Nesta matéria, relembraremos a sua importante trajetória e suas 10 obras mais emblemáticas.
A vida e a trajetória literária de Rachel de Queiroz
Nascida em Fortaleza, no Ceará, em 17 de novembro de 1910, Rachel de Queiroz cresceu entre o ambiente urbano da capital e as memórias profundas do sertão cearense, cenário que – mais tarde – atravessaria toda a sua produção literária.
A infância foi marcada pela dura experiência da seca de 1915, que forçou a família a migrar para outras regiões do país. Depois de temporadas no Rio de Janeiro e em Belém, Rachel retornou ao Ceará já adolescente, trazendo consigo as lembranças e cicatrizes desse deslocamento: material que viria a ser fundamental em seu romance de estreia.
Parente do também importante escritor cearense José de Alencar, isso reforçou a tradição literária que corria em sua família.
Aos 15 anos, formou-se professora e logo começou a lecionar. Em paralelo, mergulhou no jornalismo, assinando textos no jornal O Ceará, inicialmente sob o pseudônimo “Rita de Queluz”. A escrita jornalística e o interesse por questões sociais se tornaram marcas fortes em toda sua carreira.
Em 1930, aos 20 anos, Rachel de Queiroz lançou “O Quinze”, obra inspirada na seca vivida na infância. O livro foi imediatamente celebrado pela crítica, colocou seu nome entre os grandes do romance regionalista e lhe rendeu o Prêmio Fundação Graça Aranha. Era o início de uma carreira que combinaria sensibilidade literária, consciência política e um olhar muito atento às desigualdades do Nordeste.
Como diz o site da Academia Brasileira de Letras, sobre Rachel de Queiroz: “Com vinte anos apenas, projetava-se na vida literária do país, agitando a bandeira do romance de fundo social, profundamente realista na sua dramática exposição da luta secular de um povo contra a miséria e a seca.”.
Ao longo da década de 1930, a escritora envolveu-se com os ideais de esquerda e chegou a integrar o Partido Comunista Brasileiro, mas logo saiu, para poder exercer sua liberdade como escritora. Durante o Estado Novo de Getúlio Vargas, viveu um período de repressão: suas obras foram queimadas em praça pública e ela chegou a ser presa por três meses, dita como comunista.
Mas sempre manteve sua produção literária e jornalística: ao longo da vida, publicaria mais de duas mil crônicas, muitas delas reunidas em obras fundamentais.
A partir de 1939, Rachel passou a viver no Rio de Janeiro, onde consolidou sua presença na imprensa e se tornou uma das cronistas mais lidas do país. Na vida pessoal, casou-se duas vezes e enfrentou a perda precoce de sua filha, falecida ainda na infância, um episódio que também marcou profundamente sua sensibilidade humana.
A relevância de sua contribuição ultrapassou a literatura: Em 1966, Rachel de Queiroz foi delegada do Brasil na ONU, integrando a Comissão de Direitos do Homem e também foi membro do Conselho Federal de Cultura, desde a sua fundação, em 1967, até sua extinção, em 1989.
Em 1977, tornou-se a primeira mulher eleita para a Academia Brasileira de Letras, ocupando a Cadeira nº 5, um marco histórico para a presença feminina no cenário cultural brasileiro.
Consolidada como uma das autoras mais importantes da língua portuguesa, Rachel de Queiroz foi reconhecida com prêmios como:
Prêmio Luís de Camões (primeira mulher a vencer o prêmio, em 1993)
Prêmio Nacional de Literatura de Brasília (para conjunto da obra, em 1980)
Prêmio Machado de Assis (pelo conjunto da obra, em 1958)
Prêmio Jabuti (1970 e 1992)
Rachel de Queiroz também escreveu literatura infantil e trabalhou em veículos como Diário de Notícias, O Jornal, Última Hora, Jornal do Comércio, O Estado de S. Paulo e a revista O Cruzeiro.
A escritora faleceu em 4 de novembro de 2003, aos 92 anos, deixando um legado que segue vivo, necessário e profundamente brasileiro.
As 10 maiores obras de Rachel de Queiroz
1 – O Quinze (1930)
Romance de estreia que a consagrou, retrata a seca de 1915 e o drama dos retirantes com profundidade emocional e força social. É considerado sua obra-prima.
A trama se dá em dois planos, o primeiro focando no vaqueiro Chico Bento e sua família, o outro na relação afetiva de Vicente, rude proprietário e criador de gado, e Conceição, sua prima culta e professora na capital.
2 – João Miguel (1932)
Segundo romance da escritora: João Miguel é um trabalhador da classe rural que tira a vida de um companheiro após embriagar-se durante uma festa. O enredo do livro trata de sua vida na prisão, a traição de sua companheira com o soldado que guardava o presídio local e sua rotina angustiada de isolamento, inação e solidão.
