O candidato do PSDB à presidência, ex-governador paulista Geraldo Alckmin, vive um dilema que pode ser fundamental para sua campanha: aproximar-se do MDB para se beneficiar da máquina do governo federal, além da própria máquina partidária, com capilaridade pelo país, com a maior bancada de deputados federais da Câmara e maior número de prefeitos e vereadores, ou fugir como o diabo da cruz do contágio da impopularidade do governo de Michel Temer.
O PMDB é um fator decisivo na vida do PSDB, desde sua fundação em junho de 1988, fruto justamente de uma dissidência do PMDB, à época dominado por Orestes Quércia, governador de São Paulo, o principal expoente da ala fisiológica do partido.
Os tucanos hoje se encontram presos a uma contradição de sua própria história, pois não conseguem se desvencilhar de uma aliança carcomida com o PMDB, envolvido, como quase sempre, em acusações de corrupção e fisiologismo político, depois de ter vivido uma história de resistência e luta contra a ditadura em que políticos como Ulysses Guimarães e Tancredo Neves davam o tom do partido.
Foram eles que salvaram o partido da extinção, quando o regime militar exigiu que todas as agremiações politicas tivessem o nome começando por P de partido, para dar fim a sigla que já se identificava com a oposição da ditadura e com as reivindicações dos mais pobres. Servia de barriga de aluguem a diversos movimentos políticos banidos pela ditadura, inclusive o Partido Comunista.
Passou a chamar-se então Partido do Movimento Democrático Brasileiro. Agora, através de uma manobra vulgar, seus atuais dirigentes retiraram o P da legenda, para que voltasse a ser o antigo MDB, como se uma letra, que anteriormente foi útil para burlar uma proibição da ditadura, agora fosse capaz de limpar o seu nome, dando-lhe de volta a respeitabilidade que outrora teve.
PSDB e PMDB voltaram a se encontrar no impeachment da então presidente Dilma, mas os tucanos, que acertaram ao aderir ao governo legitimamente constituído pelo respeito à Constituição e que só chegou ao Palácio do Planalto por ter sido escolhido pelo PT para compor a chapa oficial, perdeu o “timing” de sair do governo quando revelou-se a gravação da conversa entre o presidente Michel Temer e Joesley Batista.
E pode morrer afogado, não com Temer, como se temia, mas por Temer e sua aliança de bastidores com o grupo do senador Aécio Neves, os dois pensando apenas em salvarem as próprias peles. Também o senador Aloysio Nunes Ferreira, um líder de peso no partido, manteve-se no cargo de ministro das Relações Exteriores.
O PMDB, depois de experiencias frustradas com candidaturas à presidência da República, a primeira em 1989 com Ulysses Guimarães que, cristianizado pelos companheiros, chegou em quinto lugar, atrás até mesmo de Enéas, e em 1994 com Orestes Quércia, que chegou em quarto lugar, decidiu não mais ser protagonista, passando a ser o coadjuvante que todos desejam. Ficou famoso nessa época o axioma que dizia que o PMDB não conseguia governar, mas nenhum partido poderia governar sem seu apoio.
Em 2010, para fazer sua sucessora Dilma, o ex-presidente achou mais prudente oficializar uma aliança que já vinha desde seu governo, mas de modo velado. A chegada ao poder de fato não fez bem ao PMDB, a ponto de hoje se falar que o partido é cobiçado por todos para namorar, mas ninguém quer casar.
Sua proximidade tornou-se tóxica, a tal ponto que o presidente Temer, que vive agora na televisão, para se defender de acusações ou para gestos populistas como o aumento da Bolsa Família em ano eleitoral, pensou até mesmo em candidatar-se ele mesmo à presidência da República, à falta de quem o defenda. Seguindo o conselho do ex-presidente José Sarney, que lhe disse que seu pior erro politico foi não ter tido um candidato para defendê-lo na campanha presidencial de 1989, em tantos aspectos tão parecida com a de hoje.
Aparentemente já desistiu, mas para apoiar o PSDB exige que Alckmin defenda seu legado, o que pode ser a pá de cal nas suas pretensões.