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Leituras

 

A leitura é uma defesa do infinito
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Talvez por emprestar rostos, vozes e paisagens, a leitura lança uma hipoteca sobre nossa vida.
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Para Schlegel, trata-se de uma prática infinita, que se desdo- bra em formas infinitamente potenciais.
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Leitura: círculo hermenêutico permeável, que jamais se fecha. 
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A arte da memória nutre-se da arte do esquecimento. Sem isso, não há espaço de leitura. Como disse Agostinho, lembra- -se da memória de esquecer.
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Impossível elidir a memória transversal da leitura. Memória inerente que se nutre de três perguntas: onde, quando e como? 
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Inversão. Não leio Dostoievski. Não leio Graciliano. Pelo sim- ples fato de que ambos me leem quando sigo os rastros de Míchkin e Fabiano.
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Máquina do tempo. Silêncio ruidoso. Leitura fantasmal. Os vivos seguem mortos. E os mortos, vivos.
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Segundo Eco, a intenção tripartite: autor, texto e leitor. Não um triângulo equilátero, mas uma espiral logarítmica.
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O coral dos leitores, atravessando séculos, amplia a música feroz das batalhas de Homero.
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Ninguém entra duas vezes no mesmo livro. Talvez não se efeti- ve sequer uma só vez.

Revista Humanitas, 10/12/2020