Em matéria de televisão educativa, o Brasil avançou em três direções distintas: fez a modelar TV Escolar de São Luís do Maranhão, com apoio do então governador José Sarney, e assim ofereceu oportunidades de estudo a jovens que não conheciam o ginásio, na ocasião; criou a TV Educativa, no Rio de Janeiro, primeiro entregue aos cuidados de Gilson Amado, que chegou até a produzir novelas didáticas, como João da Silva, além de ter recebido no Japão o Prêmio NHK (medalha da ouro) com o programa Patati-Patatá, em parceria com a Secretaria de Estado de Educação e Cultura; e, no Governo Abreu Sodré, em São Paulo, instalou a TV Cultura, que conheceu tempos gloriosos, com a sua programação jornalística e o famoso “Castelo Rá-Tim-Bum”. Hoje, repete programas diversas vezes e pede emprestado a outras emissoras alguns “escolhos” para encher o tempo.
Haverá uma eleição em breve para escolher o novo presidente da TV Cultura, a mais forte delas todas, inclusive pela penetração nacional. Espera-se que novos ventos soprem na direção da emissora, como seria o caso se o eleito fosse o deputado Marcos Mendonça, que, como Secretário de Cultura, além de ter criado uma boa lei de incentivos, somou outros feitos em sua biografia, como a Pinacoteca, Teatro São Pedro, Osesp, Sala São Paulo, Escola Tom Jobim de Música, Projeto Guri, etc. Um homem talhado para a necessária renovação da Fundação Padre Anchieta e que conta com a simpatia do Governo do Estado, o que é essencial para a liberação de verbas indispensáveis à operação da emissora.
A manifestação de Silvio de Abreu, talentoso autor da TV Globo, é um sinal claro do que deseja a classe artística. Confessa ele, como é natural, que gostou muito do projeto de retorno da teledramaturgia, “pois foi na época que a TV Cultura mantinha programas do gênero que muitos atores, escritores, diretores e cenógrafos tiveram a oportunidade de exercitar seu talento para depois engrandecer o teatro, o cinema e a televisão do Brasil.” Sílvio recordou as experiências vividas no Teatro 2 e no Telecurso, na esperança de uma programação alternativa de qualidade.
Como se sabe, a área da cultura sobrevive, em muitos estados, graças ao apoio financeiro dos cofres públicos. Mesmo assim, não deixa de ter um enorme valor econômico, de que é a melhor prova o que ocorre nos países desenvolvidos. Lembro de uma cena que vivi em Helsinki. Um ministro da Finlândia contou-nos que o latim é ministrado por intermédio de emissoras de rádio que cobrem todo o País. Quando perguntei a razão, a resposta veio pronta: “A Finlândia tem compromisso com a cultura clássica.”
Aqui, com o que temos compromisso? Com as baixarias da TV privada (com exceções) ou com a desídia com que são tratadas as estações educativo-culturais? Uma experiência bem-sucedida depende de uma orientação capaz e com os recursos financeiros mínimos para a execução do projeto. É o que vislumbramos na perspectiva de Marcos Mendonça assumir o comando da Fundação Anchieta.
Jornal do Commercio (Rio de Janeiro - RJ) em 12/04/2004