O cérebro é que decreta a morte
Como todo mundo, choro pelas pessoas que morrem. Conforme envelheço, vou descobrindo que é por causa delas que sou apaixonado pelo mundo
Como todo mundo, choro pelas pessoas que morrem. Conforme envelheço, vou descobrindo que é por causa delas que sou apaixonado pelo mundo
O Brasil é hoje uma nação amorosa e romântica, reconhecida como tal em todo o mundo
Antigamente era o governo que indicava o filme nacional que ia competir como o melhor filme estrangeiro no Oscar americano. Conforme a época, isso era feito pela Embrafilme, pelo Ministério da Cultura e até mesmo pelo próprio Itamaraty. Mas nunca demos muita bola para o Oscar, que considerávamos uma premiação da e para a indústria de cinema americano.
No Brasil, o carnaval tem um papel fundamental nisso tudo. Sendo a mais importante data festiva no país, ele é também algo que está definitivamente ligado à sua vida social. Para o mundo todo o Brasil é “o país do carnaval”, e isso funciona um pouco como um passaporte para nossas manifestações de qualquer espécie.
A onda levantada hoje contra a inteligência artificial (IA), por físicos, matemáticos e mais gente da mídia, não me parece justa. O grande Noam Chomsky, por exemplo, chega a dizer que a IA representa uma ameaça direta ao pensamento, à linguagem e ao próprio humanismo. Logo ele, que nos tem ajudado tanto a compreender melhor nosso tempo, graças à linguagem e à melhor compreensão do que os poderosos desejam de nós.
Uma voz é como um instrumento musical, sua qualidade depende de quem a toca. Até a voz humana é tocada por alguém.
O filme é uma propaganda da gentil e democrática liberalidade dos EUA no cinema
O sucesso de Xuxa na televisão e no resto do Brasil corresponde, mais ou menos, ao tempo entre o fim da ditadura cívico-militar que começou em 1964 e a redemocratização em 1985, com a vitoriosa candidatura de Tancredo Neves à presidência. Esse é um período em que a população começa a abandonar a admiração pelo que os ditadores prometiam ao povo brasileiro no auge da implantação do regime de exceção.
Imagine a cena. Lady Gaga chega para ver a estreia de “Coringa”, um filme que já era um mito público, mesmo antes de ser feito. Devo dizer que não compactuei com o mito e, quando o filme foi realizado e distribuído pelo mundo afora, reagi irritado com seu despudor, sobretudo por causa do personagem principal, que justifica sua falta de caráter pelo modo com que é tratado pelos outros.
Eu tinha prometido a mim mesmo não falar mais de mortes, sobretudo as de gente de minha geração. Mas ela já está mesmo indo embora e, dessa vez, quem se encantou foi nosso grande José Celso Martinez Corrêa. Repito aqui o que o presidente Lula disse dele: “O Brasil se despede hoje de um dos maiores nomes da história do teatro brasileiro, um de nossos mais criativos artistas”.
Isso tudo se dá num momento em que se espalha pelo mundo um novo pensamento antinatalista, parte de ideias que correm por aí graças às desigualdades sociais, às lastimáveis diferenças entre países e à distância entre camadas distintas da população de cada um deles.
Não é que o Brasil esteja à nossa disposição. Mas vamos acreditar que podemos escolher o caminho. Aí, quem sabe, um dia chegaremos lá.
Foi essa literatura fora de época que construiu a alma de nosso país, como ela acabou sendo.
Conheci Jean-Luc Godard em Paris, quando o Cinema Novo começou a ser conhecido por lá e eu estava me escondendo da ditadura militar com Nara Leão, então minha esposa. Sem chamar a atenção de ninguém, ele me perguntava sempre que revolução desejávamos fazer com o cinema no Brasil. Bem informado, Godard sabia do que se passava no Brasil, tinha certeza de que o cinema não era a única coisa de que o país estava necessitado. E lembrava a população brasileira morta de fome.
Eu devia ter uns 13 para 14 anos de idade e tinha amigos que frequentavam o cinema brasileiro. Alguns, como eu, faziam isso quase que secretamente, para que não soubessem dessa fraqueza. Tinha vergonha do que se contava na tela, considerava tudo aquilo uma falta do que filmar, como havia eventual falta do que dizer ou fazer. Tinha vergonha dos roteiros cheios de furos, dos artistas em busca do que expressar, dos efeitos vagabundos, de tudo. Acho que foi por aí que me tornei cineasta, um cineasta brasileiro.