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Artigos

  • Frágil lenho

    A palavra "navegar" é a mais perfeita comparação que se possa aplicar ao universo da informática, em especial, ao oceano sem fim da internet. Nem fica bem citar o Pompeu ("navegar é preciso"), que muita gente nem sabe quem foi, achando que a frase é de Fernando Pessoa ou de Caetano Veloso.

  • Somos todos comida

    Depois da notícia de que, ao fim de prolongado debate jurídico, foi negado por um tribunal o habeas corpus impetrado em favor de um chimpanzé enjaulado em solidão no Zoológico de Niterói, vieram ao conhecimento público outras providências judiciais em nome de animais, pelo Brasil afora. Isso está ficando interessante. Antigamente, era fácil dizer que os animais não tinham direito nenhum, pois não são sujeitos de direito, não são pessoas, não podem acionar o poder judiciário, da mesma forma que não têm deveres, nem podem ser interpelados pela justiça. Direitos e deveres são província exclusiva do ser humano e, embora isso não soe bem, um cachorro, por exemplo, não tem o direito de não ser maltratado. O homem é que tem o direito de estabelecer em lei que maltratar um animal é criminoso e de protestar e intervir, quando a lei for descumprida.

  • Prefixos e preposições

    Várias foram as questões de língua que deixaram em dúvida leitores deste jornal. A primeira delas nos foi encaminhada por Marcelo Viana, que deseja saber se a nossa língua possui uma palavra para designar o ‘amante do livro’, como cinéfilo para ‘pessoa que é louca por cinema’.  

  • Clássico

    Os músicos demitidos da Orquestra Sinfônica Brasileira apresentaram-se sábado em concerto que lotou a Escola de Música da UFRJ e que teve a participação de instrumentistas da Petrobras Sinfônica e da orquestra do Teatro Municipal. Tocou-se o Hino Nacional, e Cristina Ortiz, ao piano, conduziu uma emocionante interpretação do Concerto nº4 de Beethoven. O clima era de euforia e preocupação. Houve discursos indignados, que em nenhum momento escorregaram para as ofensas. E assim chegamos a esta situação esdrúxula, em que há uma OSB e uma "OSB do B". Mas a OSB original está agora montada nas bases mais frágeis do mundo, e o pedido dos músicos para que o maestro Minczuk se afaste me parece bem mais próximo da realidade do que os anúncios, de um prodigioso otimismo, publicados pela Fundação OSB. Também não ajuda nada a entrevista do maestro às Páginas Amarelas de "Veja", onde se diz que ele "vence a primeira batalha de uma guerra santa contra a mediocridade e o corporativismo". Fica parecendo uma briga de paulistas com cariocas. Nenhuma batalha foi vencida, e não vejo como se possa (re)construir uma orquestra de costas para a maioria maciça do meio musical brasileiro.

  • O arco-da-velha

    Não me dei ao respeito de assistir as bodas reais em Londres, tampouco me edifiquei com a subida aos céus de um papa em Roma, e muito menos fiquei pasmo com a volta do Delúbio Soares ao PT.  

  • A jaqueira dos ditadores

    "Os ditadores estão caindo um a um como jacas" - escreveu o mestre cronista Luiz Fernando Veríssimo. Também é suspeitável a hipótese de que tais ditadores fossem jaqueiras que dessem espinheiros, certa mescla inabitual dentro da natureza, mas bem provável no dúbio mundo da política.

  • A oposição conta os seus ossos

    Aí está a força do sociólogo FHC para encontrar os possíveis caminhos do Brasil da maturídade política, em busca do; jogo das alternativas de poder. O ex-presídente, com razão, mostra a impossibilidade do tucanato em chegar ao âmago do povão e do que o Brasil emergente vê, desde os últimos mandatos, como o Lula-lá. FH busca o respaldo eleitoral a partir desta constatação:pelos 56% de brasileiros que podem ser definidos como de uma nova ampla classe média ascendente. E em que termos, nela, as expectativas mais rápidas na prosperidade podem criar vínculos novos, suscetíveis de diferenciação política? O contributo do presidente-sociólogo é o de superar a ingenuidade em que as oposições envelhecidas continuam a pensar numa chegada pendular ao poder, nascendo da fortuna eleitoral, dos meros cansaços politícos de maiorias eventuais e dos contrastes de opinião sobre o desenvolvimento e sua maturida de histórica.  A contundência da mensagem não ecoou, entretanto, na profundidade que possa, mesmo com um jejum político imediato, alicerçar as oposíções para um jogo estável e de maior chance de chegar ao Planalto. O que se vê, ao contrário, de parte das hostes contrárias à situação, são os clássicos realinhamentos sôfregos, e de aproximação com a Presidência Dilma, buscando as aparas de cargos e de quinhões orçamentários, que deixem à tona do negocismo político de sempre essas facções exiladas pelas vitórias do lulismo. O movimento atinge o próprio cerne da reserva de votos tucana, guardada em São Paulo e que se vê agora esvair no governo Alckmin, predestinado a todo novo anticlímax eleitoral.

  • O terrorista emérito

    Os norte-americanos são como o Botafogo: há coisas que só acontecem com eles. E como a bandeira deles tem muitas estrelas (a do Botafogo só tem uma), o resultado é que são exagerados, no bem e no mal. A caçada a Bin Laden, que seria uma deconência natural e justificável na luta contra o terror organizado, teve um final polêmico, que dará assunto para muitos filmes de ação —alguns deles já devem estar sendo produzidos.

  • O diabo Bin

    0 mundo midiático transformou santos e diabos em uma vivência coletiva e não mais, como em outros velhos tempos, numa força individual. Logo, eles ganham corações e ódios que se espalham por toda a humanidade. Osama Bin Laden conseguiu aquilo que parecia impossível de ser conseguido: atacar o território dos Estados Unidos. O atentado as torres gêmeas, com quase 3.000 mortos, ocorreu em solo americano e despertou o medo e, mais ainda, o desejo de vingança, transformado em sentimento patriótico.

  • A arte é um ofício

    Às vezes perguntam sobre o que ando escrevendo. Para começar, não ando escrevendo. Quando sou obrigado a escrever, a primeira coisa que faço é não andar: fico parado diante do computador. Há que ganhar o leite das crianças e o meu próprio leite, nada mais do que isso.

  • As diferenças do pós-Lula

    Os 4% a mais de popularidade de Dilma em relação à de Lula, no seu primeiro trimestre, representaram mais que um simpático crédito inicial de confiança. Cresce um sentimento de solidez no perfil da nova Presidente, na proposta da "continuidade sem continuísmo". E desde já com o destaque de que não vai à encenação estudada, mas num estilo de passar à obra, e desde logo, impor-Ihe o seu sinete.

  • O romancista e o restaurante

    Viajando, vou parar num restaurante sozinho, na hora do almoço. Preferia ter companhia, mas não quis incomodar os amigos, que precisariam sair de seus cuidados, se quisessem ver-me. Além disso, na minha profissão, há um aspecto positivo em almoçar sozinho. Não sei se com outros romancistas, ou ficcionistas em geral, acontece a mesma coisa, mas comigo é incoercível e tampouco sei se tenho esse hábito por ser romancista ou se sou romancista porque tenho esse hábito.

  • As diversas grafias de 'porque'

    Nosso leitor A. Costa estranhou termos escrito, na coluna do dia 20 de fevereiro último, “Temos recebido perguntas sobre porque os gramáticos[...]“, quando ele esperaria “porque os gramáticos [...]“. E termina indagando quando se deve usar ‘por quê?’, ‘por que’, ‘porque’ e ‘porquê’.