O sucesso ou fracasso do governo Temer dependerá rigorosamente dos ajustes econômicos que permitam ao país retomar minimamente o crescimento em 2018. Esta é a ideia central para a qual convergem as opiniões dos entrevistados de uma pesquisa feita pela consultoria Macroplan, especializada em estratégia e cenários futuros, sobre expectativas do desempenho do governo provisório.
Na sondagem realizada entre os dias 13 e 19 de maio junto a uma amostra de 82 empresários, executivos, economistas, cientistas políticos, gestores públicos e jornalistas de todas as regiões do país, foi solicitada a avaliação de quatro cenários plausíveis, alicerçadas na evolução das votações da admissibilidade do impeachment nas duas casas do Congresso e nos primeiros movimentos do novo Governo. São eles:
FRACASSO TOTAL: O governo transitório de Temer não dá certo e Dilma retorna à Presidência. (7% )
FRACASSO PARCIAL: Dilma é afastada definitivamente, mas o governo Temer “patina”, só consegue realizar os ajustes econômicos parciais e não conquista a confiança do mercado. O quadro econômico mantém-se adverso e seu governo mergulha num processo de “sarneyzação”. (29%)
SUCESSO PARCIAL: Dilma é afastada definitivamente. O governo Temer realiza os ajustes econômicos emergenciais. Emplaca agenda mínima de reformas. Conquista a confiança do mercado, o ciclo econômico ajuda e o Brasil volta a crescer moderadamente em 2018. (49%)
SUCESSO AMPLO: Dilma é afastada definitivamente. O governo Temer realiza os ajustes econômicos e políticos essenciais e inicia um vigoroso ciclo de reformas. Conquista a confiança do mercado, o ciclo econômico ajuda e o Brasil volta a crescer fortemente em 2018. (15%)
O resultado da pesquisa revelou que há razões de sobra para o otimismo. “Apesar de ainda restar um elevado nível de incerteza quanto ao desdobramento desta crise, há uma expectativa positiva dominante”, analisa o presidente da Macroplan, Claudio Porto.
De acordo com a sondagem, 64% dos entrevistados apostam em um cenário de sucesso (parcial ou amplo), contra 36% com prognóstico negativo, uma proporção de quase 2 por 1 (1,78 por 1 para ser preciso).
A expectativa mais frequente (48% dos entrevistados) indica um otimismo moderado e “sucesso parcial” do Governo Temer.
Neste cenário, o Brasil sai da “UTI econômica”, realiza algumas reformas e retoma algum crescimento a partir de 2018. É um cenário que sugere a superação da fase mais aguda da crise, mas não o encaminhamento da solução de todos ou dos maiores obstáculos estruturais a um novo ciclo de crescimento sustentado, provavelmente em face das resistências políticas a medidas mais drásticas e/ou ao significativo passivo de problemas econômicos herdados da gestão anterior.
Já a chance de sucesso total do governo Temer alcança 16% da média das probabilidades. Neste cenário o Brasil não apenas sai da “UTI econômica”, mas também viabiliza os ajustes econômicos e políticos essenciais, e dá partida a um vigoroso ciclo de reformas, que melhora muito o clima econômico.
Esta mudança, em combinação virtuosa com a reversão do ciclo econômico, levaria o Brasil a retomar um crescimento forte a partir de 2018. Na sondagem da Macroplan, contudo, fica evidente que as expectativas negativas não podem ser desprezadas: 36% acreditam que o Governo Temer fracassará total ou parcialmente.
Entre os pessimistas, 30% sinalizam que o governo Temer somente logrará ajustes econômicos pontuais e, consequentemente, perderá a confiança dos mercados, e experimentará um progressivo processo de “sarneyzação”, ou uma espécie de “reedição do Levy” e do “pós-Levy”, com o governo acumulando derrotas no Legislativo e enfrentando uma progressiva deterioração de expectativas dos agentes econômicos.
Finalmente, o cenário menos provável é o de retorno de Dilma Roussef à Presidência da República, movida por um fracasso amplo do governo interino de Temer: a probabilidade atribuída a este cenário é de apenas 6%. “Hoje, para a quase totalidade dos analistas, este é um cenário implausível. Mas a boa prática de análise prospectiva recomenda que não façamos o seu descarte imediato", recomenda Claudio Porto, ressaltando que o principal fator de incerteza a considerar é a evolução da “Lava Jato” que adiciona um elevado nível imprevisibilidade à conjuntura político-institucional e mesmo criminal nesta “arena”.