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Artigos

  • O aprendiz de Quasímodo

    Foi no início de maio. Eu não me habituara a conviver com aqueles monstros que até então se limitavam às paredes do meu quarto. Eles agora me acompanhavam pelas ruas. Numa terça-feira, fui ao cinema no Boulevard des Capucines, saí no meio do filme que era uma droga -eu não me interessava por mais nada.

  • Azul-barateia

    Uma leitora assídua dos nossos dicionários, ouvindo a expressão "azul-barateia" , queria determinar que matiz de azul traduziria esse termo "barateia" , mas ficou surpreendida com a ausência do termo em nossos dicionários, ainda os mais ricos.

  • Laranjas de ontem e de hoje

    Quando ia de trem para o interior do antigo Estado do Rio, ao passar por Nova Iguaçu, logo à saída do ex-Distrito Federal, sentia o cheiro das laranjas que, de um lado e de outro da via férrea, invadia os vagões que perdiam o cheiro de fumaça das velhas locomotivas e ganhavam aquele perfume de sumo, de fruta fresca e encantada, dos imensos laranjais que nos acompanhavam por algum tempo.

  • A vitória acadêmica

    Quando abriu a vaga, por falecimento do amigo e conterrâneo, Vianna Moog, estava em Guarapari, na praça central, e li uma crônica de Josué Montello,com o título, se não me engano,"Um gigante sorridente", saída no Jornal do Brasil, e jamais pensava eu que a mão frutuosa de Deus estava me levando para ocupar exatamente aquela vaga.

  • Educação e defesa do Estado

    Durante os mais de 10 meses do Curso Superior de Guerra, que completei na ESG, em 1976, aprendi a respeitar, como estava no Manual Básico, o elenco dos Objetivos Nacionais Permanentes. Os meus colegas da Turma Almirante Álvaro Alberto foram testemunhas, no entanto, de que sempre defendi a tese de que o Poder Nacional poderia ser grandemente enriquecido se acrescentássemos aos ONPs uma palavra mágica: EDUCAÇÃO. Lembrei o fato ao dar a aula magna de 2011 da ESG.

  • Um homem

    Para falar a verdade, nem sei a que partido o vice-presidente José Alencar pertence. Apesar de possuir uma biografia de sucesso empresarial, só tomei conhecimento de Sua Excelência quando compôs chapa com Lula no primeiro mandato. Apreciei algumas de suas declarações, mas não cheguei ao ponto de admirá-lo.

  • A arte de fazer o mesmo filme

    Ao publicar "Fare un Film" (Ei-naudi Editore), Federico Fellini (1920-1993) não chegou a fazer um livro. Os outros é que fizeram por e para ele. Na verdade, é uma coletânea fragmentada de algumas reportagens já publicadas na Europa, trechos de gravações feitas com amigos, enfim, desabafos, gritos e confissões que seriam mais interessantes se, por trás das palavras, não estivesse um homem que, preferindo imagens, não gosta de palavras. 0 livro está longe de ser uma autobiografia, uma gramática do cinema, um ensaio estético.

  • Alencar e seu destino

    No meu tempo, não vi um político ser objeto de opinião tão unânime e receber uma solidariedade tão sem contrastes de todos os segmentos da sociedade quanto José Alencar.

  • As novidades de sempre

    Sempre que saio do Brasil, volto um pouco apreensivo. Faltam notícias lá fora e aqui as coisas mudam muito depressa – onde havia um cinema brota à noite uma igreja, onde se enxergava um político honesto pulula um meliante, o que ontem era a via correta vira contramão e assim por diante. A partir de certa idade, convém ser precavido, acabar de chegar em casa com calma, não ligar a televisão imediatamente e deixar para abrir os jornais depois de falar com alguns amigos. Eles saberiam contar jeitosamente qualquer novidade inquietante ou capaz de nos abalar a fé no futuro da nação.

  • A força da alegria

    Khalil Gibran diz que há vinte séculos os homens adoram a fraqueza na pessoa de Jesus, e não compreendem Sua força. Jesus não viveu como um covarde e não morreu queixando-se e sofrendo. Viveu como um revolucionário e foi crucificado como um rebelde.

  • Ponte aérea

    Os jornais não deram destaque, nenhum deles contou a história do servo-croata que passou horas detido no aeroporto do Galeão. Ele visitara o Corcovado, se esborrachara nas escadas que dão acesso ao Cristo, teve de colocar grampos metálicos na cabeça do fêmur, meses depois tentou voltar para casa. Ao passar pelo detector de metais, o servo-croata apitou por todos os poros. Sem falar português, foi levado para uma sala, despido e pesquisado. Convocaram uns cães que farejaram o cara de alto a baixo. Mais sofreria se um policial, que fizera um curso não sei onde, não entendesse o que ele tentava explicar. Viajo com alguma frequência e tenho motivos para não gostar desses detectores de metal, nem confiar neles. Alguns apitam contra mim, denunciando-me o isqueiro, as chaves, algumas moedas no bolso, coisas assim.

  • A dor das coisas

    Camoneanamente, ou não, lembramos a "dor das coisas que passaram". Em Virgilio Maro, o poeta de Mauá, já lemos essa expressão de mémória do sofrimento passado.

  • Homem: esse desconhecido

    Sentou-se ao meu lado, quase nos fundos do Airbus que me levaria a São Paulo. Tinha seus 50 anos. Levava uma sacola. O que me impressionou foi o bolso de sua camisa. O paletó aberto deixava ver tudo o que ali havia.

  • O sangue das meninas

    0 Brasil inteiro está tomado de grande comoção e também de grande revolta. Não fomos feitos para viver tragédias desse tipo. Em Realengo, no Rio de Janeiro, um fronteiriço, possesso —esta é a palavra— entre a loucura e a maldade, invade uma escola e atira nos alunos que estavam em classe, faz tombar mortos dez meninas e dois meninos, além de ferir mais 13 estudantes, alguns gravemente.