Sou dos que receberam a eleição de Obama como o surgimento de um novo e grande momento para a humanidade, mergulhada na pior crise dos últimos tempos. Sua mensagem despertou tanta confiança que não pode fracassar.
Mas confesso que alguns sinais que ele tem dado não me animaram. Primeiro, a inclusão forçada no discurso da vitória de um cachorrinho para suas filhas. Depois, o excesso de retórica com a eleitora mais velha dos Estados Unidos, gesto com cheiro de demagogia e comum nos populistas sul-americanos. E pior, a piada de mau gosto de não querer invocar as sessões espíritas de Nancy Reagan, viúva do presidente Reagan, para ouvir os conselhos de seu marido. E, se não bastasse isso, o grande problema de escolher num abrigo o cão para a Casa Branca, com as dificuldades da filha alérgica, que fosse um vira-lata “como eu”. Não era exatamente isso o que se esperava do presidente eleito.
Queremos um estadista, um homem de idéias que nos levem a afastar o desânimo e a imagem dos Estados Unidos neste momento tão crucial da história. Lembremos Kennedy com a política da Nova Fronteira, esperança, ideais, liderança.
Não estou desanimado, estou apenas estranhando essas pequenas coisas que podem significar e revelar grandes equívocos. A eleição de Obama foi não apenas a eleição de um orador brilhante, mas a certeza de um novo e grande líder. Os grandes líderes também fazem piadas, mas não começam com piadas.
Sabemos que os presidentes americanos têm gosto por cachorros. A começar por Washington, o primeiro, que tinha muitos e muitos cachorros, não um pet, mas hounds, que ele utilizava para a caça à raposa, velho hábito inglês a que se dedicava.
O cachorro presidencial mais famoso foi Fala, o terrier de estimação de Roosevelt, que foi acusado de tê-lo deixado nas Ilhas Aleutas e depois mandado um destróier buscá-lo, gastando milhões de dólares. A oposição bateu forte. Roosevelt então fez um famoso discurso dizendo que republicanos não se limitavam a atacar a sua família, a si, a seus filhos, mas agora tinham perdido toda a cabeça: “Incluíram meu pequeno cachorro Fala”. E acrescentou: “Estou acostumado a ouvir falsidades, mas estou ressentido com os ataques contra meu cachorro”. E fez mais a ironia de que Fala era escocês e levava essas coisas muito a sério. Truman recomendou a seus sucessores: “Se vocês quiserem um amigo em Washington, levem um cachorro”.
O mundo espera de Obama que não seja um vira-lata, mas o grande homem do nosso tempo, o estadista negro que nos devolveu a esperança.
O Estado do Maranhão (MA) 16/11/2008