Parece que estávamos adivinhando. No lançamento do meu livro em São Paulo na segunda-feira, conversava com o Carlos Alberto Sardenberg sobre o sucesso que o presidente do Supremo, Joaquim Barbosa havia feito em Trancoso, no fim de semana anterior, aplaudido de pé durante vários minutos pela plateia do festival internacional de música.
Sua presença, aliada ao fato de que estava acompanhado de uma jovem namorada, foi o assunto dominante no fim de semana. Ontem, conversamos na CBN sobre a popularidade dos ministros do Supremo depois do julgamento do mensalão, e Sardenberg se preocupava com as consequências desses holofotes sobre o comportamento dos ministros, que por onde passam são objeto de homenagens pelos populares.
Analisei a questão por dois ângulos, um positivo, outro negativo: a confiança dos cidadãos no Supremo, e a possibilidade de um ministro se deslumbrar com a súbita fama e passar a dar mais atenção à opinião pública do que à letra fria da lei, como acusam os ministros de terem feito no julgamento do mensalão.
Não acredito que se os ministros do Supremo tivessem se reunido a portas fechadas, sem a televisão ao vivo e a cores, o resultado fosse diferente, isto é, não concordo com os que consideram que as condenações foram fruto de pressões da opinião pública sobre os ministros.
O fato de os ministros do Supremo estarem sendo vistos pela população como personagens importantes significa que a atuação deles no mensalão foi aprovada pela opinião pública, e é bom para a democracia que um dos poderes da República seja reconhecido como instrumento de fazer justiça.
O que seria ruim é se um dos ministros hoje em evidência passasse a exibir-se como se fosse celebridade, buscasse os holofotes. E mesmo se surgisse como candidato a algum cargo político, como se fala de Joaquim Barbosa para a Presidência da República e ou da ministra Eliana Calmon para governadora da Bahia.
Todas as atitudes que tomaram até hoje, e que contaram com o apoio da opinião pública na maioria das vezes, passariam a ser vistas como se tivessem sido geradas justamente com o objetivo de torná-los famosos e populares para que entrassem na política.
Com relação a Joaquim Barbosa, havia além das questões de saúde, seu temperamento irascível e a falta de tarimba política, que o tornam avesso aos acertos por baixo dos panos e incapaz de ouvir desaforo sem responder imediatamente, como vimos várias vezes no julgamento do mensalão.
Esses “defeitos” do ponto de vista da política tradicional podem torná-lo um candidato atraente para eleitores que já estão cansados dessa maneira de se fazer política, mas tornariam extremamente difíceis os acordos partidários que teria forçosamente de fazer. O destempero de ontem com um jornalista, a quem mandou “chafurdar no lixo”, é uma prova de que os holofotes estão sendo prejudiciais a Joaquim Barbosa. Se desculpar em seguida não apaga a ação.
Do dia 17 de março de 2012, quando dei a primeira notícia sobre a piora do estado de saúde do presidente venezuelano Hugo Chavez, até ontem, quando sua morte foi anunciada oficialmente, passou-se pouco menos de um ano. Como a eleição presidencial aconteceria em outubro, os prognósticos médicos eram de que provavelmente chegaria “na reta final em condições físicas muito difíceis para manter uma campanha eleitoral competitiva com candidatos da oposição unificada”.
Chavez, no entanto, conseguiu a duras penas, e provavelmente à custa de piorar sua saúde, participar da campanha e se reeleger, embora não tenha tido condições de assumir o cargo formalmente. O caso da doença do presidente venezuelano Hugo Chavez é exemplar dos transtornos que um regime quase ditatorial pode causar na sua tarefa cotidiana de esconder os fatos e manipular informações.
O Globo, 6/3/2013