O Brasil está encarando uma segunda onda da COVID-19 sob a influência quase criminosa da postura do presidente Bolsonaro, que continua não usando máscara, cumprimentando seus admiradores como se não houvesse mais pandemia, provocando aglomerações sem respeitar o distanciamento social.
Além disso, não temos plano de vacinação nacional, e nem mesmo vacinas para uma tarefa tão gigantesca quanto a de vacinar um país de mais de 200 milhões de habitantes. Como o próprio presidente é contrário à vacina, agora ele inventou que o cidadão terá que assinar um termo de responsabilidade para ser vacinado, o que é um absurdo legal, pois a responsabilidade por ações de saúde publica como a vacinação em massa é do Governo Federal.
Assim como está acontecendo nos Estados Unidos, onde, depois do Thanksgiving, houve uma explosão de infecções pelo coronavírus e um crescimento exponencial do número de mortes, que pode chegar a 300 mil em breve, caminhamos para o mesmo precipício no Natal e no Réveillon.
O governo americano pelo menos tentou, mas não teve sucesso, segurar a massa de pessoas que tradicionalmente se deslocam para seus estados para comemorar com a família a festa nacional mais tradicional do país, como se fosse o Natal entre nós.
Mas o vírus ainda está em circulação, e causou um estrago entre os americanos. Estamos diante do mesmo panorama, e nas festas do Natal e do réveillon o temor é que haja uma explosão de casos. O ministério da Saúde se exime de qualquer ação de cunho nacional, alegando que o Supremo Tribunal Federal (STF) delegou aos Estados as políticas públicas relativas ao controle da pandemia.
Muitos prefeitos e governadores estão tentando controlar a disseminação do vírus proibindo festas no réveillon e reduzindo o horário de funcionamento dos bares e restaurantes. Alguns, como o prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil, tomaram providências para impedir aglomerações no Natal e no Ano Novo, e governadores, como o petista Rui Costa, estão impondo uma série de restrições para evitar que o vírus se espalhe durante as festas de fim de ano.
Outros prefeitos, como o do Rio, Marcelo Crivella, no entanto, estão autorizando festas, como as nos quiosques das praias, e havia até mesmo a ideia de realizar shows na orla na noite do dia 31, com palanques para shows na praia, mas sem a presença de público. A irresponsabilidade foi cancelada, e haverá shows transmitidos por um sistema de plataformas digitais e um canal de televisão da Prefeitura.
A prefeitura do Rio tem que cair em si, cancelar as festas nos quiosques, e fechar a orla. Os quiosques já estão vendendo convites, e são centenas de pessoas em cada um deles. E para completar, o presidente da República dá um péssimo exemplo, aparecendo sem máscaras, cumprimentando todos. Num país como o nosso, o presidente, por pior que seja, tem uma imagem popular e, nas regiões menos favorecidas, as pessoas absorvem muito o que ele faz. Então é uma situação trágica.
Ainda os militares
A formatura dos novos delegados da Polícia Federal na segunda-feira trouxe mais uma vez a marca da politização das forças policiais, assim como já existe esse movimento nas Forças Armadas. Os novos integrantes da Polícia Federal, que é um órgão de Estado e tem autonomia, prestaram homenagens a Bolsonaro além do que seria razoável, aclamando-o com os gritos de “mito”, como nos tempos da campanha eleitoral.
O presidente Bolsonaro cultiva desde seu primeiro dia de governo as festas de formaturas das Forças Armadas, e das forças policiais auxiliares, as trata como se comícios fossem. A absorção de oficiais das três Armas no serviço público vem subindo, notadamente no Exército, que tem a maior parte dos 3144 militares em postos nos diversos escalões.
Bolsonaro tem o reconhecimento dos militares pelas melhorias que concedeu, e é também muito sujeito às suas reivindicações. Um exemplo claro é o tratamento preferencial que deu a eles na reforma da Previdência. No caso do decreto sobre o qual escrevi ontem, o presidente Bolsonaro revogou a alteração que fizera, cancelando as promoções por antiguidade, justamente por pressão de seus pares, contrariando a diretriz do ministério da Defesa, que gostaria que os últimos postos da carreira - coronéis do Exército e da Aeronáutica e Capitães de Mar e Guerra - só fossem atingidos por merecimento.