DOIS ASSUNTOS me despertaram especial atenção nesta semana. O primeiro é uma velha história cujo resultado já dissequei várias vezes. O fato de a Venezuela querer ser potência militar desencadeou duas conseqüências esperadas: 1º) Uma corrida armamentista, com o crescimento de 55% no orçamento militar da América do Sul, atingindo US$ 38,4 bilhões em 2007, dinheiro que tanta falta faz aos programas sociais; 2º) Os Estados Unidos não ficaram de braços cruzados e logo reativaram a sua Quarta Frota. Denunciei que isso iria acontecer. Anos atrás, Menem quis que a Argentina fosse associada da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Eu, à época, protestei e uma reação geral foi desencadeada, sepultando aquela aventura.
Agora, o presidente Chávez está na Rússia comprando submarinos e sistemas antiaéreos iguais aos que foram vendidos ao Irã. Já os americanos planejam como "cooperar em missões humanitárias" com nossos países, com porta-aviões, cruzadores e fragatas, mísseis e armas nucleares. O plano de Chávez nos jogou dentro da corrida armamentista e deu de mão beijada aos EUA a motivação para nos arrastar para o jogo da chamada segurança global. E agora ele resolveu oferecer o território da Venezuela para bases militares russas, uma reprise do que fez Cuba em 1962 e que quase levou a uma guerra nuclear, com a crise dos mísseis. Enquanto isso, na nossa segurança interna, em busca de preservar a Amazônia do desmatamento, o ministro do Meio Ambiente, o simpático Minc, determinou que bois criados em áreas desmatadas ilegalmente sejam apreendidos. Eu tenho um trauma com prender bois. No Plano Cruzado, quando faltou carne nos açougues, nossos técnicos acharam que a solução era prender boi no pasto e levar na marra para o frigorífico. Foi uma gozação danada, e os chargistas abusaram do meu bigode durante a apreensão dos bois. O tempo fez esquecer o episódio. Mas 20 anos depois, numa recepção em São Paulo no ano passado, um amigo meu aproximou-se e me disse: "Olha aquela senhora elegante ali, como está gesticulando e reclamando de você". Eu indaguei por quê. Ele me esclareceu que ela ainda estava irritada comigo e que dizia: "Foi ele quem mandou pegar meus bois no pasto em Mato Grosso".
Para completar, leio que os bois presos pelo Ibama não foram arrematados porque não tinham exame andrológico para testar a qualidade do sêmen. E o presidente da ONG Vitae Civilis sugere que, em vez de prender bois, conscientize-se o consumidor: "Se você está comendo um filé de boi criado em área desmatada da Amazônia, não é filé -é uma castanheira de 50 metros com 200 anos". Não coma castanheira, coma macarrão.
Folha de S. Paulo (SP) 25/7/2008