Para falar apenas de educação e cultura. Se os setores já enfrentavam dificuldades, imagina quando se fizerem sentir de fato os efeitos dos cortes anunciados agora para os orçamentos de 2015. Não queria estar no lugar do ministro Renato Janine, por exemplo, com toda a sua competência e boa vontade. Só em greve há os professores das redes estaduais de Pará, Santa Catarina, Paraná, Goiás, Sergipe e São Paulo — estes paralisados há mais de 70 dias. No Rio, a situação da Uerj é de conflito, com protestos dos alunos e ameaças de invasão do prédio da reitoria. “Acabou o amor. Isso aqui vai virar um inferno”, gritavam os estudantes. As hostilidades chegaram a um ponto que, temendo o pior, o reitor Ricardo Vieiralves suspendeu as aulas e fechou as portas da universidade.
Quanto à cultura, não apresenta pontos de convulsão como os da educação no Rio e em Curitiba, onde houve até confronto entre policiais e professores, com mais de 200 pessoas feridas. De qualquer maneira, há sinais preocupantes de insatisfação e perdas. Em SP, o governo Alckmin já tinha feito o dever de casa, cancelando projetos, suprimindo cargos comissionados e promovendo demissões em vários museus. Até a OS (Organização Social) Poiesis, que recebe verba do estado, fechou as sedes de seis das suas 21 Oficinas Culturais.
Como tucano, o governador arremessou a culpa para bem longe, para Brasília. Justificou-se assim: “Diante do cenário de deterioração da economia nacional, que é de conhecimento público e afeta todos os setores da sociedade brasileira, a Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo segue diretriz de qualificação dos gastos e otimização dos recursos”. No plano das iniciativas particulares, houve notícias desanimadoras como a do cancelamento, por falta de patrocínio, da Jornada Literária de Passo Fundo. “Estamos todos arrasados”, desabafou por e-mail uma escritora. “Perdemos nós, os estudantes, os professores e o país”. Antes, já tinha acontecido coisa parecida no Rio, com a Casa Daros, um belo espaço cultural que, depois de dois anos de funcionamento, vai encerrar suas atividades.
Imagina com os cortes.
A poeta americana Elizabeth Bishop tem sido muito citada por causa de sua frase “O Rio é o cenário para uma cidade maravilhosa, mas não é uma cidade maravilhosa”. Ao chegar, horrorizou-se: “É tudo desleixado, corrompido, tão sujo e desorganizado. O Rio me deprime”. Os que a citam, no entanto, esquecem de dizer que, tendo descido para uma escala, Elizabeth foi ficando por 15 anos seguidos (depois mais sete indo e vindo). Acabou confessando que a cidade que ela tanto odiou no começo ajudou-a “a sobreviver”. O Rio é assim: encanta, deprime, cativa, prende e não solta (a não ser os bandidos).