Cacá Diegues levou o Brasil e toda sua diversidade para as telas do cinema. Em cada um dos seus filmes, o brasileiro se viu, se identificou e se conheceu melhor. O cineasta teve uma parada cardíaca e morreu na última sexta-feira (14), aos 84 anos.
Foram mais de 20 filmes e muitos prêmios aqui e lá fora. Boa parte deles marcou gerações, como "Xica da Silva", "Bye Bye Brasil" e "Deus é Brasileiro". Cacá foi diretor, escritor e imortal da Academia Brasileira de Letras.
Familiares do cineasta receberam a equipe do Fantástico na casa deles, no Rio de Janeiro, neste domingo (16).
- Renata Ceribelli: A gente sabe que tem a dor do Brasil por essa perda e tem também a dor dos familiares. Como que vocês estão lidando com esse momento?
- Isabel Diegues (filha): Meu pai é uma pessoa gigante pra mim. É uma pessoa gigante na minha vida. Nem entendi ainda como é que vai ser não ter ele ali como farol, né?
- Renata Magalhães (viúva): A ficha não cai de uma vez só, né?
- Renata Ceribelli: Pegou a família toda de surpresa, né?
- Renata Magalhães (viúva): Totalmente de surpresa.
- Julia Klevenhusen (filha): O Cacá, muitos anos atrás, acho que foi em 2004, ele chamou na sala dele e pediu pra redigir um documento sobre como seria o pós morte dele. E a primeira regra dele era que ninguém podia chorar, ninguém ia ficar triste. Ele não queria ninguém de luto. Isso é muito difícil de respeitar, eu não respeitei.
- José Bial (neto): Eu era muito amigo, assim, do meu avô. A gente falava da morte de uma forma mais natural. A impressão que eu tinha é que ele achava que realmente nunca ia morrer.
- Renata Ceribelli: Eu ouvi uma entrevista do Cacá, quando vocês perderam a Flora [Diegues, filha de Cacá e Renata, que morreu em 2019]. Ele dizia que o impacto da dor foi tão forte que paralisou a vida dele, que ele mal conseguia fazer cinema.
- Renata Magalhães (viúva): Bom, perder um filho é uma coisa que ninguém merece, inverter a ordem natural das coisas. Mas o Cacá fez o filme chamado "O Maior Amor do Mundo", né? E em alguma hora eu saquei que o maior amor do mundo é maior do que a maior dor do mundo.
- Isabel Diegues (filha): Eu acho que, por maior que fosse a dor ou o sofrimento, o que o moveu ele adiante foi uma paixão radical, existencial, pelo próprio cinema. O amor dele pelo cinema era maior que tudo. Era quase que um amor próprio.
O filme inédito de Cacá Diegues
Em sua última coluna no jornal O Globo, Cacá escreveu: "Filmes podem fazer as pessoas pensarem através de sentimentos. E quando pensamos, podemos mudar a maneira de ver o mundo".
Aos 84 anos e 62 de carreira, Cacá continuava criando e dirigindo com a intenção de fazer as pessoas pensarem. E, quem sabe, mudar a maneira delas de ver o mundo.
O Fantástico teve acesso a cenas inéditas do filme e dos bastidores do longa-metragem que Cacá estava finalizando: "Deus ainda é brasileiro".
"Eu sempre pensei em fazer alguma coisa totalmente em Alagoas, mas nunca consegui. Dessa vez é um filme que eu estou fazendo de cabo a rabo em Alagoas", disse Cacá durante a produção. "Continuo acreditando que Deus é Brasileiro e que a gente vai chegar lá".
"O filme é uma continuação do 'Deus é brasileiro'. E, dessa vez, Deus está vendo que a humanidade está horrorosa e manda um meteoro pra acabar com o planeta", revela Renata Magalhães , viúva de Cacá.
"O Cacá estava tão feliz [pelo sucesso de 'Ainda Estou Aqui']. É o cinema brasileiro falando com as pessoas. Como diz 'Ainda Estou Aqui', nossa maior arma é continuar sorrindo", conclui Renata.
Matéria na íntegra: https://g1.globo.com/fantastico/noticia/2025/02/16/fantastico-exibe-cenas-ineditas-de-deus-ainda-e-brasileiro-ultimo-filme-de-caca-diegues.ghtml