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Artigos

  • Tateando no escuro

    O PT tanto politizou o racionamento de energia ocorrido no Brasil em 2001 que passou a não ter direito de adotá-lo em caso de necessidade, como parece pode vir a ser o caso proximamente. O problema é que a presidente Dilma, quando ministra, garantiu que o que não ocorrerá mais no Brasil é racionamento de energia, chamando o episódio de “barbeiragem”. “Racionamento de oito meses implica que eu, com cinco anos de antecedência, não soube a quantidade de energia que tinha de entrar para abastecer o país.”

  • Governo fantasma

    A situação mais curiosa desse pastelão em que se transformou a sucessão presidencial da Venezuela é a do vice-presidente Nicolas Maduro, que a partir de hoje deixa de ter um cargo oficial, embora seja o sucessor escolhido pelo caudilho Chavez para substituí-lo em caso de necessidade. Acontece que na Venezuela de Chavez o vice é nomeado pelo presidente, e pode ser substituído a qualquer momento, como se fosse um ministro. Não aparece na chapa na eleição presidencial e na prática é mais um subordinado do presidente. Deve ser para evitar um acesso de ambição do companheiro escolhido.

  • Dirceu estrebucha

    Mais uma vez o ex-ministro José Dirceu, condenado por corrupção ativa e formação de quadrilha no processo do mensalão estrebucha e tenta, a partir de uma declaração do Procurador-Geral da República Roberto Gurgel, vender para a opinião pública a ideia que foi condenado sem provas, e que é inocente. Uma típica manobra política, pois no campo jurídico seu comentário não tem a menor importância nem valor para embargos infringentes, que são os únicos recursos que ainda restam a seus advogados. Mesmo assim, só poderá fazê-lo quanto à condenação de formação de quadrilha, onde teve quatro votos absolutórios, mínimo exigido para recorrer. Quanto à corrupção ativa, Dirceu foi condenado por 8 a 2.

  • Penas adiadas

    O presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, que assumiu o cargo tendo como uma das suas prioridades à frente do Conselho Nacional de Justiça o combate à morosidade da Justiça, está tendo que se render ao sistema protelatório da Justiça brasileira, que ele mesmo criticou. Assim como negara a prisão antecipada dos mensaleiros, ele negou o pedido de prisão imediata do deputado federal Natan Donadon, do PMDB de Rondonia, condenado há mais de dois anos por formação de quadrilha e peculato, e que continua até hoje exercendo seu mandato em Brasília. Agiu certo nos dois casos.

  • Outra vez desunidos

    Como há muito tempo se prevê, o maior problema do PT está em suas facções ou em seus aliados, não na oposição formal, cada vez mais enrolada em seus próprios problemas e indecisões. É assim que a anunciada candidatura de Marina Silva à presidência em 2014 por um eventual novo partido, ou a possibilidade de que o governador de Pernambuco Eduardo Campos se decida a concorrer já na próxima eleição, são hipóteses às quais o governo da presidente Dilma deve dar tanta atenção, ou mais, do que à ainda incerta candidatura do senador Aécio Neves pelo PSDB.

  • Flores do Recesso

    A necessidade de haver uma relação mais clara entre as autoridades públicas e a população tem levado Miro Teixeira (um dos mais antigos deputados federais, exercendo o décimo mandato) a fazer campanha informal para que se tornem mais comuns os contatos de toda e qualquer autoridade com a opinião pública, através de encontros periódicos com a imprensa. Miro lembra que, sempre que não há notícia, prospera o boato, tese que pode ser resumida na famosa frase do juiz Louis Brandeis (1856-1941), da Suprema Corte americana, que dizia que “o Sol é o melhor desinfetante”.

  • O "espírito animal"

    Há algum tempo se discute no país o que é preciso fazer para despertar o “espírito animal” do investidor para que voltemos a crescer. O termo é do economista britânico John Maynard Keynes (1883-1946) na obra, "A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda", de 1936. Quando fala das expectativas de longo prazo, Keynes escreve que o momento certo para o investimento se dá quando o “espírito animal”, um tipo especial de confiança, se sobrepõe a cálculos matemáticos. “Isso acontece quando o receio do prejuízo, que volta e meia acomete os pioneiros, é colocado de lado como um homem saudável esquece a expectativa da morte”.

