A tal "narrativa" que os que ainda apoiam o governo de Dilma Rousseff tentam estabelecer como verdade, de que o impeachment a ser votado no Congresso é um golpe judicial, sem tanques nas ruas, não tem encontrado muita receptividade fora do próprio círculo dos convertidos que, por interesses pessoais ou para não dar o braço a torcer no plano ideológico, continuam insistindo em que o PT representa uma solução para os mais pobres, e por isso deve-se fechar os olhos para os “mal-feitos”.
O artificialismo com que foi criada a rede de proteção social do petismo está sendo demonstrado pela triste realidade, consequência de uma política econômica desastrosa, e o que parecia ser uma solução milagrosa para reduzir a desigualdade não passava de um conjunto de ações populistas que não mudaram estruturalmente as condições do país, apenas mascararam nossa tragédia social.
O decano do Supremo Tribunal Federal, ministro Celso de Mello, foi o terceiro ministro em seguida a desmistificar a tese de que o impeachment é um golpe contra a presidente Dilma. Antes dele, os ministros Dias Toffoli e Carmem Lucia já haviam se manifestado na mesma direção.
"O impeachment, numa situação dessa, é um instrumento legítimo, pelo qual se objetiva viabilizar a responsabilização política de qualquer presidente da República. Não importa quem seja, não importa qual o partido político a que essa pessoa seja filiada”, afirmou Celso de Mello, que, perguntado, disse que o Juiz Sérgio Moro vem trabalhando corretamente e que a Lava Jato tem por objetivo "expurgar a corrupção que tomou conta do governo e de grandes grupos empresariais”.
Também o ex-ministro do STF Eros Grau assinou uma carta para ser juntada à manifestação de advogados e juristas favoráveis ao impeachment de Dilma em que afirma que "quem não é criminoso enfrenta com dignidade o devido processo legal". "(...) O delinquente faz de tudo procurando escapar do julgamento. Apenas o delinquente esbraveja, grita”. " (...) A simples adoção desse comportamento evidencia delinquência".
Parece não estar surtindo efeito, da mesma maneira, a ideia do golpe nos mecanismos regionais, apesar da tentativa de levar o Mercosul e a Unasul a fazerem pronunciamentos contra um suposto golpe de estado. Apenas os bolivarianos Maduro da Venezuela, Morales da Bolívia e Correa do Equador entraram nessa campanha.
Ontem, o Washington Post fez um editorial pedindo a renúncia de Dilma, afirmando que ela está levando o Brasil ao precipício. O The New York Times já havia dito, também em editorial, que a explicação sobre o convite para que o ex-presidente Lula integrasse o seu ministério havia sido “ridícula”, e que a intenção era mesmo proteger o ex-presidente de uma condenação em instâncias inferiores da justiça brasileira.
Com a mesma interpretação, só que com rigor maior na análise, a revista britânica The Economist pediu a renúncia da presidente brasileira, afirmando que o convite a Lula denunciava uma clara obstrução da justiça.
Na falta de melhores argumentos, jornalistas chapa-branca, muitos deles sustentados por verbas publicitárias governamentais, apelam para a desgastada teoria da conspiração internacional contra nossas riquezas naturais.
Nessa versão fantasiosamente ridícula, o Juiz Sérgio Moro e o procurador Delton Dallagnol, por terem estudados em universidades dos Estados Unidos, seriam instrumentos da CIA para a derrubada do governo popular e entrega do pré-sal à sanha das grandes empresas petrolíferas internacionais.
Sem se preocuparem, sequer, com a destruição da Petrobras para alimentar bolsos particulares e projetos de poder político, que, essa sim, poderia bem ser atribuída a uma traição nacional
Trata-se, convenhamos, de uma narrativa tão antiquada quanto ridícula, que só mesmo de má fé, ou por ignorância, é possível aceitar.