O flagrante da mensagem do deputado petista Candido Vacarezza garantindo imunidade ao governador do Rio Sérgio Cabral é mais uma confirmação de que essa CPI do Cachoeira está se revelando o maior erro dos últimos tempos do grupo político que está no poder.
Convocada estranhamente pela maioria governista, a CPI tinha objetivos definidos pelo ex-presidente Lula e o ex-ministro José Dirceu: apanhar a oposição com a boca na botija nas figuras do senador Demóstenes Torres e do governador de Goiás Marconi Perillo, e desestabilizar o Procurador-Geral da República, Roberto Gurgel, responsável pela acusação dos mensaleiros no julgamento do Supremo Tribunal Federal.
De passagem, queriam certos petistas criminalizar a revista Veja para criar um clima político que favorecesse a aprovação de uma legislação de controle da mídia, como vem tentando sem sucesso desde o início do governo Lula.
Por enquanto está dando tudo errado. A tentativa de constranger os ministros do Supremo resultou numa reação do Judiciário, que se viu impelido a não deixar dúvidas sobre sua independência.
A vontade de procrastinar o julgamento, quem sabe deixando-o para o próximo ano, quando dois novos ministros estarão no plenário para substituir Cezar Peluso e Ayres Britto, ficou tão explícita que o revisor do processo, o ministro Ricardo Lewandowski, viu-se na obrigação de anunciar que pretende apresentar seu voto ainda no primeiro semestre, permitindo que o julgamento comece logo em seguida.
Até mesmo uma frase banal, que queria dizer outra coisa, teve o efeito de levantar suspeitas.
Quando Lewandowski disse que o julgamento ocorreria “ainda este ano” sabe-se agora que não estava pensando em outubro ou novembro, mas a partir de junho, como fez questão de esclarecer.
Com relação à imprensa, todos os esforços do senador Collor de Mello, o “laranja” da tramoia petista, têm sido em vão, e as relações do PT com o PMDB estão azedando, na definição de Vacarezza, por que o PMDB não está disposto a embarcar nessa aventura petista de tolher a liberdade de imprensa.
Por fim, a blindagem explícita do governador do Rio pode se transformar em uma faca de dois gumes, tornando inevitável sua convocação.
Começa amanhã em Shangai, e prossegue na quarta-feira em Beijing, uma série de debates sobre o papel contemporâneo da China no mundo multipolar que se desenha e, mais genericamente, o dos Brics nesse novo contexto internacional.
Brasil,Rússia, Índia, China e África do Sul formam o mais famoso acrônimo da política internacional e têm sua importância geopolítica crescente no rearranjo do poder global, especialmente depois da crise financeira de 2008 que continua afetando as principais economias do mundo, notadamente Estados Unidos e União Europeia, abrindo espaços para os países emergentes.
A Academia da Latinidade, que reúne intelectuais de diversas partes do mundo para promover a aproximação das culturas, está na origem dessa iniciativa, sob a coordenaçãodo cientista político brasileiro Cândido Mendes, seu secretário-geral.
A parte de Shangai se dedicará a debater as visões chinesa e latino-americana da modernidade, sob os auspícios do Instituto de Filosofia da Academia de Ciências Sociais de Shangai, e está dividida em dois segmentos, separados por uma palestra de Cândido Mendes sobre a emergência do Brasil dentre os Brics.
No primeiro segmento serão debatidas as nuances das várias modernidades globais, “luzes e sombras”, com palestras de Walter Mignolo, diretor do Centro de Estudos Globais e Humanidades da Universidade Duke, atualmente professor visitante da Universidade de Hong-Kong; Enrique Larreta, diretor do Instituto de Pluralismo Cultural da Universidade Cândido Mendes; Renato Janine Ribeiro, professor de Ética e Filosofia Política da Universidade de São Paulo. Eu participarei dessa parte falando sobre as relações da imprensa com o Estado no Brasil moderno.
O segundo segmento da mesa-redonda será sobre as conexões culturais em termos globais e suas importâncias nos contextos locais.
Javier Sanjinés, professor de Literatura latino-americana e de Estudos Culturais da Universidade de Michigan, falará sobre a cultura andina na fase pós-colonial; a cientista social Maria Isabel Mendes de Almeida, da PUC do Rio, falará sobre ajuventude urbana no Brasil; Claudia Amengual abordará o tema “cultura e apolítica da linguagem” e Gerardo Caetano, historiador e cientista político espanhol falará sobre a ideia de República na América Latina contemporânea.
De 23 a 25 a Academia da Latinidade promoverá em Beijing, com a cooperação da Universidade Tsinghua, sua XXV Conferência, desta vez centrada no tema “Humanidade e Diferença na Idade Global”.
Tendo a China como referência, o debate pretende aprofundar as discussões sobre a emergência do multiculturalismo no mundo contemporâneo, e a busca de um diálogo no limite da “guerra de religiões”, quando questões como os direitos humanos têm que ser discutidas além da visão de que eles representam uma “ideologia ocidental”.
A Academia da Latinidade trabalha em parceria com a ONU na Aliança das Civilizações – Candido Mendes é o embaixador brasileiro – e o ex-presidente de Portugal Jorge Sampaio, atualmente Alto Representante da ONU para a Aliançadas Civilizações enviou um vídeo especial para o encontro.
O encontro terá a participação de vários scholars chineses, como Si Han, especialista em História da Arte e Estudos Visuais, curador de Arte Chinesa no Museu de Estocolmo; Tong Shijun, Vice-Presidente da Academia de Ciências Sociais de Shangai; Wang Ning, professor de Literatura Comparada na Universidade Tsinghua; Xie Weihe, vice-presidente da Universidade Tsinghua.
Juntamente com intelectuais ocidentais como Gianni Vatimo, professor Emérito de Filosofia da Universidade de Turim: SusanBuck-Moors, cientista política da CUNY; Gilbert Hottois, professor de Filosofia Contemporânea na Universidade de Bruxelas; Daniel Innerarity, professor de filosofia política na Universidade do País Basco, debaterão temas comoTecnologia e a Civilização; Ocidentalismo e Pós-Ocidentalismo; Espaços de Diferenças.
O Globo, 20/5/2012