornal do Brasil (RJ) 13/4/2007