3 – Caminho de Pedras (1937)
Escrita enquanto Rachel de Queiroz estava presa, a obra é marcada por engajamento político e crítica social. Reflete seu envolvimento com a esquerda e suas inquietações diante das desigualdades do país.
Conta a história da paixão proibida entre Roberto e Noemi, esposa do ex-comunista João Jaques e mãe de um menino de colo identificado apenas como Guri. O romance traz como plano de fundo um retrato da luta social daqueles anos, contendo denúncias ao Integralismo e ao autoritarismo do Estado Novo de Getúlio Vargas.
4 – As Três Marias (1939)
Último romance da primeira fase da obra de Rachel de Queiroz, “As Três Marias” é escrito em primeira pessoa e traz fatos biográficos, ligados à sua vivência no Colégio Imaculada Conceição.
O enredo da obra acompanha o encontro e a trajetória de vida de três amigas, Maria José, Maria da Glória e Maria Augusta, desde o internato de freiras, onde se conhecem, até a vida adulta. Sempre unidas, as jovens são apelidadas por uma freira como “As Três Marias”, em alusão a seus nomes e às estrelas pertencentes à constelação de Órion.
5 – A Donzela e a Moura Torta (1948)
Seu primeiro volume de crônicas publicadas, com seleção da própria autora, em que Rachel de Queiroz evidencia sua habilidade para transformar cotidiano, memória e cultura nordestina em literatura da melhor qualidade.
6 – Lampião (1953)
Peça teatral que leva aos palcos as figuras emblemáticas do famoso cangaceiro nordestino, Virgulino Ferreira – o Lampião – e de sua corajosa companheira, Maria Bonita, refletindo sobre violência, cultura popular e mitologias do sertão.
7 – A Beata Maria do Egito (1958)
Peça em três atos, que tem como ambientação uma pequena prisão de uma cidade do interior, onde a personagem título, uma jovem mulher conhecida como a Beata Maria do Egito, tida como santa pelos populares, após se encontrar presa a caminho de Juazeiro, acaba por entregar-se sexualmente ao tenente em troca da liberdade, para que possa seguir o seu caminho e sair em defesa do Padre Cícero.
Obra marcada pelo simbolismo religioso e por uma discussão profunda sobre moralidade e redenção.
8 – Dôra Doralina (1975)
Retornando ao romance após um hiato de mais de 35 anos (o último havia sido “As Três Marias”), “Dôra Doralina” tem também evidentes traços biográficos. A trama é dividida em três partes e narra a história de Maria das Dores, apelidada por Dôra, jovem que vive à sombra da autoritária mãe a quem trata apenas pelo pronome “Senhora”.
Já viúva, após a morte misteriosa do marido, Dôra embarca rumo à capital Fortaleza, onde se torna atriz de uma companhia de teatro mambembe, percorrendo várias regiões do país, até conhecer o homem que seria grande amor de sua vida, o “Comandante“, com quem tenta construir uma família.
O romance foi adaptado para o cinema, em 1982, dirigida por Perry Salles, que atuou ao lado de Vera Fischer e Cleyde Yáconis.
9 – O Galo de Ouro (1985)
Romance em folhetim lançado semanalmente pela revista O Cruzeiro, em 1950, mas só publicado em formato de livro vinte e cinco anos depois, em 1985. O livro narra a trajetória de Mariano, um garçom que após sofrer um acidente automobilístico, além de perder a esposa, fica com o braço direito seriamente comprometido. Mariano deixa a filha criança aos cuidados de uma comadre, tenta a sorte em brigas de galo e como bicheiro.
10 – Memorial de Maria Moura (1992)
Seu último grande romance, escrito aos 82 anos, acompanha a trajetória de Maria Moura, uma das mais fortes personagens femininas da literatura brasileira. A obra mistura saga, política, conflitos familiares e poder feminino, e ganhou uma versão nas telas em 1994 – em formato minissérie, pela Rede Globo – com Maria Moura interpretada por Glória Pires.
O romance conta a saga da personagem título, que de sinhazinha órfã passa a cangaceira e chefe de bando, além de narrar tramas paralelas que vão se interligando com a história de crime e expiação do padre José Maria e o amor proibido entre Marialva e o atirador de facas circense, Valentim.
A personagem Maria Moura foi inspirada, particularmente, em duas personagens históricas: a Rainha Elizabeth I, a rainha virgem, cujo poder e autonomia eram notáveis à sua época, e a figura de Maria de Oliveira, uma cearense que organizou, ainda no século XVIII, o primeiro bando no sertão de que se tem notícia, e por isso é considerada a precursora de Lampião.
Matéria na íntegra: https://novabrasilfm.com.br/arte-e-cultura/literatura/as-10-maiores-obras-de-rachel-de-queiroz
19/11/2025