Mesmo com uma inesperada recuperação de Haddad nos instantes finais da campanha, detectada pelo Datafolha mas não pelo Ibope, nada indica que o PT venha a recuperar-se. O mais provável é que tenha o pior desempenho desde 1996, elegendo menos prefeitos em centros relevantes do que naquela ocasião.
Quando o PT escolheu para candidato a prefeito de São Paulo Fernando Haddad, em 2012, Lula disse a Fernando Henrique que era uma tentativa de ter um candidato com jeito de tucano para ver se dava certo. Deu, em termos eleitorais, já que a avaliação do prefeito é das piores.
Agora, o candidato com menos cara de PT em todo o país pode dar um fôlego ao partido, se for para o segundo turno da eleição em São Paulo, embora esta possibilidade não seja uma certeza.
Continua muito difícil ganhar do tucano verdadeiro, João Dória – que, aliás, os próprios tucanos rejeitaram de início e agora, diante da probabilidade grande de vitória, foi incorporado ao clube –, que abriu uma grande distância para o segundo colocado, que tanto pode ser Russomano, quanto Haddad ou até mesmo Marta.
No Rio, o segundo turno virou uma loteria, com o bispo Crivela em queda e uma disputa acirrada para saber quem vai enfrenta-lo. Freixo, do PSOL, ganhou um fôlego com o debate da Rede Globo, e o candidato Pedro Paulo perdeu consistência no grupo de centro-direita. Índio da Costa do PSD, e Osório do PSDB, estão empatados com ele tecnicamente, mas apenas Índio tem condições de disputar com chances o segundo turno.
Os dois institutos que divulgaram pesquisas ontem, Datafolha e Ibope, mostram cenários díspares em São Paulo e semelhantes no Rio. O Ibope, que faz pesquisa domiciliar, constata que nada mudou do último debate, estando o governo da cidade de São Paulo entre Dória, que subiu, e Russomano, que conseguiu se manter em segundo apesar do assédio de Marta. Haddad, nesse caso, estaria alijado da disputa.
Já o Datafolha, que faz pesquisa de fluxo, ouvindo pessoas nas ruas nos grandes centros de confluência de público, captou uma subida forte de Haddad, que estaria empatado com Russomano, vindo Marta logo atrás. O voto útil em São Paulo vai ser para tirar o PT do segundo turno, e esse movimento pode favorecer Marta. Russomano vem em queda livre e pode mais uma vez dar uma de cavalo paraguaio.
Já no Rio, há indicações de que Freixo do PSOL subiu depois do último debate, mas Índio da Costa também se beneficiou com o debate, ficando tecnicamente empatado com Pedro Paulo, o candidato do prefeito Eduardo Paes. Simulações de segundo turno feitas pelos institutos mostram discrepâncias grandes: para o Ibope, Crivela vence todos os adversários, enquanto o Datafolha mostra Freixo e Índio disputando de igual para igual com Crivela.
O que parece inexorável é que Crivela no Rio vem perdendo fôlego, embora siga na frente. A soma dos votos de centro-direita – Pedro Paulo, Índio da Costa, Osório e Bolsonaro- supera os de Crivela, e os candidatos de esquerda não conseguem emparelhar com o candidato do bispo Macedo. A falta de identidade de Crivela, que tem assessores de esquerda e apoio da Igreja Universal, pode prejudica-lo no segundo turno.
Em São Paulo, ao contrário, o tucano João Dória só faz crescer, enquanto seus adversários ficam estacionados em patamar bastante inferior. Não há indicações de que algum deles tenha fôlego para ultrapassa-lo.
A análise no campo da esquerda é que o PT vive real declínio político-eleitoral, e o pleito municipal de hoje vai acentuar essa situação, confirmando sua transição para um partido que perde o voto de opinião dos grandes centros. Mas ainda tem uma poderosa máquina, e é um dos quatro maiores partidos do Brasil em termos de parlamentares e governantes (municipais, estaduais e noplano federal). Mantém alguma inserção em segmentos e movimentos populares e sindicais, embora, sem o aparelho do governo federal, perca potência.
A possibilidade de Fernando Haddad vir a disputar o segundo turno em São Paulo representa o escape de uma situação terminal do PT. Já o PSOL, que se pretende a alternativa ao PT, tem em Freixo sua aposta no Rio de Janeiro para colocar o partido no protagonismo partidário.