A desmoralização do ministro do Trabalho, Carlos Lupi, tem o efeito imediato de desmoralizar junto com ele o seu partido, o PDT, mas paradoxalmente não atinge, pelo menos até o momento, o prestígio da presidente Dilma junto à população, que não identifica nela o que ela realmente é: a única responsável pela indicação de um ministro desqualificado para seu governo e, mais que isso, pela sua manutenção no cargo, mesmo depois de ter mentido privadamente para a própria presidente e publicamente numa comissão do Congresso.
Fora as acusações de corrupção no ministério que, com a comprovação de que o próprio ministro viajou de carona com o presidente da ONG Pró-Cerrado, que tem contratos milionários com o Ministério do Trabalho, já envolvem Lupi diretamente.
Mesmo sem ter tomado a iniciativa de nenhuma das cinco demissões por corrupção - é interessante notar que o único caso em que a presidente assumiu a dianteira foi na única demissão que não teve nada com corrupção, a do ministro Nelson Jobim (Defesa), que fez críticas públicas a companheiros de governo -, a presidente Dilma vem recebendo por parte da opinião pública a responsabilidade por uma "faxina ética", que hoje está evidente que nunca existiu como projeto de governo, mas continua tendo seus efeitos políticos positivos para ela.
O problema que já começa a perturbar os partidos aliados é que essa sucessão de crises ministeriais, ao mesmo tempo em que aumenta estranhamente a popularidade de Dilma, aprofunda inversamente a descrença da população nos partidos políticos, que no final das contas são os únicos responsáveis, diante da opinião pública, pelos desvios de conduta, e também não recebem os bônus por eventuais programas de governo que deem certo. Nesses casos, é também a presidente Dilma que recebe o reconhecimento da população.
Como estamos em regime presidencialista, a responsabilidade por erros e acertos deveria ser da presidente, assim como a decisão de tirar ministro que ficasse inviabilizado, por qualquer motivo, de continuar no governo. Como vem ressaltando nos últimos dias o deputado do PDT Miro Teixeira, que dirigiu a pasta das Comunicações no primeiro ministério do governo Lula.
Até porque, em última instância, foi a presidente quem o escolheu para o ministério. Para os políticos sérios - que ainda os há -, está se tornando um péssimo negócio fazer parte do Ministério Dilma.
A não ser que ela, na reforma ministerial anunciada para o início do ano, resolva montar uma equipe de acordo com um programa de governo previamente negociado com os partidos políticos, num governo de verdadeira coalizão partidária.
O que temos hoje é um governo de cooptação, que se baseia em interesses outros que não os do país.
A propósito da coluna de domingo, "A moral do dinheiro", baseada em uma exposição que vi recentemente no Palazzo Strozzi, em Florença, sobre a influência do dinheiro no desenvolvimento das artes e a difícil relação entre a religião e os banqueiros, recebo do professor Luiz A. Correa do Lago, do Departamento de Economia da PUC-RJ, um lembrete sobre a exposição permanente de história da moeda metálica no Museu Histórico Nacional (MHN) "As moedas contam a História", da qual é curador.
Segundo ele, a exposição tem como objetivo retraçar as grandes linhas da História mundial entre 600 a.C e 2000 d.C., tendo por fio condutor a moeda metálica, com base em cerca de 2.600 moedas expostas em 19 vitrines, acompanhadas de mapas e de descrições das moedas.
Acompanham também cada vitrine, painéis com ilustrações da arte do período correspondente, emoldurando cronologias de História política e de História monetária, e "textos de bancada" vinculando cada moeda exposta ao seu contexto histórico.
Encontram-se expostas cerca de 140 moedas medievais (de c. 800 a 1460 d.C), desde os deniers dos carolíngios, incluindo o famoso florim de ouro de Florença, mas também um dos seus "rivais", o genovino, de ouro de Gênova, cuja cunhagem também se iniciou por volta de 1252.
Os mapas correspondentes mostram a grande expansão do comércio medieval, e as vitrines também contêm moedas de ouro de França, Portugal e Inglaterra que foram cunhadas principalmente a partir de meados do século XIV para atender a necessidades crescentes de pagamentos.
As ilustrações dos painéis incluem o Duomo de Florença, a pintura de Van Eyck do mercador e banqueiro italiano Arnolfini e pintura mostrando a distribuição de moedas aos pobres por religiosos.
Também é de interesse mencionar, ressalta o curador, que o painel relativo ao Renascimento da exposição do Museu Histórico Nacional contém a famosa pintura de Quentin Metsys, no Louvre, do "Banqueiro ou cambista e sua mulher", provavelmente de 1514, na qual se baseia a pintura de Marinus Van Reymerswaele com o mesmo tema (existindo também uma pintura de "Usurários" deste último no Louvre).
As 66 moedas relativas ao período 1460-1563 (fim do Concílio de Trento) na exposição do MHN incluem os famosos "testones" (com retratos fidedignos - abandonados após o período romano e novamente adotados nas moedas no Renascimento), notadamente dos Sforza de Milão, gravados por artistas de renome, além de outras moedas de notável valor artístico, incluindo excelente retrato de Carlos V, enquanto destaca-se pelo seu valor intrínseco o "português", então a maior moeda de ouro da Cristandade.
O professor Luiz A. Correa do Lago ressalta que "dados os cruzamentos" entre as duas exposições, apesar de atenderem a objetivos diferentes", achou interessante "assinalar que certos assuntos também podem ser acompanhados, pelo menos em parte, com base nos acervos de nossos museus, mesmo sem esperarmos dispor, por exemplo, do quadro original de Savonarola sendo queimado na Piazza della Signoria".