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Perdedores e vencedores

 

Se tudo acontecer como as pesquisas eleitorais indicam, as eleições municipais já têm um perdedor indiscutível, o PT, um vencedor provável, o governador de São Paulo Geraldo Alckmin, e um derrotado indireto, o governo Temer, que inventou Marta ex-Suplicy como candidata alternativa em São Paulo.

Sua queda deve-se mais às cinzas petistas do que à nova realidade peemedebista, embora seja mais fácil para ela atribui-la à “herança maldita” de Temer, com suas reformas impopulares anunciadas em meio a uma algaravia de desinformações.

Na verdade, poucos a identificam com o governo Temer, mas os antigos 30% de eleitorado petista estão hoje divididos entre o Psol de Erundina e a candidata do PMDB, que não conseguiu atrair a classe média para ampliar seu eleitorado.

O prefeito Fernando Haddad dificilmente conseguirá se recuperar da crise de sua própria gestão e de seu partido, perdendo eleitores na periferia para seus dois adversários mais bem colocados, João Dória e Celso Russomano.

O problema de Marta parece ser mais de inadaptação à sua nova posição no mercado eleitoral, uma questão de identidade. Já João Dória conseguiu encontrar o caminho do meio numa eleição que sempre foi polarizada na cidade de São Paulo entre direita e esquerda, ou o que sobrou delas, e tirou votos até do PT na periferia.

E não teve competidores num eleitorado de classe média que é antipetista, papel que Marta tentou assumir ao dizer que nunca foi de esquerda. O governador Geraldo Alckmin emergirá dessa eleição fortalecido dentro do PSDB, mesmo que o candidato tucano de Belo Horizonte, João Leite, confirme o favoritismo.

Alckmin inventou Dória, e Aécio Neves sairá vencedor com Leite, mas não a ponto de ser atribuída a ele a vitória. O que Aécio fez em Belo Horizonte é o que melhor sabe fazer: costurar alianças políticas. Após a eleição, os dois duelarão dentro de suas características, e terão também que se livrar de acusações que os perseguem, Aécio na Operação Lava Jato, Alckmin com as denúncias de corrupção em obras de governos tucanos em São Paulo.

De qualquer forma, tudo indica que o PSDB sairá fortalecido das eleições municipais, enquanto o PT sofrerá uma dura derrota. Só deve eleger um prefeito de capital, o de Rio Branco, e perderá a grande maioria dos prefeitos das cidades com mais de 200 mil habitantes. Deixará de ser o terceiro partido em prefeituras do país, com mais de 600, para começar praticamente do início.

PMDB e PSDB, que já eram os dois maiores partidos em termos de prefeituras, ganharão em número e qualitativamente, especialmente os tucanos em São Paulo.  No Rio de Janeiro, na reta final da eleição, a carta da religião está sendo jogada com toda a força contra a ascensão do bispo Crivela.

De um lado a Igreja Católica entrou na disputa para evitar ser usada por Crivela que, no afã de se blindar das críticas à Igreja Universal, anda distribuindo santinhos com uma foto sua e de D. Orani. De outro, os adversários que lutam entre si para chegar ao segundo turno tentam convencer o eleitorado de que a Igreja Universal está usando seus púlpitos como palanque. A internet está coalhada de vídeos de pastores da Universal pedindo aos fiéis que votem em Crivela.

A disputa pelo voto útil, tanto na esquerda quanto na centro-direita, terá um palco excelente no debate de hoje à noite na TV Globo, que se transformou no ponto crucial dessa campanha eleitioral para ver quem vai com Crivela para o segundo turno.

Na verdade, a divisão pode ser feita em três grupos: a turma do Prefeito Eduardo Paes, que apoia Pedro Paulo, a turma da esquerda, dividida entre Freixo e Jandira e lateralmente Molon, e a turma dissidente da Prefeitura, que luta contra os dois outros grupos, formada por Índio da Costa, Osório, e mais remotamente, Bolsonaro.

É uma eleição fundamental para o PMDB, que não quer perder a Prefeitura da segunda maior cidade do país para manter-se em condições de disputar a presidência da República em 2018. O prefeito Eduardo Paes é um coringa importante nesse jogo eleitoral, e tenta recuperar um prestígio político que se desgastou devido à crise financeira que atingiu o estado do Rio, também governado pelo PMDB, e a erros pessoais que deveriam ter sido evitados, a começar pela escolha de um candidato pesado pelas controvérsias.

Pode ser que a máquina política e a ainda bem avaliada gestão na Prefeitura levem Pedro Paulo ao segundo turno, mas a tarefa parece mais difícil do que imaginavam. 

O Globo, 29/09/2016