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Faltam líderes

 

 A atual crise brasileira revela uma aguda escassez de líderes com visão de longo prazo e capacidade de infundir confiança por meio do exemplo, problema que ainda vai perdurar por um longo período e promete ser um desafio para os eleitores nos próximos pleitos. A perda de legitimidade de políticos - independentemente de vinculações partidárias - se tornou endêmica.

Nomes antes promissores foram varridos do tabuleiro político, e não há no horizonte novos líderes despontando. Resolvi pedir ao economista Claudio Porto, presidente da consultoria Macroplan, especializada em planejamento e gestão e cenários prospectivos, uma avaliação sobre os governadores mais promissores em atividade, nomes que podem aparecer, a médio e longo prazos, como eventuais alternativas políticas.

A Macroplan acompanha há longo  tempo o desempenho de governantes, avaliando a qualidade da gestão pública no País, e tem uma visão detalhada de inovações em curso em governos estaduais. Porto confirma a sensação de ausência de lideranças no campo nacional, e de quadros que inspirem confiança para conduzir o País rumo a uma trajetória de crescimento sustentável no longo prazo, mas identifica gestores diferenciados que eventualmente poderão ocupar esse imenso espaço vazio.  

Para Porto, a grave crise econômica coloca em evidência aqueles que mais tem trabalhado no ajuste estrutural das finanças públicas sem comprometer as entregas de serviços e obras à sociedade. Dos três que ele destaca numa primeira leva, apenas o governo do Espírito Santo é seu cliente.

O governador Paulo Hartung, do PMDB, retornou ao cargo depois de um primeiro período de governo em que livrou o Espírito Santo do crime organizado e implantou um modelo de gestão política, estratégica e de austeridade fiscal reconhecido nacionalmente, especialmente pela capacidade de produzir respostas rápidas e em acordo com os demais poderes do estado capixaba.

Não foi à toa que o ministro da Fazenda Henrique Meirelles foi buscar em seu governo a Secretária do Tesouro, Ana Paula Vescovi, que era Secretária da Fazenda de Hartung. “Apesar do ambiente de escassez de recursos, o governo capixaba prestou os serviços de saúde, educação, segurança e assistência social sem nenhuma interrupção, pagou servidores e fornecedores em dia e terminou 2015 reequilibrado do ponto de vista fiscal, situação nada comparável aos déficits de 7,6 bilhões do Estado do Rio de Janeiro, 2,6 bilhões de Minas Gerais e 2,2 bilhões do Rio Grande do Sul” analisa Porto.

Ele destaca ainda o rigoroso ajuste de gastos de custeio feito por Hartung, com redução de cargos comissionados, renegociação de contratos de fornecimento e adequação dos investimentos à disponibilidade de recursos.

Outro que vem se destacando, na opinião da Macroplan, é o governador do Rio Grande do Sul, Ivo Sartori, também do PMDB. “Embora à primeira vista possam ser interpretadas como emergenciais ou  meramente pragmáticas por serem inevitáveis, as medidas do governador Sartori de disciplinar gastos revelam que ele esboça uma reação estrutural", analisa Claudio Porto.

Apoiado por uma coalizão empresarial e de lideranças civis, Sartori liderou a aprovação da primeira Lei de Responsabilidade Fiscal Estadual no país - que cria regras complementares à Lei Federal de 2000 - e tem o objetivo de restringir a concessão de reajustes salariais para outras administrações ou governantes pagarem, bem como limita contratações, criação de cargos e reajustes salariais se a despesa com pessoal ultrapassar o limite de 60% da receita. Há poucos dias  o governo do Rio Grande do Sul ingressou com uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) contra o reajuste dos salários dos servidores dos demais poderes do Rio Grande do Sul, aprovado pela Assembleia Legislativa.

O terceiro nome que se apresenta como contraponto ao desencanto com a política, na avaliação de Claudio Porto, é o do governador de Mato Grosso, Pedro Taques, cujo currículo chama a atenção. Procurador da República antes de eleger-se senador, em 2010, Taques, foi protagonista na prisão de empresários e políticos acusados de corrupção, entre os quais o ex-senador Jader Barbalho.

O ex-pedetista e hoje tucano engajou sua trajetória política em temas importantes, como o combate à corrupção, a elaboração do novo código de processo civil e, como governador, foi um dos mais firmes opositores à presidente Dilma. “No campo da gestão Taques tem atuado fortemente na costura de parcerias com a iniciativa privada, principalmente  no campo da Educação, fazendo entregas relevantes para a sociedade”, destaca Porto.

O Globo, 31/07/2016