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Não precisamos do planetário?

 

As dificuldades econômicas do Rio de Janeiro parece que não têm limites. Há um atraso crônico no pagamento de salários, o que causa enormes embaraços ao funcionalismo ativo e inativo, e agora um fato novo se soma a esse vexame: a tentativa de leiloar o planetário, que presta inestimáveis serviços sobretudo à população jovem do nosso Estado e particularmente ao município.

Como secretário de Estado de Ciência e Tecnologia, o primeiro do nosso país, no período 1968/1971, obtive do MEC o equipamento Zeiss do planetário, que valia na época em torno de 250 mil dólares. Fui ao governador Negrão de Lima, com esse trunfo na mão, e pedi os recursos para construir a obra. Ele cedeu 3 milhões de reais, que transferi à Secretaria de Obras, para que o lindo projeto dos irmãos Renato e Ricardo Menescal pudesse ser executado na Gávea, numa área que pertencia à Cehab, ao lado da PUC.

Quando houve a fusão do Rio com o Estado do Rio, foi transferida a posse do planetário (inaugurado em 1970) para a prefeitura, por motivos operacionais. E agora surge essa novidade de leilão, para pagamento de uma dívida trabalhista. São várias ações e a Justiça não tem contemplação com o que representa aquele espaço em termos de atividade cultural. O prefeito Marcelo Crivela conseguiu adiar um pouco essa tragédia, promovendo o tombamento da área. Mas isso não impede que o leilão possa ocorrer mais tarde. Algo inimaginável numa cidade civilizada, como se presume seja o Rio.

A cidade durou muitos anos para ter um planetário decente. Ele projeta 5 mil estrelas num céu artificial e permite grandes atividades em favor da ciência. Já imaginaram a vergonha de destruir o local, para pagamento de dívidas, e tudo por culpa de falhas lamentáveis na administração pública? Temos que construir outros espaços igualmente importantes e não acabar com os existentes, ainda mais numa cidade que se orgulha de ser a capital cultural do país. Não se pode conceber que os destroços de governos incompetentes e desonestos atinjam nosso patrimônio cultural.

Bem andou o ex-prefeito César Maia quando desdobrou o planetário, fazendo outra sede na zona oeste do Rio. É isso que deve ser feito, dando oportunidades de acesso ao conhecimento a todos os jovens da nossa cidade. Mas ele não destruiu o planetário original, que permaneceu no local em que o construí e inaugurei, no dia do aniversário do filho do então ministro Jarbas Passarinho, a quem desejei homenagear pela cessão do equipamento, feita pelo MEC.

Vamos torcer para que esse anúncio de tragédia seja superado e a garotada possa continuar em paz a assistir aos seus programas de astronomia. Na verdade, o Rio merece um pouco de sossego nessa sucessão de más notícias com que temos sido aquinhoados.

Diário do amanhã (GO), 10/05/2017