As pesquisas eleitorais mostram há mais de ano Lula e Bolsonaro nos primeiros lugares. Toda vez que o brasileiro votou em busca de um salvador da pátria, o resultado não foi bom.
Desde a redemocratização tivemos outros dois episódios assim: em 1989, quando venceu Collor, e em 2002, quando Lula foi eleito.
Assim como desta vez, o eleitorado naquelas ocasiões estava desanimado com as experiências anteriores, buscando soluções que pareciam fáceis, mas eram simplesmente ilusórias.
Em 1989, primeira eleição direta depois da redemocratização, o país vinha da frustração da morte de Tancredo, outro que parecia o salvador da pátria, mas não teve tempo de ser testado como tal, e buscou os extremos para encontrar a saída.
Foram para o segundo turno Collor, um populista de direita, contra Lula, um populista de esquerda, depois de uma campanha de muitas agressões mútuas e baixarias incríveis.
Ficou em terceiro o trabalhista Leonel Brizola, outro político de esquerda que morreu convencido de que foi roubado para que Lula fosse ao segundo turno, pois, conforme sua análise, era um candidato mais fácil de ser derrotado por Collor. Lula superou Brizola por 0,1% dos votos.
Lula já fez sua autocrítica, reconhecendo que seria uma tragédia se tivesse sido eleito naquela ocasião. Disse ele em 2010, num comício: “Hoje eu agradeço a Deus por não ter ganhado em 1989, porque eu era muito novo, muito mais radical do que eu era em 2002 e, portanto, eu poderia ter feito bobagem. Não bobagem porque eu quisesse fazer, mas pela impetuosidade, pela pressa de fazer as coisas”.
Collor não fez sua autocrítica, apenas lamentou que não soubesse interagir com o Congresso naquela ocasião como sabe agora, o que pode significar que teria antecipado já naquela época a metodologia que levou ao mensalão e ao petrolão.
Em 2002, depois de ter elegido Fernando Henrique Cardoso duas vezes no primeiro turno graças ao Plano Real, o eleitorado buscou Lula, o seu contrário.
A disputa entre PT e PSDB que há trinta anos domina a política brasileira começou em 1994, o fim da era dos tucanos deu início à dos petistas.
Lula, mais moderado depois de duas derrotas consecutivas, preparou-se para ampliar seu eleitorado, abrindo o discurso para a classe média e o mercado financeiro com a carta ao povo brasileiro, onde garantia, entre outras coisas, que não quebraria contratos e manteria os fundamentos da política econômica de seu antecessor.
Desiludido com as experiências anteriores, o eleitorado buscou no PT a política nova e a decência na disputa eleitoral que ele encarnava, sem que se desconfiasse de que o embrião da corrupção sistêmica do petismo já fora revelado nos governos municipais.
A revelação do mensalão, em 2005, e agora do petrolão, fez o PT e seu líder Lula voltarem a ser o partido radical que era em 1989. No governo Dilma, as idéias econômicas heterodoxas do PT, que acusara o Plano Real de ser um estelionato eleitoral, foram postas em prática através do que chamaram de “nova matriz econômica”, que provocou a maior recessão que o país já viveu, e uma legião de desempregados.
Agora, estamos diante de um novo quadro de desânimo nacional, descrença na classe política, e novamente o eleitorado parece buscar o salvador da pátria, o que, em vez de acabar com a inflação com um tiro só, promete resolver os problemas brasileiros a bala, ou aquele que reencarna o pai dos pobres.
O Lula radical de 1989 voltou em 2018 e, mesmo condenado e preso por comandar o maior esquema de corrupção já descoberto no país, é o favorito nas pesquisas, prometendo o retorno ao tempo em que, com o mundo prosperando como nunca antes se vira, conseguiu tirar milhões da pobreza.
Só que a mudança era apenas superficial, não das estruturas da economia brasileira, e na crise ocasionada por governo que o representava, devolveu a maioria à pobreza. Voltar aos bons tempos é um sonho que embala ainda 30% dos eleitores, que não desconfiam que esse é um sonho impossível.
Na outra extremidade do espectro político, surge Bolsonaro, que, assim como Lula em 1989, parece ser o novo na política. Só que mais destemperado e tão despreparado quanto. Se não houver uma mudança do eleitorado, Caminhamos para uma falsa solução populista, mais uma vez.