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Uma onda que vai e vem

 

Por mais que se evite entrar nesse clima de baixo astral da cidade, o medo da violência fica evidente pela mudança de hábitos e comportamento. Como os assaltantes não escolhem hora ou lugar para agir, há gente que não quer mais nem ir até a esquina sozinha, como fazia há anos, quando se andava na rua de noite com certa tranquilidade. Faculdades passaram a recomendar que os alunos saiam em grupo, pais estão monitorando por celular filhos adolescentes em festas ou reuniões e, usar bicicleta, só ser for bem velhinha. Há mães que só dormem depois que o filho volta para casa. Embora contrariando as estatísticas, que revelam queda nos homicídios, a insegurança se explica diante da série de crimes sem motivação ou por motivos fúteis ou apenas pelo prazer de matar, como o do senhor de 73 anos, que estava parado no ponto de ônibus ao lado da mulher na Zona Norte do Rio. Esperavam condução para ir a uma clínica fazer exames, quando foram rendidos por dois bandidos em uma moto. Por não acreditarem que a vítima só tivesse R$ 2, os criminosos dispararam várias vezes. Um dos tiros à queima-roupa acertou o idoso no peito.

Quando não usam balas, usam facadas. A faca não é mais um talher para cortar o pão ou a carne, mas um instrumento que lembra tristes episódios. Vai ver que é por isso que sumiu da rua o amolador que passava anunciando sua habilidade. Talvez não queira mais afiar a lâmina de um objeto que agora está sendo usado cada vez mais para matar.

Nosso cotidiano virou uma sucessão de espantos. As conversas são entremeadas de casos que nem sempre chegam à imprensa e de histórias estarrecedoras como a do pitboy, conhecido promotor de confusão, que atacou três jovens numa festa em sua casa. Arrancou parte da orelha de um rapaz e feriu gravemente uma moça de 21 anos, 52 quilos e 1,47m. Ele tem 28 anos e 1,94m, mas não julgou suficiente a desproporção física e lançou mão de algo perfurante para sua tentativa de homicídio qualificado. Ana Carolina foi golpeada, largada no chão ensanguentada e está hospitalizada. José Phillippe Ribeiro de Castro, o agressor, foi para o quarto dormir, onde a polícia o encontrou no dia seguinte e o levou para o Complexo de Gericinó. Resta saber se, desta vez, será punido. A delegada Monique Vidal, encarregada do inquérito, disse: “A cadeia é o lugar dele. Ele não tem condições de conviver em sociedade. É um rapaz de classe alta que gera uma sensação de impunidade nas pessoas”. Apesar disso e de ser reincidente, esse promotor de eventos sangrentos nunca pagou pelos desvios que cometeu antes. Por que será?

 

O Globo, 17/06/2015