  • Túnel do tempo

    A romaria de líderes latino-americanos e venezuelanos a Havana para se informar e prestar solidariedade a Hugo Chavez é uma demonstração clara da hegemonia ideológica cubana na região, um exemplo raro de supremacia política sobre a econômica. E também uma constatação de que o “comandante da revolução bolivariana” transformou-se no verdadeiro líder político da região, seja por proximidades ideológicas, seja pela sustentação financeira à custa do petróleo venezuelano.

  • Vaquinha petista

    Juntos, os 25 réus condenados pelo mensalão terão que pagar uma multa de mais de R$ 22 milhões, a preços de 2003 a 2005 que serão ainda atualizados pela inflação. A cúpula do PT condenada no processo deve junta cerca de R$ 1,8 milhão de multas, assim distribuídos: José Dirceu, R$ 676 mil; José Genoino, R$ 468 mil; Delúbio Soares, R$ 325 mil; e João Paulo Cunha, R$ 370 mil. Um grupo de militantes denominado Juventude Petista do DF, que tem Delúbio como mentor (não é ironia, é verdade), começou ontem à noite, com um jantar em uma galeteria brasiliense, com convites que variavam de R$ 100 a R$ 1.000, movimento para angariar doações a fim de ajudar a pagar essas multas.

  • O paradoxo do PMDB

    O PMDB se prepara para um dos momentos mais importantes de sua trajetória política enfrentando um paradoxo que não lhe é desconhecido. Por um desses desígnios da sorte vai presidir as duas Casas do Congresso nos anos vitais para a sucessão presidencial, mas seus indicados para o cargo, o deputado federal Henrique Alves e o senador Renan Calheiros, se têm uma aparente tranquilidade para se eleger junto a seus pares, não desfrutam junto à opinião pública de uma imagem que permita ao partido se impor como uma alternativa de poder.

  • Congresso x MPs

    O Congresso se prepara para enfrentar uma batalha pela credibilidade perdida com relação às medidas provisórias pelo aspecto mais imediatista e fisiológico, sem encarar as verdadeiras razões de seu desprestígio. Uma das bandeiras do candidato oficial à presidência da Câmara, deputado Henrique Alves, é permitir que os parlamentares possam fazer acréscimos ao que vier do Palácio do Planalto no momento da votação, e não apenas até seis dias depois de a medida provisória chegar, como determinam as regras definidas pelo Supremo Tribunal Federal.

  • Obama 2.0

    Com uma demonstração de respeito pela Constituição, que diz que a posse deve ser no dia 20 de janeiro, o presidente dos Estados Unidos Barack Obama tomou posse oficialmente no domingo perante a Suprema Corte e ontem foi a festa oficial diante do Congresso, com o discurso para o povo. Nem mesmo a “continuidade administrativa” justificaria a mudança de datas num país onde as instituições funcionam.

  • Mais política em Davos

    O Fórum Econômico Mundial que começa hoje em Davos, na Suíça, é talvez o mais político dos últimos anos, e terá como centro das discussões o papel da sociedade civil num novo mundo que está se formando, longe das hegemonias e com mudanças tecnológicas e demográficas que exigem dos líderes, tanto políticos como empresariais, novas posturas, bem definidas na pesquisa “O futuro papel da sociedade civil” divulgada ontem, que mostra que essas mudanças representam uma pressão crescente sobre as instituições para que elas promovam justiça social e responsabilidade.

  • Visão social

    A começar pela diretora-geral do FMI, Christine Lagarde - que dedicou seu discurso a “duas moças”, Malala Yousafzai, a jovem estudante paquistanesa que quase morreu atacada por talibãs, e “sua irmã indiana” de 23 anos que morreu depois de ter sido atacada em dezembro por uma gangue de estupradores na Índia -, nunca se viram em Davos sessões tão drasticamente voltadas a questões como desigualdade, responsabilidade e valores morais como objetivos de medidas econômicas muitas vezes impopulares, mas que têm a finalidade de melhorar as condições sociais dos países.

  • O futuro da Europa

    O tema central nas preocupações do Fórum Econômico Mundial aqui em Davos é o futuro da Europa, e por isso mesmo a decisão do primeiro-ministro David Cameron de submeter a um referendo a permanência da Inglaterra na União Europeia dominou os debates de ontem. A primeira reação, no dia do anúncio, fora de desinteresse, e o Primeiro-Ministro italiano Mario Monti colocou um caco em seu pronunciamento para dizer que a União Europeia não precisava de membros que não quisessem permanecer.