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Artigos

  • Lembrando Rubem Braga

    Só o nome de Cachoeira de Itapemirim já lembra Rubem Braga, confirmando a relação afetuosa que detinha com sua terra. Como se já fosse a continuação dela. E Rubem se reconhecia homem com certa emoção do interior, dando a impressão de contemplar o mundo a partir de seu quintal ou de seu rio. Tinha curiosa consciência de nomadismo - ou a transitoriedade que caracteriza o cronista de jornal, onde as notícias se apagam com a mesma velocidade com que se enunciam. A comparação é dele: "o cigano toda a noite erguia a sua tenda e pela manhã a desmancha, e vai".

  • Clube de Leitura do Sesc

    A lição de Machado foi tomada ao pé da letra pela exemplar Escola Sesc de Ensino Médio. Convocar os moços às tarefas da Cultura. Ele fez assim ao fundar, com Lúcio de Mendonça e outros, a Academia Brasileira de Letras.  E mais: deu a traça do desenho acadêmico enquanto promotora e defensora da língua. "Caber-lhe-á então defendê-la daquilo que não venha de fontes legítimas - o povo e os escritores - não confundindo moda que perece com o moderno que vivifica". A Esem ao estimular a prática da leitura, a explicitação interpretativa de textos machadianos, a cargo dos " alunos, sabiamente orientados por professores competentes, serve tanto à preservação quanto à adequada veiculação do bom português.   Penso que Antônio Oliveira Santos ao criar a Esem nem imaginava que ela iria tão longe, tornando realidade a aliança de tradições brasileiras com a modernidade dos tempos. 

  • O cupim da corrupção

    Brilhante e oportuna a palestra que Celso Lafer fez, nesta semana, na Academia Brasileira de Letras sobre ética e cidadania em tempos de transição, um ciclo de conferências no qual coube ao nosso Acadêmico e ex-ministro das Relações Exteriores abordar os desafios da ética na hora atual: da ética na pesquisa à ética na política.

  • Qualificação profissional, a prioridade

    Outro dia, numa aula de história da educação, o aluno fez ironia com seu professor: “Mestre, é verdade que hoje quem não se qualifica se trumbica?” O riso foi geral. A lembrança do famoso pensamento de Chacrinha pareceu oportuna, quando se discutia em classe a importância da profissionalização, que passou a ser uma das prioridades da educação nacional.

  • Os soluços do outono

    Ainda é inverno, na Europa ainda é verão, mas com a idade fui me libertando do tempo e das estações, há uma primavera no meio, mas já sinto aqueles "sanglots longs de violons de l'automne" do poema de Verlaine, afinal, o verão foi curto, a primavera, pouca, só o outono parece que vem para ficar e durar, além do inverno definitivo e inútil.

  • Momento de tensão

    A semana terminou com um recado no ar por parte da base aliada que está rebelada, ajudando a derrotar o governo em uma votação corriqueira apenas para deixar claro que pode fazê-lo a qualquer instante.

  • Os femininos de 'ladrão'

    O Nosso assíduo e competente leitor Patrick estranhou o tratamento desigual na indicação dos femininos de 'ladrão' no Volp ('ladra', 'ladroa' e 'ladrona') e na mais recente 3ª edição do Pequeno Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, PVolp, ('ladrona' e 'ladroa'), ambos da ABL. Ele nos pergunta se 'ladra' não é feminino de 'ladrão', embora 'ladra' constitua verbete à parte neste último, "ou se daqui para frente só se deve utilizar aquelas formas" (isto é, 'ladrona' e 'ladroa'). A pergunta do amigo nos leva mais uma vez a tocar numa questão importante na correta leitura de texto técnico; referimo-nos à teoria, cujo conhecimento, ainda que rudimentar, deve ter o leitor de textos técnicos. Como o dicionário está redigido com o emprego de terminologia linguística, quem o consulta deve estar a par de informações do tipo: s.m. (substantivo masculino); s.2g. (substantivo de dois gêneros), v.trans.dir. (verbo transitivo direto), etc. Com o aperfeiçoamento mais recente da metalexicografia, este tipo de obra se vai beneficiando de mais científica e rigorosa elaboração de indicações linguísticas dos verbetes. 

  • Juízo final

    Minha primeira experiência na reportagem internacional foi no início dos anos 60, uma crise na Argentina da qual resultou a prisão do então presidente Arturo Frondizi. A imprensa mundial pintava um quadro apocalíptico para o país, greves, motins, saques, fuzilamentos, miséria e fome.

  • Sofisticação escandinava

    O horror do crime de Anders Behring Breivik põe em causa drasticamente a diferença dos níveis de civilização atingidos pelos povos nórdicos diante do mundo contemporâneo. A repressão à criminalidade e o castigo das penas não passam normalmente de 20 anos, para não falar da abolição, já há mais de século, da pena de morte. Os tribunais recorrerão a expedientes protelatórios para manter na cadeia o facínora por mais de duas décadas, se já não beneficiado pela soma generosa de indultos que prevê a lei, por bom comportamento na cadeia. A solitária é uma exceção que, via de regra, não pode durar mais de vinte dias. E o confinamento não exclui a televisão mais moderna, o banheiro privado e os passeios diários no pátio da penitenciária. Estão também abertos a detidos como Breivik cursos de culinária e artesanato, bem como de estímulos à leitura e à criatividade. A Noruega se orgulha de uma taxa de recuperação de 70% dos prisioneiros após o cativeiro. Não temos precedente dessas 73 mortes, em responsabilidade individual, fora dos morticínios por bomba ou explosão, em catástrofes como a de Lockerbie pelo terrorista líbio no céu da Escócia.

  • Sem expectativa

    Não existe nada que agregue mais na política do que a expectativa de poder. Agrega mais, em certas circunstâncias, que o poder presente, finito por definição. Essa "sabedoria política" anda muito presente nas conversas brasilienses, à medida que cresce a sensação na sua base aliada de que a própria presidente Dilma parece admitir ter um mandato datado, que se encerra em 2014.