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Para evitar a repetição

 

O vice-presidente Hamilton Mourão disse com razão que “essa conta” — do rompimento da barragem de Brumadinho — “não pode vir para nós porque assumimos faz 30 dias”. Aliás, o atual governo agiu com presteza e tomou logo as devidas providências, o que não foi feito por ocasião do desastre de Mariana, em 2015.

Em compensação, a tragédia serviu para desmentir a falsa imagem do país que Bolsonaro vendeu ao mundo em Davos. Observando agora pela televisão a devastação produzida pelo nosso tsunami de lama, a plateia que ouviu seu discurso não deve ter esquecido o nosso presidente encher o peito e desafiar: “Somos o país que mais preserva o meio ambiente”.

Não somos e estamos longe de ser. Segundo o Banco Mundial, ficamos atrás de 51 nações no ranking de áreas protegidas. Nem protegemos — a prova é o desmatamento da Amazônia — nem prevenimos: somos capazes de produzir duas catástrofes em cerca de três anos, uma pior do que a outra em termos humanos e ambientais.

O desassossego não termina, pode vir mais por aí. Um relatório da Agência Nacional de Águas (ANA) revelou que apenas 3% das 24.092 barragens cadastradas no país foram vistoriadas em 2017. O resultado é que há 723 estruturas classificadas como de risco e de potencial alto.

Tomara que esse choque de realidade, cujos efeitos Bolsonaro viu de perto, sirva para corrigir a política de afrouxamento da legislação ambiental que ele pretendia implantar. É pouco conhecida a palestra que, ainda candidato, ele fez para produtores rurais prometendo “segurar” as multas: “não vai ter um canalha de fiscal metendo a caneta em vocês”.

Na mesma ocasião, o presidente da UDR, Nabhan Garcia, convocou o amigo: “Quando você se tornar presidente, vê o que fará com essa gente da Funai, do Ibama, do Ministério Público, que não respeita a propriedade privada”.

Se houve algo de positivo na tragédia de Brumadinho foi a reação do Ibama, que, tão desprestigiado, surpreendeu, fazendo valer seu poder de fiscalizar e de punir. Seus fiscais “meteram a caneta” na Vale em R$ 250 milhões. É um bom remédio contra essa repetição de tragédias.

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Que o presidente volte logo à atividade.

O Globo, 30/01/2019