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O susto de S. Sebastião

 

Não foi um drama, mas uma tragédia o que nos prometeu na entrevista Francisco Dornelles, esse mineiro habitualmente comedido.

A expressão grave do governador provisório na sua primeira entrevista à TV, esta semana, parecia a de quem ia anunciar o apocalipse. E era quase isso. Tudo bem que ele nunca foi um Cauã Reymond, mas nessa manhã, talvez por ter dormido mal, caprichou, e sua aparência lembrava, por contraste, a de Pezão, que naquela altura enfrentava um câncer linfático com otimismo e esperança. Nem a quimioterapia conseguira tirar o seu sorriso do caminho. Cheguei a admitir um absurdo — que o doutor Cláudio Domênico havia internado o governador errado. Eu fora visitar meu amigo Verissimo, que estava no mesmo hospital, e, como era também paciente do grande cardiologista, pensei em perguntar ao médico se ele não poderia apressar a alta do nosso mandatário para o bem do nosso astral, o que acabou acontecendo naturalmente, com ele deixando a clínica bem mais magro e abatido, mas se dizendo “com muita força e determinação”.

Não que, ao retomar o cargo de Francisco Dornelles, Pezão vá melhorar a crise de nossas finanças; não vai, mas talvez o anúncio do caos tivesse sido menos depressivo. Na entrevista, a repórter ainda tentou aliviar o clima pesado, abrindo uma fresta para a entrada de um pouco de ar fresco no ambiente. Conhecendo a trajetória do entrevistado, sobrinho de Tancredo Neves, cuja morte causou um dos maiores traumas coletivos no país, ela perguntou se ele não tinha vivido momentos mais difíceis. Dornelles admitiu o “grande desafio” que foi assumir o Ministério da Fazenda logo após o falecimento do tio, “mas tenho que confessar para você”, acrescentou, “que esta é a situação mais trágica no campo nacional e estadual que eu já vi em toda a minha carreira política”. Não foi um drama, mas uma tragédia o que nos prometeu esse mineiro habitualmente comedido.

Se até São Sebastião, nosso padroeiro zen, deve ter levado um susto, imagina os mais de 400 mil servidores que não sabem quando vão receber seus vencimentos.

DILMA VARGAS

Um observador político em Brasília tem uma interpretação para a manobra que, segundo rumores, o governo estaria articulando. Para se livrar do impeachment, a presidente estaria disposta a abrir mão do poder em troca de convocar eleições gerais, a serem realizadas em outubro, junto com as municipais. É uma hipótese tão remota quanto o exemplo que lhe estaria servindo de inspiração, de acordo com o informante. “Dilma quer ser Getúlio sem precisar suicidar-se; ou seja, ela pretende entrar na História sem sair da vida”.

O Globo, 02/04/2016