Portuguese English French German Italian Russian Spanish
Início > Noticias > ABL na mídia - O Globo - Cacá Diegues: 5 clássicos da MPB que têm as digitais do diretor de cinema

ABL na mídia - O Globo - Cacá Diegues: 5 clássicos da MPB que têm as digitais do diretor de cinema

 

A mesma paixão que nutria pelo cinema, o diretor Cacá Diegues (falecido esta sexta-feira, aos 84 anos) tinha pela música popular. Bem relacionado com a cena cultural brasileira, homem de ouvidos sempre abertos, ex-marido de Nara Leão e amigo de Chico Buarque (com os dois e mais Maria Bethânia, ele por sinal fez em 1972 o filme musical “Quando o Carnaval chegar”), Cacá sempre primou pela qualidade das trilhas sonoras de seus filmes.

E, não raro, a sua percepção em relação às canções que nasciam, ou as encomendas que fazia (a parceiros que, algumas vezes, nunca tinham trabalhado juntos) acabaram sendo responsáveis diretos por imortalizar pelo menos cinco canções da MPB.

“Nanã”

Certa noite, enquanto fazia um de seus passeios habituais pelo Parque Guinle, no bairro carioca de Laranjeiras, no Rio, o maestro pernambucano Moacir Santos descobriu, cantarolando, uma melodia que depois tocou algumas vezes, no clarinete, para seus parceiros Tom Jobim e Baden Powell. Numa dessas ocasiões, a cantora Nara Leão estava lá com seu futuro marido, Cacá Diegues. Ele adorou o que ouviu e pediu a Nara que gravasse a música — ainda sem letra — para seu filme “Ganga Zumba“, de 1964. Surgia um clássico da MPB, que, letrada posteriormente por Mário Telles, ganhou gravação de Wilson Simonal.

“Bye bye Brasil”

Para a canção-tema de seu filme de 1979, sobre uma caravana circense que atravessa o Norte e o Nordeste de um Brasil em fervilhante transformação, Cacá pediu que o bossanovista Roberto Menescal fizesse a música e Chico Buarque, a letra. Sem nunca terem trabalhado juntos antes, Menescal começou a trabalhar sua melodia após ter uma ideia num voo Rio-São Paulo e depois a entregou, pronta, a Chico, que se demorou tanto na letra — a história de um personagem que, por um telefone público, conta suas aventuras errantes para a namorada —que a canção só pôde ser acrescentada na mixagem final do filme. Como a quantidade de versos era muito maior do que o previsto, coube ao diretor fazer os cortes na música, que acabaria virando mais um clássico da MPB.

“Xica da Silva”

Em 2018, em entrevista a Pedro Bial, Cacá Diegues explicou como conseguiu convencer o então Jorge Ben (hoje, Jorge Ben Jor) a fazer a música-tema de “Xica da Silva” (1976), seu filme que revelaria a atriz Zezé Motta: “Quando estava quase no final do filme, marquei um encontro e fui à casa do Jorge. Quando cheguei lá, a mulher dele me disse que ele tinha ido para São Paulo por conta de uns compromissos. Procurei o meu amigo Roberto Menescal e ele me disse: 'Faz o seguinte: escreve uma carta e manda para ele, quem sabe através da carta ele te responda'. Mandei uma carta. Três dias depois chegou à minha casa uma fita cassete com a letra, que era a minha carta. E estava lá a música, essa maravilha que é 'Xica da Silva'.”

“A luz de Tieta”

Logo que a atriz Sônia Braga sugeriu uma adaptação cinematográfica do romance "Tieta do Agreste", de Jorge Amado, Cacá Diegues pensou em Caetano Veloso para fazer a música. Sem pestanejar, o baiano, aceitou a tarefa. "Logo pensei numa voz. Uma voz que várias vezes já tinha acompanhado a imagem de Sônia Braga em sucessivas adaptações de histórias de Jorge Amado, uma voz que, na verdade, já estava ligada ao cinema brasileiro desde 'Terra em transe' mas, sobretudo, uma voz que estava sempre comigo. A voz de Gal Costa", conta Caetano, que compôs “A luz de Tieta” e a cantou com Gal, em 1996. A canção ficou tão famosa que acabou chegando à Colômbia, onde, em 2005, um jornal acusou-a de "incluir referências" ao grupo terrorista espanhol ETA por causa do refão ("Eta, eta, eta, eta, é a lua, é o sol, é a luz de Tieta, eta, eta").

“Um trem para as estrelas”

Ao encomendar a canção-tema de seu filme de 1987, Cacá Diegues acabou sendo o responsável pela única parceria entre Gilberto Gil (que já havia feito a trilha sonora de "Quilombo", de 1984, longa anterior do cineasta) e Cazuza. Para ilustar musicalmente a odisseia de Vinícius/Vina (Guilherme Fontes) à procura de sua amada Eunice/Nicinha (Ana Beatriz Witgen) e a sus busca de sua consagração como músico, a dupla recorreu à metáfora do Cristo Redentor, cartão postal do Rio de Janeiro, para fazer uma crítica às desigualdades sociais da cidade e, por extensão, de todo o Brasil, de Norte a Sul. Cazuza regravou “Um trem para as estrelas” para o seu consagrado LP de 1988, “Ideologia”.

Matéria na íntegra: https://oglobo.globo.com/cultura/noticia/2025/02/15/caca-diegues-5-classicos-da-mpb-que-tem-as-digitais-do-diretor-de-cinema.ghtml

20/02/2025