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Artigos

  • Páscoa da infância

    Folha de São Paulo (São Paulo - SP)e Jornal do Brasil (Rio de Janeiro - RJ) em, em 09/04/2004

    "Mudou o Natal ou mudei eu?", já indagava o velho Machado, pergunta que se transformou quase em lugar-comum, de tanto ser invocada. Valho-me dela para recordar a Semana Santa. Nos meus tempos de infância ela era realmente de trevas. Da minha aldeia - e ninguém mais do que Faulkner e Górki, em visões diferentes, reteve na criação literária a carga de todo o seu significado -, a lembrança que tenho desses dias enevoados pelo tempo é da cor do roxo que cobria as imagens e do preto que vestia as mulheres.

  • Desestabilização e ladainha

    Folha de São Paulo (São Paulo - SP) eJornal do Brasil (Rio de Janeiro - RJ) em, em 02/04/2004

    A história, além de mestra, passou a ser, hoje, uma vitrine onde se pode acompanhá-la em tempo real. A primeira sensação que tive de ver a história, estar dentro do redemoinho do acontecer, foi com minhas visitas à União Soviética em 1988 e à Rússia em 2000. O território era o mesmo, as pessoas também, os anos bem próximos, mas tudo mudara e estava mudando. Dez anos antes a moeda era o rublo com a efígie de Lênin, em 2000 era a águia bicéfala, símbolo dos Romanov, malditos e assassinados, agora redivivos. A bandeira da foice e do martelo cedera lugar à bandeira tricolor do império e Nicolau 2º, canonizado pela igreja ortodoxa, é, agora, venerado nos altares. Lênin encontrei em um sósia, tirando fotografias com turistas por US$ 5.

  • De jaquetão e bigode

    Folha de São Paulo (São Paulo - SP) eJornal do Brasil (Rio de Janeiro - RJ) em, em 26/03/2004

    É do presidente Castello Branco a afirmação de que nas revoluções se sabe como entrar e nada de como sair. De formação legalista, embora da geração dos tenentes, nunca participara de nenhuma das famosas revoluções do seu tempo, 22, 24, 30. Em 1964 foi o candidato dos civis revolucionários contra os duros reunidos em torno de Costa e Silva, expressão do pensamento dos quartéis. Desde o início a preocupação de Castello era de como sair; a outra ala, de como entrar. Repetia-se o que ocorreu na República entre Deodoro e Floriano. Castello justificava a revolução de 64 com o argumento de melhorar as instituições políticas, deterioradas pelo governo João Goulart. Costa e Silva, diferentemente, com a tropa, desejava passar tudo a limpo, com a bandeira castrense anticomunista.

  • O dominó e a mentira

    Folha de São Paulo (São Paulo - SP) eJornal do Brasil (Rio de Janeiro - RJ) em, em 19/03/2004

    Tivemos, sem dúvida, com os tristes e trágicos episódios de Madri, em que morreram tantos inocentes e se perpetraram tantas crueldades, algumas lições. O terrorismo jamais dispensa alertas máximos; suas motivações políticas ou religiosas tendem a ser permanentes num mundo marcado pelo fanatismo e pelo confronto. Suas causas são difusas e variadas, seus efeitos são trágicos. Ele cria uma neurose do medo - para usar a definição consagrada-, que se propaga por todos os campos.

  • Como escrever com lupa e espingarda

    Folha de São Paulo (São Paulo) eJornal do Brasil (Rio de Janeiro) em, em 12/03/2004

    Muitas pessoas me perguntam quanto tempo se leva para escrever um artigo. Digo que depende. Primeiro, o tempo de procurar o tema que muitas vezes está à nossa frente, bem no nariz, e a gente não enxerga. Ele se esconde, e a procura é angustiante. Depois, há o tempo de falta mesmo de assunto, de vacas magras de fatos que esperam tratamento jornalístico. O cotidiano de jornal exige texto imediato. Sofrimento mesmo vive o cronista de cada dia, esse que tem de garimpar em pedra dura; e, se faz jornalismo de declaração, sem esta, tem que se socorrer da invenção e arriscar-se a suposições e versões.

  • Annus terribilis

    Jornal do Brasil (Rio de Janeiro - RJ) em, em 05/03/2004

    Os antigos e os poetas épicos falam na roda da fortuna, para marcar tempos bons alternados com os maus. Já a nossa rainha da Inglaterra, Elisabeth II, que os da nossa geração conhecemos mocinha, ao lado do pai, o rei Jorge VI, nas fotografias da Segunda Guerra Mundial, preferiu a expressão latina annus terribilis, quando acossada pelo fogo entrincheirado dos tablóides londrinos revelando histórias escandalosas da família real, tendo à frente os amores de Lady Di e seu marido, o herdeiro do trono, Charles, sem falar nas noras de topless que brilhavam, não de todo pelo que mostravam, e mais pelo que demonstravam.

