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Por que não levei a tocha

 

Hoje é o último sábado antes da Olimpíada, e a próxima semana vai ser de expectativa e apreensão, ainda mais que segunda-feira é dia 1º de agosto, o mês do... me aconselham a não escrever a palavra aziaga. A primeira página do jornal de ontem não foi nada animadora. Ficamos sabendo que mais de cem políticos vão ser delatados na Lava-Jato, inclusive dez governadores e ex. Que o país está quebrado. Que o Rio já ultrapassou o limite de gastos. Que um suspeito de terrorismo foi preso na Baixada. Que Lula está cada vez mais encrencado com a PF. Que o sistema de segurança no Estádio Olímpico do Engenhão é falho, entre outras más notícias. Diante disso, como não torcer para que pelo menos os Jogos Olímpicos deem certo? Há muito por fazer, mas quem nos animou brincando com nossa fama de deixar tudo para a última hora foi o presidente do Comitê Olímpico Internacional, Thomas Bach, da Alemanha, justamente um país previdente, que gosta de preparar tudo na primeira hora.

Muita coisa importante, porém, foi realizada com antecedência, como mostra um suplemento do jornal com dezenas de fotos das transformações por que passou o Rio nos últimos anos. Ali estão imagens da área de lazer para a população de Deodoro, do Parque Madureira, da Avenida Rodrigues Alves e Praça Mauá, símbolos da revitalização do Centro do Rio. Sem falar nos túneis, metrô, linhas de BRT, de VLT e nos dois admiráveis museus. Claro que não se deve deixar de cobrar a despoluição da Baía e outras providências indispensáveis, mas não é justo desqualificar o que de bom foi realizado. Só visitei a região que abrange o Centro e a Zona Portuária logo depois da implosão daquele horroroso elevado da Perimetral. Mas tenho ouvido a opinião de visitantes daqui e de fora sobre praticamente uma nova cidade. O último foi Verissimo, nosso parcimonioso cronista, cuja palavra vale por mil imagens. De volta da Praça Mauá, lhe perguntei o que tinha achado. Resposta: “Gostei (sem ponto de exclamação)”, o que equivale a um “gostei” meu com três exclamações.

Por que então você não quis carregar a tocha olímpica? Me perguntam. Explico. Quando recebi o honroso convite, pedi um tempo e fui saber se Alice e Eric, meus netos de 6 e 3 anos, gostariam de carregá-la comigo. Eles adoraram a ideia. Mas aí, quando fui correndo dar o sim, me informaram que, por compreensíveis razões de segurança, criança não podia participar do ritual. Por isso, desisti. Sem eles, para mim, não teria graça.

O Globo, 30/07/2016