ESTOCOLMO, Suécia. Estou aqui na reunião anual de ex-presidentes e chefes de governo para analisar a atual situação do mundo. A ela comparecem experts em todos os temas.
Abre a reunião uma brilhante dissertação de Hans Blix, aquele que fez o relatório dizendo não haver sido encontradas armas de destruição em massa no Iraque. Foi demitido, censurado, e depois confirmou-se que tudo o que ele afirmara era verdade. Digo-lhe que o mundo paga caro, e ainda vai pagar mais, por Bush fingir não ter acreditado em sua palavra e invadido o Iraque, com a única finalidade de matar Saddam Hussein. Nunca um assassinato planejado teve tantas repercussões. Mais barato -brinca um brasileiro que aqui reside, presente a sessão- teria sido contratar a máfia, já acostumada a essas atividades, para fazer o serviço sujo.
A discussão e a análise da situação do mundo são otimistas. Chega-se à conclusão de que as mudanças climáticas hoje são reconhecidas por todos como fato sem contestação. Não é mais divagação de ecologistas. O desenvolvimento científico continua em ritmo intenso nos transportes, comunicações, informática e economia. A expectativa de vida subirá mais, e a mortalidade infantil cairá. A corrida por recursos aumentará com o crescimento populacional. A democracia espalha-se. China e Índia são as vedetes, e não se sabe se o século 21 será de uma ou de outra.
No mais, são indagações: até quando vamos emitir gases que provocam o efeito estufa e ameaçam a vida na Terra? Como reduzir essas emissões? A busca de fontes alternativas de energia. O preço do petróleo. A corrida por armas nucleares -Coréia do Norte, Paquistão, Irã, Israel- comprometerá a segurança mundial? Como lidar com o terrorismo? É uma guerra ou é um crime? E como tal deve ser tratado? A crise dos alimentos, a crise dos mercados financeiros acompanhada da decência questionável de até onde vai a responsabilidade dos bancos na especulação. Será que as agências de risco também não devem ser reguladas?
São visões de uma face otimista e indagações pessimistas. Nesse balanço entram os Estados Unidos.
Até quando manterão a sua dívida pública de US$ 8 trilhões? Estarão os seus parceiros dispostos a financiá-la? Por quanto tempo agüentarão essa dívida? E aí entra o Brasil na cadeira das dúvidas sobre os biocombustíveis, o nosso álcool. Explico e defendo nosso programa. Álcool de cana não é álcool de milho. Digo que nosso país vai muito bem. Todos os números macroeconômicos são bons. Nossa imagem é excelente.
Faço uma ressalva: no Brasil, só não vai bem a seleção.
Folha de S. Paulo (SP) 27/6/2008