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Xadrez paulista

 

A incapacidade do PSDB de definir seus rumos, empacado eternamente na disputa entre suas principais lideranças, tem sido muito discutida nos últimos dias, tanto por seus próprios membros, o mais destacado deles, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, quanto pelos analistas petistas ou ligados ao partido por interesses variados.

A disputa pela Prefeitura de São Paulo é o reflexo da disputa nacional, que continua sendo entre o PT e o PSDB, em que pese o aparente favoritismo do candidato petista, Fernando Haddad, tendo à frente o ex-presidente Lula, e a explícita fragilidade dos tucanos, que, como sempre, ainda esperam que o ex-governador José Serra se decida a entrar no ringue.

Acontece que, para se decidir a disputar a prefeitura paulistana, Serra tem antes que se decidir a abrir mão do sonho da Presidência da República, convencendo-se de que, desta vez, o candidato óbvio, como disse Fernando Henrique, é o senador Aécio Neves.

Serra até o momento está convencido de que a política brasileira é muito volúvel e que o jogo não está ainda jogado.

O que está em causa em São Paulo é um estilo de fazer política. O PSDB, com este mandato de Alckmin, estará no comando do estado por no mínimo 20 anos, e, mesmo sem nomes de destaque nacional para apresentar para a prefeitura - que desde 2004 está em poder dos tucanos ou de aliados como Kassab -, valoriza a fama de boa gestão pública e preservação da ordem.

O apoio maciço que o governo do estado tem recebido pela sua ação na Cracolândia demonstra que a população leva em conta esses valores.

O PT tem tentado estressar as divergências criticando ações do governo paulista em Pinheirinho, onde uma retomada de posse de um terreno invadido, determinada pela Justiça, foi taxada de "barbaridade" pela própria presidente Dilma.

A luta pela hegemonia na política de São Paulo tem a ver, sobretudo, com a disputa de 2014, quando a base paulista do PSDB estará representada pela tentativa de reeleição do governador Alckmin contra os novos quadros que o PT apresenta no reduto principal do adversário.

Uma derrota de Haddad na eleição da prefeitura paulistana será uma derrota de Lula e seu esquema político, e uma vitória, o primeiro passo para tirar os tucanos do poder estadual.

Aloizio Mercadante, nomeado recentemente para o Ministério da Educação, estaria sendo preparado para disputar o governo paulista em 2014, que ele já perdeu para Serra em 2006.

Na prefeitura, Haddad daria o apoio da máquina petista à campanha de governador de Mercadante, e a influência de Lula em São Paulo ganharia força política, confirmando as pesquisas que indicam que hoje Lula tem mais prestígio entre os paulistas do que jamais teve.

O PSDB está convencido, e Serra também, de que a alta rejeição que aparece nas pesquisas se deve ao receio que o cidadão comum tem de que o tucano novamente deixe a prefeitura para tentar a Presidência da República, como fez em 2006 para disputar e ganhar o governo do estado.

Caso se decida afinal pela disputa, ele teria que apoiar o candidato tucano Aécio Neves à Presidência, para colocar um final nessa angustiante disputa.

Serra encerraria sua carreira política na Prefeitura de São Paulo, o terceiro maior orçamento do país, e teria prestígio político para influenciar um eventual governo de Aécio. É uma opção que Serra prefere a ter que encerrar a vida política como senador.

Ao mesmo tempo, teria o apoio do prefeito Gilberto Kassab, restabelecendo um acordo político por ele firmado na sua sucessão na prefeitura.

Kassab, no momento, negocia uma aproximação com o PT na tentativa de não virar um saco de pancadas eleitoral durante a campanha.

Seu PSD encontra espaço em qualquer aliança, mas ele considera que nenhum dos candidatos tucanos que disputarão as prévias tem densidade política suficiente para ser cabeça de chapa.

Uma de suas alternativas é oferecer o vice-governador Afif Domingos como candidato a prefeito, com o apoio do PSDB, que daria o vice.

Mesmo que não se resolva desta vez a disputa tucana, com Serra insistindo em pagar para ver, na verdade o ex-governador mineiro só não será o candidato do PSDB à Presidência da República se não quiser, ou se for abatido por algum torpedo vindo do submundo da política.

Nos últimos dias, cresceu a boataria, ouvida até aqui em Paris, em torno de uma possível tendência de Aécio de não concorrer à Presidência em 2014, retornando a seu estado na qualidade novamente de candidato a governador, para reorganizar suas forças e disputar em 2018.

O lançamento de sua irmã Andrea Neves como eventual candidata teria o objetivo de segurar o lugar até que se decida a anunciar seu retorno a Minas.

A especulação é de que o recuo ocorrerá caso a presidente Dilma continue mantendo sua popularidade, e a economia se mostre robusta apesar da crise econômica internacional, o que a colocaria como favorita na corrida presidencial.

Em 2018, o PT não teria nem Lula nem Dilma como candidatos, e a disputa poderia ser mais favorável ao PSDB. Mas aí entra o xadrez paulista.

O governador Geraldo Alckmin, se reeleito em 2014, seria um candidato tão forte quanto o governador de Minas em 2018, e o mesmo impasse estaria formado.

Contra essa especulação, há um fato concreto: nunca o PSDB esteve tão unido em torno de um candidato, e o senador Aécio Neves tem um mandato de oito anos, que lhe permitiria até mesmo se lançar candidato à Presidência apenas para ficar conhecido nacionalmente, retornando ao Senado em caso de derrota.

O Globo, 8/2/2012