Maus tempos aqueles
Hoje o país cheira mal, é verdade, mas porque as vísceras estão expostas e não encobertas pela censura do governo militar
Hoje o país cheira mal, é verdade, mas porque as vísceras estão expostas e não encobertas pela censura do governo militar
Quatro anos depois de afirmar a mim e a Roberto D’Ávila a sua ‘coerência’, Dirceu foi condenado por corrupção ativa e formação de quadrilha.
O vocabulário da política está infiltrado de termos da página policial: ameaças, intimidação, perseguição, temor, pressão. Todo mundo anda assustado.
A alegação é que o chamado sistema de ‘carona paga’ praticaria concorrência desleal. Mas se é isso, por que não equipará-los em direitos e deveres?
Pode-se alegar que a Operação Mãos Limpas, na Itália, demorou três anos e funcionou. O problema é que o brasileiro é mais impaciente, a não ser com novelas.
Dilma nunca teve ilusão em relação às intenções de seu aliado infiel. Eduardo Cunha tem fama de vingativo e implacável com os desafetos
Não basta afirmar ‘Eu não caio’ ou que vai resistir com ‘unhas e dentes’ e que é ‘moleza’ sair dessa, quando a acusação é de falta de condições para governar
Atos repulsivos, que deveriam causar só pavor e indignação, são usados pelo EI para efeito contrário, o da propaganda, e, como tal, recebidos por jovens do mundo
Por mais que se evite entrar nesse clima de baixo astral da cidade, o medo da violência fica evidente pela mudança de hábitos e comportamento. Como os assaltantes não escolhem hora ou lugar para agir, há gente que não quer mais nem ir até a esquina sozinha, como fazia há anos, quando se andava na rua de noite com certa tranquilidade.
Além do resultado de 9 x 0, o julgamento do STF desta semana apresentou outra unanimidade: o voto da relatora Cármen Lúcia, considerado histórico e, como tal, seguido por todos os seus pares. Não chegou a ser surpresa para os que a conhecem e, devido à sensatez, a chamam de “Cármen lúcida”. Primeira a votar, foi também a primeira a usar com todas as letras a palavra “censura” para caracterizar a exigência de autorização prévia para uma biografia. E a censura, como explicou, é proibida pela Constituição Federal, que garante a liberdade de expressão, de pensamento, de criação artística e científica. Admitiu que “há riscos de abusos no dizer e no escrever, mas a vida é uma experiência de riscos”. E para os riscos há a solução de buscar no Judiciário as reparações para os eventuais danos morais. O que a Constituição não permite, ela acrescentou, é que, a pretexto de se preservar a intimidade de alguém, abolir-se o direito à liberdade do outro, principalmente em casos como o das obras biográficas, “que dizem respeito não apenas ao biografado, mas a toda a coletividade”. Entremeando no seu douto parecer o saber jurídico com ensinamentos da vida real, a que está sempre ligada, a vice-presidente do STF lembrou uma ciranda de roda de sua infância (“cala boca já morreu quem manda na minha boca sou eu”) e recorreu a um poético jogo de palavras: “Na vida aprendi que quem por direito não é senhor do seu dizer, não se pode dizer senhor de qualquer direito”.
Tomara que a ministra Cármen Lúcia tenha lido no domingo o artigo de Cacá Diegues, ela, que é a relatora do processo que será julgado hoje no STF defendendo a liberdade de um escritor contar a história de uma personalidade pública — político, artista, jogador de futebol, cientista — sem autorização prévia dele ou de seus familiares, como se faz nas grandes democracias. Não só porque o cineasta é uma das melhores cabeças que pensam o país, como seus argumentos não são em causa própria. Não é biógrafo e, ao que consta, não pretende ser; ao contrário, com sua obra, tem tudo para vir a ser um biografado. Entre outras coisas, ele diz que o direito à privacidade não é um valor absoluto: “A vida privada de todo mundo, do gari na rua ao presidente da República, não é mais importante do que a necessidade que temos de saber melhor em que mundo vivemos. E como vivem aqueles em que confiamos”
Edson Leite Faria, de 33 anos, cujo “ateliê” a céu aberto funciona no Posto 10 da Praia de Ipanema, nunca ouviu falar de Michelangelo, Rodin ou Brancusi, nem mesmo sabe que existe em Washington um concorrido campeonato mundial de esculturas em areia com a participação de verdadeiras obras de arte realistas e até hiperrealistas — castelos, personagens históricos ou anônimos em tamanho natural, prédios, enormes monumentos — que em comum têm a natureza perecível do material com que são construídas. Os que reclamam da “obscenidade” dos nossos artistas de praia, com suas mulheres seminuas, precisavam ver alguns exemplares eróticos dos que concorrem naquele certame. O artista que acabo de descobrir aqui perto de casa é, digamos, um naïf, um primitivo. Seu trabalho é uma singela homenagem à cidade e ao bairro.
A discussão é antiga, mas está de volta agora, depois da série de ataques praticados por jovens assaltantes no Rio. São muitas as questões. Como se explica esse fenômeno em que a violência vem acompanhada de ódio gratuito e requintes de crueldade?
O Brasil não precisava ter dado aos EUA o gostinho de mandar prender o ex-presidente da CBF na Suíça. A iniciativa de moralizar nosso futebol devia ter partido de nós, não deles.
Para falar apenas de educação e cultura. Se os setores já enfrentavam dificuldades, imagina quando se fizerem sentir de fato os efeitos dos cortes anunciados agora para os orçamentos de 2015.