
Cronistas e colunistas
[2]Leitores perguntam por que me considero "cronista" -e não "colunista"- dos jornais e revistas que me aturam há alguns anos de atividade profissional.
Leitores perguntam por que me considero "cronista" -e não "colunista"- dos jornais e revistas que me aturam há alguns anos de atividade profissional.
A ameaça que o novo presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas — o primeiro bancário a assumir o cargo —, fez ontem, em entrevista à “Folha”, de levar às ruas seus associados caso considerem que o julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal (STF) foi “político” e não “técnico”, é mais um dos vários movimentos de pressão que os petistas estão levando a cabo nos últimos meses.
Precisar, não precisava, mas o caso dos catadores de papelão em São Paulo Rejaniel Santos e Sandra Domingues, que encontraram R$ 20 mil em sacos plásticos atrás de uma árvore próxima ao viaduto onde dormem e procuraram a polícia para devolver o dinheiro, faz um contraponto poderoso ao senador Demóstenes Torres, que deve ser cassado hoje pelo Senado.
O ex-senador Demóstenes Torres já chegou nessa condição à tribuna do Senado quando fez sua defesa final antes da votação. O erro do site do Senado, que antecipou em algumas horas a cassação do senador, é um dos mais comuns em jornalismo, mas desta vez traduzia uma certeza interna.
A primeira e decisiva impressão que ficou no espírito do visitante, ao chegar ao concorrido Armazém n° 4 do Cais do Porto (Pier Mauá), foi a imensa fila dos jovens, com papeletas de "vale um livro", esperando a vez no stand "Mais Livros", da Imprensa Oficial do Estado do Rio de Janeiro. Era a "Semana de Arte" uma bela iniciativa do Secretário de Educação Wilson Risolia, para despertar o interesse dos jovens da rede pública para os atrativos da educação artística.
Um dos temas que mais me impressionaram quando na distante mocidade que passei num seminário foi o estudo da lei de causalidade nas aulas de lógica, tendo como base a tradicional doutrina aristotélica-tomista: posta a causa, posto o efeito; variada a causa, variado o efeito; "sublata causa, tollitur effectus", ou seja, suprimida a causa, acaba o efeito.
O caso do suplente do ex-senador Demóstenes Torres, que já chega ao Senado tendo que explicar seu relacionamento com o bicheiro Carlinhos Cachoeira e a ocultação de empresas em sua declaração de bens ao TSE, traz novamente à discussão um dos graves problemas da política brasileira.
Numa das sessões da Academia Brasileira de Letras (ABL), na hora do chá, tive uma boa conversa com o escritor Jorge Amado, que conhecia desde os meus tempos de Manchete. Ele costumava ceder à revista parte dos originais dos seus próximos livros, o que sempre se constituía em furos de reportagem. Na ABL, o tema era a televisão - e se adaptações feitas de obras literárias desfiguravam ou não o seu sentido. Ele simplificou o seu pensamento: “Cedo os direitos, mediante remuneração, e depois não quero nem ver o que fazem dele”. É curioso que Rachel de Queiroz, presente no papo, tinha esse mesmo pensamento. Hoje, quando a Gabriela volta a fazer sucesso, na TV Globo, com uma inspirada adaptação de Walcyr Carrasco, ele mesmo um grande escritor, o assunto volta à baila, na recordação do convívio acadêmico.
Diante da expectativa de mais um pibinho pela frente, a presidente Dilma Rousseff mudou da água para o vinho seu discurso econômico, passando a valorizar mais outras medidas que não a do Produto Interno Bruto, que até outro dia era festejado pelo governo como comprovação de que o país passara a ser a sexta economia do mundo, superando a Inglaterra e ameaçando a França, que está em quinto lugar.
De uns tempos para cá, é cada vez mais forte a tendência a não se ver o indivíduo como responsável pelos próprios atos. No terreno da ciência social esquerdoide, o sujeito é assaltante porque lhe faltaram oportunidades, não teve educação, vive numa sociedade consumista, foi vítima de bullying e mais quantos indicadores se concebam, em pesquisas cujos resultados são definidos pela própria formulação e, muitas vezes, não passam de manipulações pseudoestatísticas, destituídas de base sólida. Enxergam-se relações de causa e efeito inexistentes, que resistem até mesmo à óbvia verdade de que a ampla maioria dos que enfrentaram e enfrentam essas situações não é de delinquentes.
O Itamaraty realizou em 10 de julho mesa-redonda sobre a construção da paz no Oriente Médio, a partir do ângulo dos insumos criativos que a esse processo possam dar expoentes das comunidades de origem árabe e judaica de países do Mercosul. O chanceler Antonio Patriota teve a gentileza de me convidar para participar do debate, mas a ele não pude comparecer por estar no mesmo dia em Washington com o presidente Fernando Henrique Cardoso, que ali recebeu o prestigioso Prêmio Kluge. Mas gostaria de aqui registrar algumas reflexões sobre o tema, que são basicamente as que tive a oportunidade de transmitir ao chanceler.
Se fosse muçulmano, umbandista, técnico de futebol, comunista ou lixeiro, dom Eugenio Sales seria o que sempre foi: um homem reto, sincero, fiel a seus princípios e, sobretudo, humano. Acontece que foi sacerdote, bispo e cardeal. Sua trajetória tinha um ponto de referência lá em cima -no caso dele, o Deus no qual acreditava e a igreja à qual servia em tempo integral e em modo total.
O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, mesmo insistindo em dizer que seu PSD não é um partido linha auxiliar do governo federal, fez questão de dar, desde já, uma demonstração de lealdade ao projeto de reeleição da presidente Dilma com a intervenção no diretório municipal de Belo Horizonte.
Aprendi, não sei com quem, que não se deve dar dois tipos de chute: em despacho de macumba e em cachorro atropelado. Na realidade, nunca tive vontade nem oportunidade para chutar despachos com farofa e velas acesas, e muito menos chutar cachorros. Daí a maneira como fiquei sabendo de mais uma coisa inútil, entre outras tantas.
O mais importante do caso Demóstenes é de ser essa a segunda cassação em 188 anos do Senado na República. É o que mostra a solidez de dois componentes da cultura política brasileira, quais o uso das clientelas políticas na representação e, ao mesmo tempo, o sentido profundamente corporativo de seu exercício. A intangibilidade dos mandatários tomou-se regra interna, contornada pelos escassíssimos casos, também, de renúncia, muitas vezes com o cálculo de pronto regresso ao mandato.
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