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Temer, Boulos e os sem-teto

 

Justiça seja feita. Mesmo sabendo, ou prevendo, que seria hostilizado, Temer, estando em SP, enfrentou o risco e não deixou de levar seu apoio às famílias das vítimas do desabamento do edifício Wilton Paes de Almeida, onde só não foi agredido fisicamente porque saiu às pressas, escoltado por seguranças.

Pode-se alegar que foi um gesto político. Provavelmente sim, porém melhor do que, por exemplo, o do pré-candidato do PSOL à Presidência da República, Guilherme Boulos, que se omitiu, preferindo permanecer em Curitiba para as manifestações em defesa de Lula.

Líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, se, em vez de enviar um vídeo, tivesse tomado um avião, teria ajudado a socorrer os desalojados e a desfazer a confusão que atribuía ao seu MTST a polêmica ocupação do prédio que desabou. Na verdade, a responsabilidade era de um certo Movimento de Luta Social por Moradia (MLSM), objeto de várias críticas de moradores, inclusive a de cobrar até R$ 400 de aluguel, além de condomínio e taxas de serviços inexistentes. “Fui expulsa há duas semanas porque atrasei R$ 100 dos R$ 300 que pagava pelo aluguel num prédio infestado de ratos e sem esgoto”, denunciou uma senhora.

Aliás, a quantidade de movimentos de sem-teto em SP revela que as ocupações de edifícios se transformaram num grande negócio (existe até um prometendo “moradia digna”). Não por acaso, a polícia paulista está investigando os fortes indícios de que a facção criminosa PCC usa ocupações como fachada para esconder armas, drogas e traficantes.

Já em 2016, agentes do departamento de narcotráfico encontraram fuzis, carabinas e drogas no prédio do Cine Marrocos, do Movimento dos Sem Teto de São Paulo, cujas três ocupações lhe rendiam cerca de R$ 60 mil mensais.

Esses grupos usam métodos parecidos com os das milícias cariocas. Comandam as operações, loteiam o espaço da maneira mais rentável e alugam para quem mal consegue pagar. No caso agora do imóvel do MLSM, cerca de 120 famílias (a R$ 400 por mês) viviam amontoadas irregularmente ali, segundo informações do Corpo de Bombeiros. “Eles brigam para tomar o melhor prédio e cobrar os alugueis mais caros”, informa um dos moradores.

Ao que se saiba, não surgiu denúncia contra o MTST de Boulos e, até por isso, o candidato do PSOL, que criticou tanto o descaso dos poderes públicos, poderia ajudar a polícia a desmantelar essa perversa máfia que, sob o disfarce de assistencialismo social, explora impiedosamente os que não têm onde morar.

O Globo, 05/05/2018