Uma jovem americana, Sarah Law Wu, tem o endereço @sarney no Twitter. Ela explica que é o apelido que lhe foi dado por sua avó, no Colorado, quando era menina -hoje tem 34 anos.
A maioria de seus seguidores é do Brasil, e ela tem se divertido com o contato com os brasileiros. Já veio ao país e adorou Fernando de Noronha.
Diz que gostaria de me conhecer. Afinal, somos parentes! O universo da internet fez aparecer para mim uma multidão de "parentes" mundo afora. Encontrei mais de 200 sites de Sarneys e um deles, da Austrália, enviou-me uma pergunta, por e-mail: como nossa família chegou ao Brasil. Tive vontade de responder que foi no primeiro ano do século 20, a bordo de um almanaque de remédios e curiosidades.
Quando fui presidente da República, como chacota, espalharam que meu nome vinha da ignorância do meu avô, que conhecendo um inglês chamado "Sir Ney", colocara o nome no filho. A verdade é que meu avô retirou o nome do "Almanaque de Bristol" de 1901, onde se conta a história de um menino, Sarney, que sabia a Bíblia de cor e era orador sacro aos 12 anos.
Fui, nos primeiros anos, Zequinha, mas logo todos me chamavam José do Sarney. Na onda de meus companheiros de literatura José Pinheiro Gomes, que mudou o nome para Bandeira Tribuzzi, e José Ribamar Ferreira, que passou a se chamar Ferreira Gullar, mudei o meu para José Sarney, incorporando o nome de meu pai.
Numa genealogia do "The Historical Research Center", se explica que o nome é "particularmente associado com o condado de Oxford, de onde vem a maioria de seus primeiros portadores".
A internet nos transforma em seres coletivos. Assim, eu vou encontrando Sarneys em todo lugar e em várias ocupações. Tornei-me, pelo nome, membro e pioneiro da família que se reúne no Google.
Entre os "parentes" que hoje encontro na internet há um americano aposentado na Inglaterra como "Chief Executive of the Inteligent Automation Division of Invensys plc", o dono de um canil em Rhode Island, um advogado especializado em acidentes pessoais do Colorado, uma física da Universidade de Maryland estudando "AIN bruto que seria adequado como substrato para o crescimento de filme de nitrito", um jogador de golfe da Nova Inglaterra, um ancestral nascido em 1556 no Gloucestershire, um jogador de futebol amador na Inglaterra, outro advogado, este especializado em patentes, em Nova York etc.
Hoje, nós, Sarneys, somos milhares mundo afora. Com essa imensa parentada, eu, do Bristol, fico pelo sangue da internet: Sarney Ponto Com.
Folha de São Paulo, 17/6/2011