A honestidade da presidente Dilma é o argumento mais usado contra o impeachment, e tornou-se comum a imagem de uma mulher honesta sendo sacrificada por um bando de políticos corruptos, a começar por Eduardo Cunha. Essa tese equivocada é apenas aparentemente correta, pois o impeachment não é um instrumento para punir apenas quem roubou dinheiro público em benefício próprio, mas uma penalidade administrativa para o dirigente que descumpriu a lei brasileira, no caso da presidente Dilma a Lei de Responsabilidade Fiscal.
Considerar “pedaladas” e decretos emitidos sem aprovação do Congresso que causaram rombo nas contas públicas crimes desimportantes, a não merecerem a aplicação da pena máxima da cassação do mandato presidencial, apenas evidencia a desimportância que os petistas e seus aliados dão ao equilíbrio fiscal, como se fosse tecnicalidade dispensável, ou simples pretexto para tirar a presidente Dilma do poder, uma mulher “que não roubou nem mesmo um grampeador”.
Mas a fama de “mulher honrada” que a presidente continua ostentando, avalizada até mesmo pelo principal líder oposicionista do país, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, precisa ser analisada com mais profundidade.
Pelas relações pessoais da presidente Dilma, e sua participação direta ou indireta em fatos controversos, nos quais tinha poder de mando, fica difícil manter a afirmação com tanta segurança. Além das “pedaladas” e a burla à Lei de Responsabilidade Fiscal que a estão levando ao impeachment, há denúncias de diversas fontes na Operação Lava-Jato de que seus principais assessores, como Giles Azevedo e Edinho Silva, achacavam as empreiteiras para financiamentos das campanhas presidenciais de 2010 e 2014 com dinheiro desviado da Petrobras.
Seu marqueteiro João Santana, preso, recebeu milhões de dólares em esquemas paralelos, de acordo com a delação de sua mulher Monica Moura. Acusados na Operação Lava-Jato de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) e o marido, Paulo Bernardo, ambos ex-ministros de Dilma, foram denunciados ontem ao Supremo Tribunal Federal (STF) pela Procuradoria-Geral da República, acusados de corrupção na Operação Lava-Jato.
Dias antes a Procuradoria-Geral da República denunciara ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) o governador petista de Minas, Fernando Pimentel, pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, na Operação Acrônimo, que investiga fatos relacionados a benefícios concedidos a empresas quando Pimentel era ministro do Desenvolvimento no primeiro governo Dilma.
O governador de Minas é ligado à presidente desde os tempos em que os dois participavam da luta armada contra a ditadura, na mesma organização. Outra amiga íntima da presidente Dilma, Erenice Guerra, que a substituiu no Gabinete Civil quando se candidatou a presidente em 2010, teve que deixar o ministério para não atrapalhar a campanha de Dilma, acusada na ocasião de tráfico de influência juntamente com dois filhos.
Hoje, está novamente acusada de envolvimento na Operação Zelotes, que investiga a venda de medidas provisórias para favorecer empresas, no caso a Caoa, representante da Hunday no país. No dia da posse de Dilma, Erenice estava entre as primeiras da fila de cumprimentos, e nunca deixou de estar ligada à presidente.
O senador Delcídio do Amaral, líder do governo Dilma no Senado, em sua delação premiada, acusou a presidente de ter tramado a soltura dos donos das empreiteiras Odebrecht e Andrade Gutierrez, nomeando para isso o ministro Marcelo Navarro para o STJ.
Essa denúncia, mais a nomeação do ex-presidente Lula para o Gabinete Civil, estão sendo investigadas num processo sobre obstrução da Justiça de que a presidente foi acusada pelo Procurador-Geral da República. Delcídio disse também que Dilma, à época presidente do Conselho de Administração da Petrobras, estava a par da compra da refinaria de Pasadena, nos EUA, uma operação superfaturada que deu enormes prejuízos à estatal, mas essa denúncia não será apurada no momento por que o fato aconteceu antes de Dilma assumir a presidência.
Por fim, o jornal Estado de S. Paulo informa que o ex-senador Gim Argello, outro político preso, de estreita relação com a presidente a ponto de passearem juntos com cachorros pelas cercanias do Palácio Alvorada, tentou convencer o químico Gilberto Chierice a montar uma sociedade para fabricar a chamada ‘pílula do câncer’.
Apesar do protesto da comunidade científica, pois a pílula não é aprovada cientificamente, a presidente Dilma Rousseff sancionou sem vetos sua produção.
A frase atribuída ao ditador romano Julio Cesar vem a calhar: “À mulher de Cesar não basta ser honesta, tem que parecer honesta”.