Exemplo básico da falência de nosso sistema partidário é a posição atual do PT e PSDB, os dois partidos que predominavam na política brasileira nos últimos 25 anos e hoje correm o risco de não estarem nem no segundo turno. Curiosamente, tanto um quanto o outro estão revendo posições que os colocaram na liderança política do país.
O PSDB, embora envergonhado, volta a cobiçar como parceiro o velho MDB, com todos os seus vícios históricos. E o PT une-se ao PSOL, que nasceu da sua costela em 2005 por divergências programáticas e devido às acusações de corrupção.
O partido que havia procurado ampliar seu eleitorado indo da esquerda para o centro, e com isso elegendo Lula presidente em 2002, hoje volta às suas raízes radicais ao ter como uma possibilidade de aliança política o candidato do PSOL à presidência da República Guilherme Boulos, líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST).
De quebra, a aliança demonstra também que o PSOL, que se manteve em posição de independência durante os governos Lula e Dilma, não resiste à possibilidade de chegar ao poder central com Lula na cadeia, fora do páreo.
As denúncias de corrupção, que levaram vários de seus fundadores a sair do PT, são muito mais graves hoje, com o escândalo da Petrobras sendo desvendado pela Operação Lava Jato, do que na época do mensalão, que provocaram lágrimas de dissidentes petistas que saíram para entrar no PSOL.
O governo de Michel Temer em substituição ao da petista Dilma, impedida pelo Congresso, foi o detonador das alianças políticas que hoje marcam os dois antigos protagonistas da luta partidária no país.
O PSDB nasceu do PMDB por divergências políticas graves de grupos dissidentes, que não concordavam com a direção fisiológica do partido, liderado então pelo governador de São Paulo Orestes Qércia. Criado em 1988, chegaria ao poder em 1994 a bordo do Plano Real, com Fernando Henrique à frente do Ministério da Fazenda do governo Itamar Franco.
Já o PT, fundado em 1980, começou a ganhar corpo em prefeituras pelo país, chegou ao segundo turno da eleição de 1989 com Lula e ao poder em 2002, substituindo o PSDB.
O impeachment da então presidente Dilma fez com que os tucanos assegurassem a estabilidade política de Michel Temer, que assumiu o governo legitimamente. Mas a vida no poder, de onde estava afastado há 13 anos pelas vitórias sucessivas do PT, não deixou que os tucanos reagissem com firmeza à divulgação do áudio nada republicano da conversa do presidente Temer com o empresário Joesley Batista.
Até hoje está no governo, representado pelo senador Aluizio Nunes Ferreira no Ministério das Relações Exteriores, e o senador Aécio Neves, ex-presidente do partido acusado de corrupção e obstrução da Justiça no Supremo Tribunal Federal, é interlocutor direto do presidente.
O candidato do PSDB à presidência, Geraldo Alckmin, busca a todo custo o apoio do MDB à sua candidatura, que não decola. Um apoio envergonhado, é verdade, que não quer se expor à luz do sol, mas é considerado imprescindível.
Já o PT, atordoado pela prisão de Lula e sua inviabilização como candidato à presidência da República pela Lei da Ficha Limpa devido à condenação em segunda instância, busca apoios na esquerda extremista, que sempre foi sua caudatária. Em vez de impor o equilíbrio centrista que o levou ao poder, volta a ser o partido radical que nunca chegou ao poder, embora tivesse o apoio de cerca de 30% do eleitorado, o mesmo índice que hoje tem Lula nas pesquisas.
O PSOL é uma dissidência do PT. Nasceu quando grupos internos se opuseram à reforma da Previdência proposta pelo governo Lula em 2003. Fundado em julho de 2004, obteve registro no dia 15 de setembro de 2005, mesmo ano em que foi reforçado por outra leva de dissidentes petistas, que saíram do partido, em meio a choros e ranger de dentes, devido às denuncias de corrupção contra o governo Lula, que se transformaram no processo do mensalão.
O impeachment de Dilma aproximou os dois partidos por uma razão contrária à que aproximou novamente PSDB e MDB. Guilherme Boulos é um dos que tenta abocanhar parte da votação de Lula, mostrando-se um de seus mais fervorosos defensores. E Geraldo Alckmin, também à busca de votos do MDB, quer ser o representante do centro político.