  • Quaresma e bingo

    Jornal do Brasil (Rio de Janeiro - RJ) em, em 27/02/2004

    O Brasil está dividido em quatro estações: Carnaval, Semana Santa, São João e Natal. E ainda micaretas e campeonatos. Fora daí é procurar mudanças, dessas que equilibram o Cosmos, e não encontrá-las. No Nordeste, por exemplo, só existem inverno e verão. O tempo que chove - e às vezes nem isso ocorre - e o tempo que não chove, sol no sertão e, na costa, praia e maresia.

  • Carnaval, Caminha e mercado

    Jornal do Brasil (Rio de Janeiro - RJ) em, em 20/02/2004

    O Carnaval passa ao largo do mercado e da globalização, pois não depende deles. Se os bolsos ficarem vazios é a Bolsa que fica ameaçada. Carnaval não influencia a taxa de juros, não a baixa nem a sobe. Assim, nada de preocupações; que seja a alegria.

  • Garoa do meu São Paulo

    Jornal do Brasil (Rio de Janeiro - RJ) em, em 13/02/2004

    Como os paulistas, tenho as minhas nostalgias nestes 450 anos de São Paulo. Vi a cidade, pela primeira vez, em 1950, no Congresso da UNE, realizado no auditório do Hospital das Clínicas, quando os arranha-céus pipocavam e a velha vila de Piratininga procurava evitar sua morte nos espaços que se escondiam nos velhos bairros. Tive minhas noitadas de estudante na Major Sertório e experimentei o fascínio da visão vertical nos miradouros do alto dos prédios.Na minha cabeça estava a poesia do São Paulo da garoa, os versos da Paulicéia Desvairada de Mário de Andrade, memorizados quase todos.

  • O jogo das inverdades

    Jornal do Brasil (Rio de Janeiro) em, em 06/02/2004

    Estamos todos na simulação de que somos patetas, e não somos. Bush diz que fez a Guerra do Iraque porque a CIA lhe informou que o Iraque tinha um arsenal de máquinas mortíferas de guerra biológica, química e nuclear capaz de destruir o mundo. E tinha feito tudo isso às escondidas, sob embargo das Nações Unidas, privado de vender o seu petróleo. Vem o secretário Paul O'Neil, do Tesouro americano, que participava desde o início do governo Bush das reuniões mais fechadas, e diz que o presidente americano logo nos primeiros encontros disse que ia invadir o Iraque, o ''império do mal'', onde existia um demônio chamado Saddam que ''quis matar papai'' (palavras literais). Não falou em armas de destruição em massa nem nada. Era a simples vendeta texana.

  • Uma história de amor

    Jornal do Brasil - (Rio de Janeiro - RJ) em, em 23/01/2004

    Este espaço é dos leitores e do jornal. Não deve expressar sentimentos que possam parecer pessoais, por mais justificáveis que sejam. Mas o meu tema de hoje, embora pessoal, é daqueles que merecem uma meditação universal: a relação entre pais e filhos, os valores da família, o amor e a morte.

  • Uvas azedas ou amargas

    Jornal do Brasil - (Rio de Janeiro - RJ) em, em 16/01/2004

    A reunião da Cúpula das Américas deixou um saldo insosso. Tanto falaram em fugir da retórica latina que os americanos aderiram a ela. Esse formato nasceu há 15 anos, quando foi fundado, em Acapulco, o Grupo dos Oito, através do qual os principais países da América do Sul e o México se dispuseram a construir uma cúpula para acertar uma política presidencial conjunta, face a problemas como a Nicarágua vir a ser uma nova Cuba.

  • A boa discriminação

    Jornal do Brasil - (Rio de Janeiro - RJ) em, em 02/01/2004

    Há 200 anos, Toussain Louverture, Jean-Jacques Dessalines e Henri Christophe lideraram um acontecimento inédito na história: uma revolta de escravos que levou à independência do Haiti, o segundo país do Hemisfério Ocidental a livrar-se da condição de colônia, o primeiro país negro independente.

  • Saddam e Sofie

    Jornal do Brasil (Rio de Janeiro - RJ) em, em 19/12/2003

    A única coisa boa que podia acontecer na Guerra do Iraque aconteceu: a prisão de Saddam. Ele foi um ditador cruel, uma sanguinária presença, invadiu o Irã e o Kuwait, usou armas químicas contra os curdos e provocou um terror internacional ameaçando com armas de destruição em massa, que não tinha. Esse blefe foi argumento para a invasão do seu país. Assassinou adversários e fez expurgos entre seus próprios adeptos, com a liquidação até mesmo de membros de sua família, como os genros. Deve ser julgado pelos crimes que cometeu, para exemplo de todos os tiranos. Na minha cabeça não passa a pena de morte, pois contra ela sou contra.

  • Zoológico fantástico

    Jornal do Brasil (Rio de Janeiro - RJ) em, em 12/12/2003

    Com este tema, Jorge Luís Borges publicou um livro sensacional, que nada tem a ver com os bichos da terra. Eram os dele bem mais fascinantes do que os nossos.