Mesmo sem fazer um necessário mea culpa pelos erros que cometeu em seu primeiro mandato, a presidente Dilma está cumprindo um papel relevante ao insistir no ajuste fiscal que tenta aprovar no Congresso: ela assim agindo desmoraliza a nova matriz econômica que tentou implantar com o auxílio do ministro Guido Mantega e aceita como verdadeira a tese de seus adversários políticos de que só com equilíbrio das contas públicas é possível fazer o país voltar a crescer.
Por seu turno, o ex-presidente Lula, ao insistir em uma guinada à esquerda na economia, aumentando os incentivos para o consumo, coloca em exposição pública suas muitas contradições, pois foi ele quem defendeu que o novo ministro da Fazenda fosse um executivo do tipo de Joaquim Levy, a quem já conhecia por ter sido Secretário do Tesouro na gestão de Antonio Palocci no ministério da Fazenda no seu primeiro mandato.
Como se sabe, ele mesmo adotou naquela ocasião um rigoroso ajuste fiscal para reequilibrar as contas públicas que se desarrumaram com a expectativa ruim que uma gestão petista gerava nos investidores.
Somente a partir de 2008, já tendo Guido Mantega no comando da economia, é que o então presidente Lula, devido à crise financeira internacional, se sentiu liberado para adotar medidas que seriam anticíclicas e, portanto, temporárias, mas tornaram-se permanentes, dando início à chamada “nova matriz econômica” que nos levou à bagunça em que nos encontramos, no feliz diagnóstico do jornal financeiro inglês Financial Times.
Ao comandar a pressão para que o governo Dilma assuma uma postura cada vez mais à esquerda, em busca de um desenvolvimentismo que não virá se as bases da economia não forem reorganizadas, o ex-presidente Lula mostra que na verdade procura uma justificativa junto às suas bases políticas para se distanciar das medidas duras que o governo terá que tomar para se salvar do caos que ele mesmo implantou.
Os movimentos sociais que pressionam Dilma para tirar o ministro Joaquim Levy da Fazenda, e procurar caminhos que já se mostraram ineficazes, na verdade estão em busca de uma saída revolucionária para a crise, enquanto Lula os incentiva tentando salvar a própria pele.
Por experiência própria ele sabe que, pelo menos neste momento, é impossível outra decisão que não o corte profundo na estrutura inchada do Estado brasileiro, para que ele caiba no tamanho de nossa economia.
A presidente Dilma, que é parte do grupo mais ideológico do lulopetismo, está tendo que admitir a falência de suas experiências populistas à frente do governo brasileiro, mas não tem credibilidade política para pedir sacrifícios ao povo.
Ela foi eleita vendendo aos eleitores uma situação econômica sem turbulências, e a garantia de que tudo continuaria como antes. A inflação, que garantia sob controle, está no dobro da meta, e só com um aumento da taxa de juros poderá ser domada a longo prazo, assim como o câmbio.
Os grupos esquerdistas que insistem em que ela repita a política de baixar os juros na marra parecem cegos às evidências de que essa tentativa deu com os burros n´água. Dilma vai fazendo seu mea culpa na prática, mas não encontra nem apoio político no Congresso, muito menos na população, que se sente enganada pela presidente, reeleita com um projeto e agora executa justamente o que acusava seus adversários de quererem fazer.
Admitir todos os seus erros e pedir desculpas já não possível à presidente Dilma, que dificilmente terá apoio no Congresso para aprovar o pacote de maldades que apresentou como a solução de nossos males. Especialmente por que baseia seu ajuste no aumento de impostos, evitando cortes mais profundos nos gastos populistas.