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ABL na mídia - 082 Notícias - Efigênio Moura e a Defesa da Fala Autêntica no Brasil: A Candidatura de um Guardião da Oralidade à Academia Brasileira de Letras

 

Em um país de vastas diversidades culturais e linguísticas, o escritor brasileiro Efigênio Moura emerge como uma voz autêntica e indispensável na representação da fala de seu povo. Natural do Nordeste do Brasil, Moura é conhecido por transpor, com precisão e respeito, a oralidade nordestina para seus personagens, preservando o sotaque, o ritmo, as expressões e a alma que compõem o imaginário coletivo da região. Sua candidatura à Academia Brasileira de Letras (ABL) marca um momento significativo: o de levar a linguagem do povo sertanejo ao palco central da cultura literária nacional, numa defesa legítima e urgente da diversidade linguística do país.

A voz de Efigênio Moura é mais que uma construção literária; é uma homenagem à identidade cultural que muitos tentam padronizar ou silenciar. O Nordeste brasileiro, com seu jeito de falar peculiar, repleto de ditados, exclamações e ritmo próprio, é uma das regiões mais icônicas em termos culturais, e a obra de Moura reflete isso. Ao inserir seu modo de falar no campo literário, Moura não está apenas criando personagens – ele está preservando uma história de resistência e originalidade.

Assim como outros autores brasileiros consagrados, como Guimarães Rosa, que moldou a linguagem do sertão mineiro em Grande Sertão: Veredas, e Ariano Suassuna, que deu ao Nordeste sua voz autêntica em O Auto da Compadecida, Moura é fiel à fala regional. Ele enxerga a oralidade como uma ferramenta literária e um ato de resistência, acreditando que a fala popular tem tanto valor literário quanto qualquer narrativa erudita. Essa valorização da oralidade não é um mero recurso estilístico; é um posicionamento que confronta preconceitos linguísticos históricos e defende o direito de cada região ser representada com fidelidade.

A candidatura de Moura à ABL é uma oportunidade para que a diversidade cultural e linguística do Brasil seja finalmente reconhecida e celebrada no mais alto órgão literário do país. Caso eleito, ele seria um dos raros representantes do sertão nordestino a ocupar uma cadeira na Academia, e essa conquista seria, também, uma vitória para a pluralidade linguística brasileira. A ABL é frequentemente criticada por ser dominada por uma norma culta padronizada que, apesar de importante, é incapaz de abarcar todas as nuances do português brasileiro. Moura traz consigo o compromisso de levar essa voz regional para o centro das decisões culturais e literárias.

A Oralidade Como Patrimônio Literário: Um Olhar Internacional

No cenário literário mundial, autores de diversas partes do mundo têm defendido a oralidade como patrimônio literário. Exemplos notáveis incluem o queniano Ngũgĩ wa Thiong’o, que escreve em kikuyu, uma língua africana nativa, e defende que a literatura seja escrita na língua do povo. Ele acredita que a língua é uma forma de ver o mundo, e escrevendo em sua língua materna, ele se reconecta com a história e a sabedoria de seu povo.

Nos Estados Unidos, autores como Zora Neale Hurston também adotaram a linguagem vernacular como forma de retratar fielmente a experiência afro-americana no sul do país. Em seu romance Their Eyes Were Watching God, Hurston escreve diálogos autênticos, repletos de expressões locais e sotaques regionais, uma escolha estilística que lhe rendeu tanto elogios quanto críticas, mas que, ao final, se provou essencial para dar voz ao povo afro-americano do sul.

Outro exemplo é o escocês James Kelman, que, em obras como How Late It Was, How Late, utiliza o inglês escocês com todas as suas particularidades e coloquialismos. Ao escrever “como o povo fala”, Kelman oferece uma literatura mais real e autêntica, aproximando o leitor das vivências de seus personagens.

