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Opinião: O jogo dos sete erros

 

O Oriente Médio toma uma direção nunca esperada por nenhum dos planejadores da Guerra do Iraque. Até hoje ninguém sabe exatamente as motivações que levaram ao conflito. Bush justificou-as como a necessidade de uma guerra contra o terrorismo, a existência de armas de destruição em massa, químicas, atômicas ou seja lá o que fosse. Essa versão não resistiu dois meses e restou a de que era mesmo uma birra de família porque - expressão do presidente dos EUA - "Saddam quis matar papai". A doutrina Rumsfeld da guerra preventiva também ruiu por terra porque, se a versão da existência das armas não era verdadeira, a tal prevenção também não era.


Hoje, o Iraque é um "callejón sin salida", presidido por Maliki, um presidente sem legitimidade que não tem poder nem competência para nada. O que continua valendo no Iraque é a força. O único resultado palpável é a prisão de Saddam e sua condenação à morte às vésperas das eleições parlamentares americanas. Aos leigos e desinformados, que constituem a humanidade inteira, ninguém sabe exatamente o que se objetivou com essa guerra.


O beco sem saída está armado. Os EUA não podem retirar as tropas porque seria uma guerra civil que já existe. Não podem mandar mais tropas porque elas não existem e a opinião pública americana não apóia. Não se pode ter nenhuma solução política, porque se o problema era o Iraque, hoje é o Líbano, é o Irã.


As únicas forças que apóiam o governo constituído do Iraque são duas: as baionetas americanas e o "Medhdi Army", de Moqtada Al-Sadr, e os contingentes de Abdul Aziz Hakim, um chefe de um tal Conselho Supremo da Revolução Islâmica.


O quadro real é um país dividido em três partes: a curda, a sunita e a xiita. O presidente xiita Maliki não reprime as forças de sua facção, que por sua vez inicia uma limpeza étnica nos sunitas de Saddam, que são minoria. Os curdos estão protegidos pela Força Multinacional e nunca estiveram tão bem tranqüilos naquela região. Os chefes sunitas, como o conhecido Harith Dari, são presos.


O que vai acontecer? Os americanos já gastaram US$ 3 trilhões nessa luta e ela não trouxe nenhum alívio à tensão internacional criada pelo terrorismo.


O mais provável é que este dinheiro tenha o resultado de dividir o Iraque em três, entregando-o aos xiitas que são 80% da população, aumentando o poder do Irã, cujos aiatolás estão lambendo os beiços de felicidade.


Enfim, no futuro, essa guerra não será dos Cem Anos nem do Golfo, mas dos Sete Erros.


Jornal do Brasil (RJ) 24/11/2006

Jornal do Brasil (RJ), 24/11/2006