Chávez proibiu Papai Noel de entrar na Venezuela. É o que dizem os jornais. O argumento é que se trata de um agente americano disfarçado num velhinho de barbas brancas e cara de bondoso para matar os costumes populares venezuelanos, tão bem descritos por Rómulo Gallegos em sua espetacular obra, na qual recordo as coplas de Cantaclaro e a saga de Doña Bárbara, la bonguera.
Mas o diabo é que descobriram que Chávez não estava bem informado e o tal velhinho era natural da Turquia - São Nicolau, bispo de Mira, no século 4, que teve seus ossos levados para a Itália e passou a ser milagreiro das crianças em toda a Europa, cuja tradição e incorporação ao Natal tomou conta do mundo inteiro.
Enquanto isso nós recebemos aqui o gigante chinês, o Xi Shun, com 2,36 metros, com cara de bobo, desfilando para mostrar aos baixinhos que tamanho não é documento, pois o bichão é um feião danado. É um homem grande. Eu já vi aqui um grande homem, recebido pelo presidente Castelo Branco, em 1966, o general De Gaulle, e o nosso presidente chegava, em altura, ao bolso de sua túnica.
De homens grandes e de grandes homens se faz a história e o inusitado. O mais célebre dos gigantes foi Golias e caiu com uma pedrada do pequeno David. Dom Quixote tem uma iconografia sempre o representando muito esguio e alto, mas não me recordo ter lido em Cervantes nada sobre sua altura. Sansão também devia ser muito alto, mas na sua história se fala em ter sido forte, pois começa suas façanhas despedaçando um leão nas vinhas de Timnate, matando mil filisteus com uma queixada de um burro morto e termina seus dias abraçado a duas colunas de um palácio que, sacudidas, caem, matando nobreza e povo, mais de 30 mil.
Júpiter, o deus dos deuses, também não tem o tamanho de Xi e o monstro Adamastor, do nosso Camões, não sabemos se era ou não gente.
Alturas à parte, na eleição americana, no Arizona, fizeram um plebiscito para estabelecer o tamanho dos espaços que deviam ter as porcas prenhas, além das consultas sobre casamentos gays, cuja parada os rabinos ortodoxos israelenses não querem que seja feita em Tel-Aviv, pela acusação de profanação.
Enquanto isso a guerra de Gaza continua, Sadam é condenado à morte na véspera das eleições americanas, Papai Noel não pode ir em dezembro à Venezuela e o papai aqui está doido para este artigo chegar ao fim.
Chegou.
Jornal do Brasil (RJ) 10/11/2006