Esses exemplos internacionais refletem uma luta comum à de Efigênio Moura: a busca pela legitimidade da fala popular e regional em uma literatura que muitas vezes privilegia uma norma culta e padronizada. Moura representa essa voz no Brasil, e seu ingresso na ABL seria um passo importante para o reconhecimento e a valorização da oralidade brasileira no contexto literário nacional.

A Importância da Candidatura de Efigênio Moura à Academia Brasileira de Letras

Ao candidatar-se à Academia Brasileira de Letras, Efigênio Moura busca ocupar um espaço de relevância para inserir a fala nordestina no cenário cultural mais amplo. Sua eleição seria um marco histórico para o Nordeste brasileiro, para o sertão, e para todos aqueles que se veem representados nas expressões e nas histórias que ele compartilha. É uma candidatura que transcende o aspecto literário, servindo como uma ponte para o respeito e a inclusão de todas as vozes brasileiras.

Ao incluir Moura, a ABL mostraria ao mundo que valoriza a riqueza cultural do Brasil em toda a sua pluralidade. Ele representa um Brasil que, embora muitas vezes marginalizado, tem uma cultura profundamente rica e única, digna de reconhecimento e preservação. Mais que uma eleição, essa é uma oportunidade de valorização e de renovação para a cultura brasileira.

A fala do povo é a alma de uma nação, e autores como Efigênio Moura são os guardiões dessa alma. Sua candidatura à Academia Brasileira de Letras deve ser apoiada não apenas por brasileiros, mas por todos que acreditam que a diversidade linguística é essencial para a verdadeira literatura.

Quem é Efigênio Moura?

Efigênio Moura é um autor paraibano que, ao longo de uma carreira de 15 anos, tem se dedicado a explorar e valorizar as tradições culturais e linguísticas do Nordeste brasileiro. Nascido em Monteiro, no Cariri paraibano, ele carrega a herança de seu avô, o poeta Efigênio Teixeira de Moura (Pindoba- AL), e desenvolve uma literatura que incorpora a fala e o imaginário popular do sertão. Sua obra, destaca-se pela capacidade de captar a autenticidade da linguagem oral nordestina, característica que o coloca como um dos grandes cronistas da vida sertaneja contemporânea.

Desde sua estreia com Eita Gota! (2009), Efigênio Moura imprime em seus textos a vivência e o cotidiano da região, seja através da comédia leve em Santana do Congo ou do romance Ciço de Luzia, obra traduzida para o inglês e utilizada em vestibulares na Paraíba. Na trilogia Pedro Jeremias, que se passa no contexto pós-Lampião, ele une ficção e realidade para reviver o cangaço, o misticismo e as relações complexas do sertão, sempre utilizando a fala dos personagens como um instrumento de resistência cultural.

Além de sua produção literária, Efigênio Moura desempenha um papel importante na preservação da identidade cultural nordestina. Sua literatura é tema de estudos acadêmicos e discussões sobre sua contribuição ao cenário literário brasileiro, principalmente no que diz respeito à oralidade e ao regionalismo. Em Carolino, seu lançamento mais recente, o autor retrata a busca de um menino por seu pai em um sertão mágico, reafirmando seu compromisso com a cultura popular e suas raízes.

A candidatura de Efigênio Moura à Academia Brasileira de Letras (ABL) baseia-se nessa trajetória literária de celebração e valorização das tradições nordestinas, que ele expressa em sua literatura rica em oralidade e em uma narrativa profundamente conectada ao imaginário popular. Com uma linguagem única, que traz a fala e o sotaque do povo nordestino, Efigênio visa ampliar a representatividade do sertão e da cultura nordestina na literatura nacional.

Efigênio reside em Campina Grande, Paraíba.

Matéria na íntegra: https://082noticias.com/2024/11/16/efigenio-moura-e-a-defesa-da-fala-autentica-no-brasil-a-candidatura-de-um-guardiao-da-oralidade-a-academia-brasileira-de-letras/

21/11/2024